Blumenauenses relatam abusos sofridos na cidade com a #ExposedBlumenau

Iniciativa surgiu no Twitter e traz histórias de diversas cidades do Brasil

AVISO: Esta reportagem contém relatos de abuso e estupro que podem ser gatilho para pessoas sensíveis.

Desde o início da semana, relatos de abuso têm tomado o Twitter. A #exposed tem trazido a tona histórias de diversas pessoas sobre relacionamentos abusivos. Desde manipulação, ciúmes excessivo, agressões e até casos de estupro.

As histórias envolvendo Blumenau começaram nesta quinta-feira, 28, e o número de publicações cresceu na sexta-feira. Diversas jovens da cidade relataram abusos sofridos por ex-namorados, amigos ou até estranhos com a #ExposedBlumenau.

Um perfil intitulado @exposed_bnu foi criado para que as mulheres possam trazer seus relatos sem serem identificadas. “Depois do NÃO, tudo é assédio”, reforça a página. Porém, muitas meninas usam seus perfis pessoais para expor seus casos.

Entre elas, está Clara – nome fictício para preservar a jovem. A blumenauense, que hoje tem 23 anos, relembrou um caso que ocorreu há quase três. Foi na casa de amigos, após saírem da Oktoberfest, que ela vivenciou uma das experiências mais traumatizantes de sua vida.

Ela estava no banheiro com um amigo, que estava passando mal, quando outro homem entrou no local, fechou a porta e a beijou à força. Ele também levantou a saia dela e passou a mão em seu corpo sem consentimento.

Na época, ela tinha acabado de voltar para a casa dos pais após passar um período estudando Jornalismo em Itajaí. Apesar de estar trabalhando como vendedora no shopping, ela conta que o período era de instabilidade, especialmente emocional.

“Antes mesmo do que aconteceu, esse já era o período mais conturbado da minha vida. Eu não estava estudando, tinha recém terminado um relacionamento e acabei fazendo novos amigos”, conta.

Ela teve medo de denunciá-lo por ele fazer parte do exército, o que levou ela a acreditar que ele seria protegido. Outro motivo de manter o silêncio por tanto tempo, foi diminuir o ocorrido por ele não ter estuprado ela.

“Mesmo eu sendo uma pessoa extremamente liberal e sem tabus, por muito tempo eu me culpei e achei que fosse um reflexo das minhas escolhas. E ainda tenho receio de falar sobre, com medo de acharem que eu quero aparecer”, desabafa.

Após o assédio, ela tentou conversar com os amigos, mas ela diz que eles não deram ouvidos. Mantiveram amizade com o agressor, o que fez com que ela tivesse que cruzar com ele em outros momentos. Por não ter apoio, Clara demorou a entender que havia sido vítima de abuso.

“Isso traz cicatrizes pra vida que só quem já passou por isso consegue entender. É muito difícil explicar, mas eu acho que com o tempo conseguimos falar sobre isso e aceitar que não temos culpa. Mas ainda é muito difícil superar e esquecer”, relata.

“Precisamos falar sobre isso”

Apesar de ter sido fortemente marcada pelo ocorrido, Clara acredita que precisa falar sobre para alertar outras pessoas. Passar pelo assédio fez com ela abrisse os olhos para outros casos.

O trauma permitiu que ela olhasse em retrospecto e percebesse que foi violentada também pelo primeiro namorado. Na época com 18 anos, ela não entendia que ele a forçava a manter relações sexuais com ele.

“Isso sem contar todo o abuso psicológico. Não podia usar certas roupas, não podia cortar o cabelo. Nem ir no velório do meu melhor amigo ele permitiu, porque eu não podia chorar por outros homens”, relembra.

Assim como a maioria das pessoas que expõem seus relatos na #exposed Brasil afora, a blumenauense espera que compartilhar sua história possa levar outras pessoas a refletirem sobre suas atitudes ou sobre situações que viveram.

“É um assunto que precisa ser falado, para que outras pessoas abram os olhos e percebam que estão sofrendo abusos e nem sabem. Quantas pessoas estão sendo estupradas dentro de um relacionamento e não percebem? E principalmente que não é só o ato sexual explícito que é abuso”, conclui.

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