No começo do março, a Apple realizou mais um de seus tradicionais eventos de lançamento, apresentando ao mundo seus novos iPhone SE 3, iPad Air 5, Mac Studio, e Studio Display. E, como sempre, os preços chocaram o público – especialmente os brasileiros.

Segundo pesquisa do desenvolvedor japonês Jun Saito, do site Nukeni, que todo ano faz uma análise dos preços dos produtos da Apple ao redor do mundo, o Brasil foi “premiado” como primeiro colocado, tendo os valores mais caros para os dispositivos da marca.

O maior motivo para esse feito é, sem dúvidas, a taxa de imposto que recai sobre os aparelhos importados. Em geral, são acrescidos 40% do valor de mercado no preço final que chega ao consumidor. Fora isso, há ainda a questão da desvalorização do real frente ao dólar. O resultado, como todos podem ver, é uma cifra abusiva, com o iPhone SE 3 mais barato passando dos R$ 4 mil e o mais caro beirando os R$ 6 mil.

Os produtos da Apple valem mesmo tudo isso?

Diante dos números assustadores da marca, a pergunta que fica é: vale mesmo a pena? A resposta depende do referencial. Abaixo, podem-se encontrar alguns dos argumentos comumente usados para defender os valores da marca – e uma análise crítica sobre cada um deles.

 

Mais segurança e privacidade

Muitos fãs da Apple alegam que seus produtos são mais seguros e privados que os de outras marcas, sendo menos sujeitos a ataques de hackers ou vazamento de dados. Isso é, em parte, verdade.

A Apple controla todos os aspectos de fabricação de seus dispositivos, desde a parte física até a programação de seus sistemas operacionais, mantendo seu código-fonte guardado a sete chaves – o que dificulta a busca de falhas de segurança por hackers.

No entanto, assim como os donos de aparelhos Android ou Windows, os usuários da Apple ainda podem sofrer ataques e invasões se forem descuidados e não adotarem medidas básicas de segurança, como o uso de um programa antimalware ou cliente de VPN para Mac, iPad ou iPhone ao acessar redes Wi-Fi públicas, por exemplo.

 

Melhor qualidade e desempenho

A comparação entre dispositivos da Apple e outras marcas em termos de qualidade e desempenho é muito mais complicada do que pode parecer.

Se a briga for entre smartphones, há uma infinidade de marcas que usam Android como sistema operacional contra apenas iPhones usando iOS. Assim, os aparelhos Android são muito mais competitivos e incentivados a buscar tecnologias mais avançadas, pois têm de vencer não apenas a Apple, mas todas as concorrentes Android também.

Assim, a marca da maçãzinha apenas senta e espera os melhores resultados dessas tecnologias para usar em seu novo iPhone e criar um dispositivo que seja, inevitavelmente, um sucesso.

Em termos de computadores, o Mac tem, de longe, a melhor performance. No entanto, seus preços são tão ridiculamente altos que, numa análise de custo-benefício, é difícil defender a compra de um Mac, já que há muitos aparelhos com desempenho excelente pela metade do valor.

 

Reputação e status
Esse é, talvez, o ponto mais forte da Apple. Seus produtos são, afinal, considerados verdadeiros artigos de luxo – e os preços altos apenas contribuem com essa imagem.

Importante destacar que, ao avaliar a faixa de mercado da Apple, observa-se que ela não é exatamente a marca que mais vende dispositivos eletrônicos no mundo, perdendo com uma boa margem para gigantes como a Samsung. Seu lucro, contudo, é até quatro vezes maior que a da companhia coreana – evidenciando o poder de seus preços elevados.

Isso é relevante porque esse lucro possibilita um investimento muito mais pesado em marketing e desenvolvimento de imagem da marca, o que impulsiona seu status de “premium” entre os consumidores. Assim, ao adquirir um produto da Apple, o preço que se paga é, muito provavelmente, mais direcionado à manutenção da “ilusão social” da marca do que na qualidade da tecnologia adquirida.

 

Experiência do usuário

Esse é um grande foco da Apple. Seus smartphones são dedicados a criar uma experiência de usuário que seja intuitiva, fluída e divertida. Para assegurar isso, a empresa insiste em passar todos os seus recursos e atualizações por uma etapa de revisão humana – o que não ocorre sempre com dispositivos Android.

Por outro lado, os aparelhos Android seguem uma organização com mais liberdade ao usuário, possibilitando que ele possa alterar as configurações de segurança, partições de armazenamento e estética do sistema. O mesmo não ocorre com a Apple, que privilegia a consistência entre os dispositivos, mantendo os recursos principais fixos.

Esse nível de consistência permite aos aparelhos da Apple uma melhor performance de maneira geral, mas também traz algumas controvérsias. A questão do reparo de aparelho defeituosos é uma delas. A Apple usa de parafusos estrategicamente difíceis de serem removidos para garantir que seus consumidores frequentem apenas lojas autorizadas – que, por óbvio, cobram muito mais caro que as terceirizadas.

Conclusão

A Apple fabrica produtos de alta qualidade, que garantem ao usuário uma excelente experiência, com bons recursos de segurança e o melhor da tecnologia de ponta, o que é compatível com seus preços avantajados.

No entanto, é preciso ter consciência de que muito do que se paga ao comprar um produto Apple é referente ao próprio marketing da empresa – que nunca escondeu o quanto investe em sua imagem e reputação.

Assim, se esse adicional pelo “status” não for um problema, a Apple é a sua marca.