Brusquense possui coleção de mais de três mil lápis de escrever
Lindolfo Müller reúne itens para seu acervo desde 1995 e é um dos maiores colecionadores de Santa Catarina
O brusquense Lindolfo Müller tem uma paixão que pode ser considerada, por muita gente, peculiar. Há 23 anos, ele é colecionador de lápis de escrever, e possui um acervo de 3.281 itens, que expõe orgulhosamente na sala de sua casa, no Steffen. Para reunir cada vez mais lápis para a coleção que está constantemente em expensão, ele conta com a ajuda de amigos e familiares.
A coleção de Lindolfo começou ainda em 1995. Mas, se não fosse a iniciativa da esposa, talvez hoje ele não tivesse os mais de três mil lápis expostos na sala de casa. “Foi ela quem leu sobre coleções numa revista Pais e Filhos e me falou sobre isso. Ela reuniu os primeiros lápis, guardava todos num penal”, conta. Quando o estojo começou a ficar abarrotado, ele, já envolvido na atividade, passou a fazer alguns de tecido, para poder acomodar mais lápis que iam agregando à coleção.
Alguns anos mais tarde, a esposa Clarice começou a se dedicar à uma coleção de cartões telefônicos, projeto que não levou muito adiante. Enquanto isso, Lindolfo continuou com os lápis, comprando alguns novos, juntando os que ganha de presente de amigos e conhecidos que sabem da coleção.
“Quando alguém que nós conhecemos viaja, sempre peço um lápis de presente, muita gente traz como lembrancinha.” E foi assim que o brusquense conseguiu reunir lápis de diversos países do mundo: Estados Unidos, Japão, Jamaica, Itália, Chile, Peru, Colômbia, Alemanha, Suíça, além dos que são oriundos de outros estados brasileiros, como Rio Grande do Sul, Maranhão e Ceará.
Todos os itens da coleção são lápis de escrever: “Tendo grafite dentro, coleciono”, brinca. Lindolfo é, hoje, um dos maiores colecionadores de lápis do Brasil. “O maior do mundo é um uruguaio Emilio Arenas, que possui mais de 16 mil lápis”, conta. “Gostaria de conhecê-lo, e tem também um outro colecionador em Santa Catarina, que mora em Xaxim. Tenho vontade de trocar uma ideia com eles sobre as coleções.”
Hoje, ele afirma que seu grande sonho é fazer uma viagem para conhecer o Castelo de Stein, na Alemanha, onde fica a fábrica da empresa Faber Castell. O local fica próximo da cidade de Nuremberg, e o complexo é formado pelo castelo, a fábrica, o museu e a loja. O plano de Lindolfo é tentar visitar o castelo no ano que vem ou em 2020.
Lápis especiais
Dentre os mais de três mil lápis, alguns ocupam um espaço maior no coração do colecionador. Um deles, o xodó de Lindolfo, é um lápis de lousa, bastante antigo, que já possui mais de 100 anos: “Isso aqui é o princípio dos lápis, era usado pra escrever em lousa, feito todo de grafite, antes de se usar a madeira para revestir”, conta.
Além deste, outros lápis antigos fazem parte da extensa coleção de Lindolfo, como as edições comemorativas dos lápis de escrever feitas para o centenário de Brusque, em 1960, e também para o centenário de Joinville, celebrado em 1951. Estes dois ele ganhou de presente e guarda com carinho, afinal, são lápis únicos e que dificilmente poderá recuperar caso perca ou se danifiquem.
Outro item que chamou muito a atenção do colecionador foi o lápis ecológico, feito todo de jornal, que ganhou de um amigo que viajou a Capão da Canoa, no Rio Grande do Sul. Na época, ele já colecionava há dez anos. “Hoje esses lápis já são mais comuns, mas, na época, eu nunca tinha visto um assim. Fiquei bem impressionado.” Ao invés de madeira, o grafite é revestido com papel jornal reciclado.
Para uma coleção que começou com lápis comuns, de tabuada, hoje são inúmeras as variedades que fazem parte do conjunto. E Lindolfo está sempre em busca de aumentar o acervo, negociando com amigos, comprando novos itens. “No período de volta às aulas sempre tem muita novidade. O pessoal das livrarias já me conhece, quando chega uma coisa diferente, eles guardam pra mim.”
Os filhos de Lindolfo também ajudam, trazendo alguns lápis novos quando conseguem. Ele conta que, quando eram crianças, levavam estojos cheios para a escola para poder negociar com os colegas de aula, e sempre levavam algum item novo para o pai. “Hoje, eles me mandam uma foto, e às vezes é algum que eu já tenho, aí digo que não precisa.”
Em todos esses anos de colecionador, ele já recebeu diversas propostas para vender seu acervo. “Não vendo, de jeito nenhum”, diz. “Essa coleção é uma alegria para mim.” Todos os itens estão catalogados, ele sabe de onde vieram, como chegaram até ele. Já recebeu coleções menores de presente.
“Nunca esperei, por exemplo, ganhar aquele lápis que tem mais de 100 anos, de lousa. Tive muita ajuda de pessoas que colaboraram com a minha coleção, sou muito grato a todos que ajudaram com um único lápis que seja.”
Duplicados ele até tem alguns, mas ficam guardados separadamente. Lindolfo conhece cada um dos 3.281 lápis que fazem parte de sua coleção, e todos eles têm uma história por trás. “Penso que o colecionador deveria fazer assim, ir adquirindo um por um, conhecendo a história de sua coleção.”
Para manter os lápis em bom estado, conservados, é preciso prestar atenção e armazená-los corretamente. Por isso, Lindolfo os deixa organizados em painéis na sala de casa, protegidos por vidro. “Tem que deixar ventilar também, passar um espanador, um óleo de peroba para que não desgaste a madeira e nem dê cupim”, explica. “Não é só guardar, tem que ter cuidado.”
Agora, ele planeja dar início a uma coleção de apontadores: já possui cinco, mas pretende adquirir mais. “O apontador é um amigo do lápis, faz parte do conjunto. É amigo e é inimigo, pois é usado para apontar, o que machuca o lápis, mas também aperfeiçoa”, diz. E, para fazer crescer essa nova coleção, ele quer procurar alguns itens antigos, como os apontadores de manivela que lembra de usar na escola.
Visitas às escolas
O irmão de Lindolfo, Alcino, é professor de inglês em várias instituições e o incentiva a expor a coleção, visitando os alunos e contando um pouco sobre sua história com os lápis e a própria história do lápis, a fabricação, como funciona. Isso, para o colecionador, é uma grande alegria: ele retira os painéis da parede e transfere para outros, móveis, que consegue montar e desmontar nas escolas.
A integração com os alunos, conta ele, é “fantástica”: “Os estudantes vão se interessando, eu conto como começou minha coleção, passo um vídeo sobre a história do lápis. Eles gostam de ver, de tocar. Só não deixo ninguém encostar no lápis de lousa e no de grafite, esses ninguém toca”, ri.
Essas visitas são também uma forma de incentivar novos colecionadores, despertando esse interesse nos alunos. De acordo com ele, sempre há tempo para começar um acervo. “Tem que começar. Quem nunca começa, não cria a coleção”, pontua.
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