Autônomos relatam dificuldade em manter preços justos durante pandemia em Blumenau

Artistas e prestadores de serviço, mesmo mantendo atendimento, sentiram dificuldade para cobrar clientes

Quem atua prestando serviços de forma autônoma conhece a dificuldade de definir uma tabela de preços. Durante uma pandemia que afetou toda a população financeiramente, esse problema apenas aumentou. Especialmente para quem não exerce uma função considerada essencial pela legislação, a preocupação de manter um valor justo para os clientes foi intensa neste período.

A blumenauense Sarah Rayssa tornou a arte o seu ganha-pão em 2019. Logo no ano seguinte viu sua fonte de renda se esgotar. Ela acabou reinventando seu trabalho, atuando em outras frentes e reforçando a presença nas redes sociais.

Porém, diferente de outros artistas, ela aproveitou o momento de reflexão para repensar seus preços e passou a cobrar mais. “A arte é essencial nesses tempos que estamos vivendo. Música, filmes, séries, livros, tirinhas, obras de arte… Mas as pessoas não valorizam como tal”, defende.

Saurópodes, como ficou conhecida no meio artístico, também explica que além de ter sido afetada financeiramente, a saúde mental dela também foi abalada. Dessa forma, o ritmo de produtividade e a criatividade dela – essencial para a produção – caíram.

Sarah precisou buscar outras atividades para manter seu trabalho. Foto: Arquivo pessoal

A jovem então decidiu investir no sonho de ser ilustradora de livros infantis, começou a entrar em contato com editoras e começou a vender camisetas em parceria com o companheiro, que também é artista.

“As feirinhas e exposições presenciais fizeram muita falta na pandemia. Esses eventos eram o nosso brilho e esperança como artista. Precisei ser mais atenta, fazer cursos, estudar mais para me manter”, conta.

Recomeçando do zero

A cabeleireira Fernanda Nasário precisou recomeçar a carreira durante a pandemia. Apesar de atuar desde os 14 ao lado da mãe e ter pagado a faculdade de Moda com o trabalho, acabou focando na área há cerca de quatro anos.

Poucos dias antes do fechamento dos serviços não essenciais em Blumenau, ela foi desligada do salão que trabalhava na rua Antônio da Veiga. Fernanda voltou a trabalhar com a mãe, onde começou, e criou um Instagram para divulgar o trabalho após uma sugestão da irmã.

“Além de ter que conquistar clientes novos, tive que lidar com o fechamento do comércio. Isso afetou muito meu crescimento profissional. Precisei organizar muito minhas finanças e percebi como era importante ter uma reserva, pois como autônoma não tenho nenhuma segurança”, desabafa.

Imagem feita antes da pandemia. Foto: Arquivo pessoal

Compreendendo que a área da beleza não é prioridade das pessoas em momentos de crise, especialmente pelo fato de muitos estarem dentro de casa e não indo a eventos, a cabeleireira buscou ser o mais justa possível com os preços cobrados. Mesmo com o valor dos produtos subindo.

“Quando voltamos a trabalhar, as clientes tinham medo de ir no salão. Muitas das mulheres que atendi estavam em home office, mas queriam mexer no cabelo para melhorar a auto estima”, relata Fernanda.

Tatuadora alugou espaço dias antes de precisar fechar

Envolvida com arte desde criança e com carreira na área têxtil, Bruna Alves Benassi começou a trabalhar profissionalmente como tatuadora em 2016. Porém, no fim de 2019 decidiu dar uma pausa no ofício para cuidar da saúde mental.

Ao retornar, em março de 2020, ela conseguiu realizar um único atendimento antes do início das medidas restritivas no estado. Ela tinha acabado de alugar um novo espaço e não tinha dinheiro em caixa para se manter sem trabalhar.

“Como minha renda vem toda da tatuagem, me vi sem nada. Tive que remarcar todos os clientes agendados. Foi um baque. Passei aqueles dias com o dinheiro daquele único atendimento até os decretos se ajustarem”, relembra.

Porém, ao retomar o serviço, a demanda aumentou. Interessados de todo o estado e de fora do Sul do Brasil procuraram Bruna. Ainda assim, ela optou por atender um cliente por dia para garantir as medidas sanitárias.

Tatuagens feitas por Bruna na última semana. Foto: @brunart.tattoo/Instagram

A maior dificuldade foi lidar com o aumento dos preços dos materiais. A caixa de luvas que ela costumava pagar R$ 38 foi para R$ 100. As tintas e cartuchos de agulhas importados também subiram.

“O valor da montagem da minha bancada subiu. Sendo assim, o valor do atendimento subiu. Passei isso aos meus clientes sabendo que os materiais que estão sendo usados são de ótima qualidade e o serviço prestado também”, garante.

Há um mês ela alugou um novo espaço, ainda maior, e já atendeu até mesmo uma brasileira que atualmente mora na Dinamarca. De passagem por Blumenau, ela procurou Bruna para tatuar antes de voltar para a Escandinávia.

“Levando em consideração todo contexto do início da pandemia, tinha tudo para não dar certo. Mas nesse um ano me reergui. O único sentimento que tenho é gratidão, porque sei que muitas pessoas e comércios tiveram dificuldade”, agradece.

Arquivo pessoal

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