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Vacinação: Famílias de Blumenau negligenciam doenças como poliomielite

Diminuição na procura por imunização levou Ministério da Saúde a planejar campanha

Os blumenauenses estão menos prevenidos contra doenças graves, como poliomielite, sarampo e rotavírus. Desde 2015, os índices de vacinação da cidade estão em queda livre e, em alguns casos, já oferecem risco, principalmente para crianças.

Blumenau não está sozinha na falta de prevenção básica. O assunto está na imprensa nacional e mobilizou o Ministério da Saúde. Uma forte campanha de vacinação contra o sarampo e a poliomelite está prevista para agosto.

A Vigilância Epidemiológica de Blumenau percebeu uma diminuição na procura por vacinas importantes, como as que evitam a paralisia infantil e outras doenças que deixam sequelas ou matam.

Leia também: Estudantes de Blumenau protestam contra cancelamento de matrículas no Cedup Hermann Hering

Para se ter ideia, em 2015, Blumenau superou a meta de vacinação contra a poliomielite, atingindo um índice de 103,6% de cobertura. No ano passado, apenas 63,6% do público-alvo foi, de fato, imunizado. O mesmo ocorre com as vacinas pentavalente, meningite C e rotavírus, entre outras (veja números em detalhes abaixo).

“As vacinas são direito da criança e não escolha dos pais”, preocupa-se Marcelo de Faria, pediatra no Hospital Santo Antônio.

O perigo de não vacinar

O técnico em enfermagem e responsável pelos dados do sistema da Vigilância em Blumenau, Vitor Hugo Spudeit, sugere alguma cautela na análise dos números. Em 2016, um novo software passou a ser usado e gerou confusão na hora de subir os cadastros de vacinados.

Além disso, o sistema só computa o ciclo de vacinas. Ou seja, se um bebê tomou duas das três doses que deveria, ele não conta como imunizado. Mesmo assim, a porcentagem acende um alerta para a gerente do órgão, Rosana Benvenutti.

Ela explica que a maioria das vacinas tem meta de cobertura de 95%. Quando a imunização fica abaixo disso, estratégias precisam ser pensadas para atingir a população que não está se prevenindo.

Uma reunião com os profissionais da saúde de Blumenau e outras áreas, como a educação, deve ocorrer nos próximos dias para definir como chegar – principalmente – às crianças não vacinadas.

Vacina contra a pólio

Não só a cobertura da vacina contra a poliomelite despencou. A tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), caiu de 105,9% para 65%. A rotavírus também teve queda expressiva, principalmente porque em 2017 ela não foi entregue pelo Ministério da Saúde durante alguns meses. Veja no gráfico abaixo as que tiveram quedas mais significativas:

A vacina pentavalente (que imuniza contra dez tipos de infecções) e da meningite C foram as que registraram quedas menos expressivas (passe o mouse pelo gráfico). Rosana e Vitor acreditam que a explicação seja a faixa etária.

As vacinas aplicadas quando o bebê está nas primeiras semanas de vida são mais difíceis de serem deixadas de lado. Aquelas que são dadas quando o pequeno tem alguns meses ou um ano, como é o caso da tríplice, ficam pelo caminho.

“Em relação à queda da meta percentual de vacinação, considero a mais preocupante a de sarampo, tendo em vista o número de casos nos estados de Amazonas e Roraima. Até agora, todos os casos são de imigrantes (a maioria venezuelanos), porém, se pegar uma população desprotegida, poderemos ter situações graves na nossa população”, alerta o infectologista Ricardo Freitas.

Por que os pais não vacinam

Para os especialistas, há algumas razões que fazem as pessoas irem cada vez menos aos postos de saúde em busca de vacina:

“Um dos maiores problemas é as pessoas não entenderem para que a vacina serve. Elas não conseguem entender que aquilo é uma questão importante, porque a maior parte delas nunca viu essas doenças”, explica Faria.

Além do relaxamento com a saúde, Freitas avalia que teorias da conspiração e notícias falsas “assustam em alguns casos, devendo o poder público e a mídia destacar a veracidade destas informações”.

E elas são muitas. Já teve “estudo” que relacionou vacinação ao autismo. Que afirmou que vacinas não são eficazes, que servem de controle para o governo e que podem causar paralisia. Que possuem mercúrio na fórmula e resultam em diversas doenças. Os boatos são muitos, mas pesquisadores, médicos e autoridades de saúde têm resposta para todos.

Apesar disso, a onda dos “antivacinas” cresce, ainda que timidamente. A atitude de dizer não à vacina, consciente ou não, é perigosa:

“A ideia da vacina é fechar as portas de contágio para que esses casos fiquem limitados a um indivíduo e não consiga se perpetuar no meio. Não é só uma decisão individual, tem a ver com o coletivo”, defende Faria.

Divulgação

Vacina do postinho dá reação?

Para ele, outra questão que pode ter impactado nos números da rede pública é a opção que alguns pais fazem após o nascimento dos filhos: a de pagar pelas vacinas. No sistema privado, a propaganda por picadas que doem menos e doses “mais reforçadas” acabam convencendo alguns. Porém, a gerente discorda dessa teoria:

“Acho muito difícil, como as vacinas são gratuitas… Eu sempre levei meus filhos para vacinar na rede pública. Eu trabalho aqui, sei que o controle de qualidade daqui é muito mais rigoroso que em uma clínica particular”, afirma.

Para Rosana, algo que pode ocorrer é o abandono involuntário. No sistema público, a criança nasce e os pais recebem a caderneta de vacinação, além de orientações durante as consultas.

Ações que não seriam tão enfáticas no sistema privado. Na rede de ensino público, por exemplo, as vacinas são solicitadas nas matrículas. Algo que não ocorre nas escolas particulares.

Vacinas não causam doenças

As vacinas não causam doenças. Algumas reações são comuns, como febre e dor local. “Os benefícios da imunização são muito maiores que os riscos dessas reações temporárias”, lembra Freitas.

“Com as vacinas conseguimos erradicar a varíola e controlar diversas doenças, como a poliomielite, o sarampo, a coqueluche e a difteria, entre outras. As vacinas protegem”, destaca.

“Essas vacinas existem por um motivo, a gente espera que um dia elas não existam mais, mas infelizmente não chegou esse dia ainda. E, a não ser que todo mundo se ajude, não vai chegar”, lamenta Faria.