Bebê que teve a cabeça cortada durante parto em Joinville retorna ao hospital

Pontos acabaram abrindo, mas família já conseguiu voltar para casa

O bebê que sofreu um corte na cabeça durante o parto em Joinville precisou ser levado às pressas para o hospital novamente após os pontos romperem. De acordo com a família, que já retornou para casa, pode ser necessário voltar para o hospital. Entretanto, a preocupação maior é com a evolução da menina, já que algumas sequelas podem ser percebidas apenas quando ela completar 3 anos.

O incidente ocorreu no dia 14 de julho, quando a mãe, moradora de Araquari, passou por um parto de emergência na Maternidade Darcy Vargas. Após o nascimento da criança, foi informada de que o bebê sofreu um corte na região da moleira, mas que dois pontos seriam suficientes para fechar a ferida e receberam alta.

Entretanto, no dia 28 de julho, o bebê precisou passar por uma cirurgia de emergência, pois o corte era mais profundo do que a médica responsável pelo parto teria informado. A criança estava com uma infecção, que poderia chegar ao cérebro.

Segundo a advogada da família, Stephanie Corazza, a cirurgia era considerada de alto risco e ainda não tem como saber as sequelas do corte. O procedimento foi realizado no Hospital Infantil de Joinville, onde o bebê ficou internado. Conforme o relato da advogada, a mãe recebeu encaminhamento para o hospital após buscar atendimento no posto de saúde de Araquari.

Relato da mãe

“Meu sonho era ser mãe, mas virou um pesadelo. Era para eu estar em casa com a minha filha, eu quase perdi ela por causa de um erro médico”, diz a mãe, que teve seu nome preservado.

A gestação era de risco e a criança nasceu de 26 semanas, às 17h39. Por conta da pressão alta, a mãe passou mal durante o parto e não se recorda de muitos detalhes. “Quando eu acordei, já estava em outra sala. Em nenhum momento alguém da equipe médica veio conversar comigo sobre”, relata a mulher.

Quem viu o corte foi o pai da criança, que encaminhou uma foto para a avó do bebê. Foi por meio dela que a mãe da criança descobriu sobre o corte e questionou a equipe médica. “Eles passaram e mostraram a minha filha, mas eu só pude pegar ela no colo depois que eles deram os pontos na cabeça dela”, conta. Os pontos foram feitos no início e no final do corte.

O motivo apresentado, segundo a mãe, foi que o erro médico aconteceu porque o útero dela estava duro. “Eles mandaram ela para o quarto, mas começou a vazar um líquido. Disseram que era normal”, conta. Ela também alega que em nenhum momento rasparam a cabeça da criança para realizar o procedimento.

Após alguns dias, ainda conforme a mãe, médicos do Hospital Infantil descobriram que o líquido expelido era da espinha, conhecido como líquido cefalorraquidiano (LCR), produzido pelo cérebro e que serve como uma proteção mecânica que amortece o encéfalo e a medula espinhal.

Infecção e cirurgia de emergência

A mãe e a criança receberam alta no dia 17. Segundo ela, a filha chegou em casa com febre e manchas vermelhas pelo corpo. Na terça-feira, a mãe levou a criança no Pronto Atendimento, em Araquari, e lá indicaram que ela levasse a criança ao Hospital Infantil. “Me falaram que a minha filha estava com infecção. Na quarta-feira eu tive uma consulta e a médica reforçou isso”, recorda.

No mesmo dia, a criança foi encaminhada para o Hospital Infantil e realizou exames. O ultrassom mostrou que a criança estava com diversas manchas na cabeça e pela tomografia foi possível concluir que o corte era profundo e chegava próximo ao cérebro.

No exame foi concluído que o líquido expelido pela criança era da espinha, conhecido como líquido cefalorraquidiano. “Ela foi levada com urgência para a cirurgia no dia 28. Ela corria risco de vida”, conta a mãe. Nesta quinta-feira, 3, um teste de reflexo foi feito com o bebê, que respondeu bem.

Porém, só será possível saber se a criança terá sequelas do corte e da infecção a partir dos 3 anos. “Ela vai fazer um mês dia 14, ainda no hospital. Era para eu estar aproveitando ela em casa, mas ela podia ter morrido se eu tivesse acreditado no que me falaram na maternidade”, relata a mãe.

A moradora de Araquari denuncia negligência envolvendo o corte da criança. “Eu sou soropositiva e a minha filha teve contato com o meu sangue por conta do corte. No momento, ela está tomando três remédios que não precisaria tomar por conta disso”, acrescenta.

Denúncia de violência obstétrica

Além da negligência com a criança, a mãe denuncia que teria sofrido violência obstétrica, principalmente após o parto. Ela alega que não foi realizada a limpeza do útero e foi encaminhada para o quarto do jeito que saiu da cesárea.

“No sábado, eu comecei a sentir muita dor. O enfermeiro resolveu realizar o exame de toque e nisso ele identificou coágulos de sangue e um pedaço da placenta”, conta. Fizeram então a curetagem, uma limpeza no útero, sem anestesia em uma sala com outras duas pessoas. “O próprio enfermeiro disse que não podiam ter me mandado para o quarto daquele jeito, que eu podia ter pegado uma infecção”, acrescenta.

A mãe ainda sofreu uma hemorragia por conta do procedimento. Segundo a moradora de Araquari, a maternidade não teria dado nenhum suporte e até o momento não teria entrado em contato com ela. “Não recebi nenhuma ligação, nenhuma ajuda psicológica. Eu estou mal, eu sei disso, minha cabeça só pensa que tudo é um pesadelo”, completa.

Medidas legais

A família agora quer ressarcimento pelos danos sofridos. Um boletim de ocorrência foi registrado e o caso está sendo investigado pela Polícia Civil, que ainda não se manifestou sobre a situação devido às diligências estarem em andamento.

Já a Maternidade Darcy Vargas diz que houve uma intercorrência na cesárea e que o caso está em investigação pela gestão de risco da unidade.


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