Blumenauense que mora na Ucrânia fala sobre medo durante ataque russo: “é coisa de filme, está sendo terrível”

Jonatan mora há nove anos no Leste Europeu e há um ano em Kiev, capital da Ucrânia

Natural de Blumenau, Jonatan Bruno Santiago tem 30 anos. Vivendo há cerca de nove no Leste Europeu, ele mora há apenas seis meses em Kiev, na Ucrânia, onde atua pelo Skyup Kiev, time de futsal local.

Mas nesses quase 10 anos que está na região, ele nunca imaginou e nem passou por um momento de tanto medo como o que começou na madrugada desta quinta-feira, 24, quando tropas militares russas invadiram e iniciaram ataques a algumas regiões da Ucrânia.

“Por incrível que pareça, na primeira revolução que aconteceu em 2014 eu estava aqui na Ucrânia, mas eu não cheguei a sentir tanto porque estava numa cidade pequena, perto da Polônia. Então não cheguei a ter esse sentimento, não foi uma guerra, foi uma revolução, não foi nem metade do que é agora. Agora é coisa de filme, está sendo terrível”, contou o blumenauense ao jornal O Município Blumenau.

Os ataques puderam ser ouvidos e vistos por Jonatan. Ele conta que mesmo com a tensão já acrescida nos últimos dias, tudo aconteceu de repente. O blumenauense, por exemplo, chegou a jogar pelo Skyup algumas horas antes do ataque.

Quando a partida terminou ele foi para o apartamento, onde, como outro dia qualquer, dormiu. Porém, algumas horas depois, durante a madrugada, acordou com os estrondos e pânico dos bombardeios.

“Começaram as bombas perto do nosso prédio, e ninguém estava pronto. A gente estava achando que não ia acontecer e do nada começou, foi um absurdo, uma loucura”, conta.

“Todo mundo fugindo as cinco horas da manhã, os mercados esvaziaram totalmente, não tinha mais dinheiro nos caixas eletrônicos, a gasolina dos postos acabaram, a gente está muito assustado. Estamos tentando não perder a calma e entrar em pânico, mas esta muito complicado”.

“Refugiado” e sem possibilidade de fuga

Durante a madrugada e em alguns momentos durante o dia, Jonatan teve que fugir do apartamento onde mora devido ao risco iminente de ataques. Ele e outros moradores da região ficaram na rua, próximo a um estacionamento subterrâneo, que pode funcionar como uma espécie de bunker – onde poderiam se esconder, caso bombardeios fossem realizados.

Quando concedeu entrevista ao jornal O Município Blumenau já era noite em Kiev e Jonatan estava em casa, junto a outros brasileiros que estão refugiados no mesmo imóvel. Como fica próximo ao estacionamento e ao metrô, resolveram permanecer juntos e em alerta a possíveis ataques que podem ocorrer no restante do dia.

Jonatan abriga outros brasileiros no apartamento onde vive. Foto: Jonatan Santiago

Sobre uma possibilidade de fuga ou retorno ao Brasil, ele conta que não há opções seguras no momento. O território aéreo está fechado e as fronteiras com muitas pessoas tentando fugir, além dos tanques e militares nas ruas.

Jonatan e os colegas brasileiros também tentaram contato com a embaixada brasileira, porém, que não resultou em ajuda, já que não há ainda uma estratégia de retirá-los de lá, por exemplo.

“Eles não podem fazer nada por nós agora. Já entramos em contato, mas nos mandaram seguir as regras do presidente da Ucrânia (…) No momento a gente está preso”, afirmou.

Sem saber ainda como sair da Ucrânia, Jonatan diz não saber o que pensar em relação ao futuro. Segundo ele, não há como traçar planos momento, já que estão tentando apenas sobreviver.

“Tentar não ser pessimista. No momento estamos vivendo, ou tentando viver. Estamos lutando pela vida nesse momento. Depois vamos pensar qual será o plano para saída”.

Família com medo

Jonatan possui família em Blumenau e na Rússia. Na cidade catarinense, estão os pais e familiares. No país que hoje conflita com a Ucrânia ele tem uma filha com uma de suas ex-esposas.

O blumenauense conta que graças as redes sociais está conseguindo ter contato com todos, que assim como ele, estão vivendo momentos de tensão e medo.

“Meus pais estão desesperados. Meu pai num estado de nervos, minha mãe chora o tempo todo, uma situação bem difícil”.

Governo tenta contato com brasileiros

O governo de Santa Catarina emitiu uma nota oficial nesta quinta-feira, 24, informando que está buscando a repatriação de catarinenses que estão na Ucrânia – país que está sendo atacado pela Rússia nas últimas horas. De acordo com a Secretaria de Assuntos Internacionais, o contato com o Itamaraty já foi feito, para, entender de que forma isso poderá ocorrer.

“O secretário executivo de Assuntos Internacionais (SAI), Fernando Raupp, informa que do mesmo modo que o Governo do Estado, por meio da SAI, trabalhou para ajudar na repatriação de catarinenses que estavam no exterior em outras situações, novamente – no que compete ao Estado –, o governo se colocará à disposição do Itamaraty em situações em que catarinenses que, por ventura, estejam na Ucrânia, precisem de informações ou queiram retornar a Santa Catarina”, aponta a SAI.

Apesar do contato com o Itamaraty, não há informações sobre o número de catarinenses que vivem ou estão na Ucrânia. Além disso, ainda não há também uma estratégia definida ou divulgada para que a repatriação ocorra.

Também por nota, o Itamaraty informou que está tentando contato com os brasileiros que estão na Ucrânia. Foram divulgados canais de comunicação para que os cerca de 500 brasileiros que vivem na Ucrânia possam abrir comunicação com a Embaixada do Brasil, em Kiev.

Confira a nota oficial divulgada pelo Itamaraty:

Embaixada do Brasil em Kiev permanece aberta e dedicada, com prioridade, desde o agravamento das tensões, à proteção dos cerca de 500 cidadãos brasileiros na Ucrânia. A Embaixada vem renovando o cadastramento dos brasileiros e tem-lhes transmitido orientações, por meio de mensagens em seu site (kiev.itamaraty.gov.br), em sua página no Facebook (https://www.facebook.com/Brasil.Ukraine) e em grupo do aplicativo Telegram (https://t.me/s/embaixadabrasilkiev).

Solicita-se aos cidadãos brasileiros em território ucraniano, em particular aos que se encontrem no leste do país e outras regiões em condições de conflito, que mantenham contato diário com a Embaixada. Caso necessitem de auxílio para deixar a Ucrânia, devem seguir as orientações da Embaixada e, no caso dos residentes no leste, deslocar-se para Kiev assim que as condições de segurança o permitam.

O Itamaraty disponibiliza, ainda, para casos de emergência consular de brasileiros na Ucrânia e seus familiares, o número de telefone de plantão consular +55 61 98260-0610.


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