Canabidiol no tratamento do autismo: acadêmica de Blumenau integra pesquisa inédita na região sobre tema
Estudo é feito com ratos nos laboratórios da Universidade Regional de Blumenau (Furb)
Uma acadêmica de Medicina da Universidade Regional de Blumenau (Furb) está realizando uma pesquisa sobre o tratamento de autismo em ratos com a utilização de canabidiol (CBD), substância extraída da planta cannabis. O estudo é inédito no Vale do Itajaí e conta com a parceria da professora doutora Daniela Delwing de Lima, da Universidade da Região de Joinville (Univille) e da professora doutora Angela TS Wyse, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Sheila Wayszceyk está na 7ª fase do curso de Medicina e a pesquisa faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Ela tem como orientadora a professora doutora Débora Delwing Dal Magro, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Neurociências e Comportamento da Furb.
A pesquisa consiste em algumas etapas. A primeira é induzir os ratos ao espectro autista. Como já se prevê na literatura científica, as pesquisadoras administram ácido valproico em ratas gestantes. Quando os animais nascem, são separados em grupos para a realização de testes comportamentais.
“Após a indução do autismo e nascimento, realizamos um teste chamado de campo aberto, para observar se os animais apresentam um comportamento repetitivo, estereotipado, característico do autismo. Posteriormente os testes de interação social, a fim de observar se os ratos interagirão com objetos ou outros ratos dos quais eles não estão habituados”, explica Sheila.
Com a confirmação de que os ratos são autistas, iniciam-se os testes com a aplicação do extrato de canabidiol, com três dosagens diferentes. Após 15 dias de tratamento, novamente os testes comportamentais são realizados para avaliar se houve evolução e mudança de hábitos.
Segundo Sheila, os ratos que antes ficavam parados quando colocados nas caixas de testes, ficaram mais exploradores de territórios e tiveram mais interação com animais desconhecidos.
Avanços
A pesquisa, quando totalmente concluída, será publicada e poderá servir como base científica. A doutora Débora Delwing Dal Magro lembra ainda que atualmente não há medicamentos ideais para o tratamento de autismo em humanos e que o possível uso de CDB pode ser um avanço importante.
“O que existe atualmente são antipsicóticos os quais amenizam comportamentos, mas de forma geral, são fármacos que podem causar diversos efeitos colaterais. No caso do CBD, se o efeito esperado for comprovado, uma vez que este é extraído de uma planta, teremos redução de efeitos adversos. Se não puder substituir, quem sabe ao menos diminuir as doses desses medicamentos”, afirmou a doutora.
Para Sheila, apesar de ser um trabalho de conclusão de curso, o estudo representa muito mais. “Antes de qualquer apresentação, eu estou muito mais focada na pesquisa em si, no que isso pode trazer não para mim, para o curso, mas para as pessoas no geral, principalmente se tratando do autismo, que tem pouquíssima atenção, pouquíssimos estudos”, afirmou a acadêmica.
Tabu
O uso medicinal de CBD, apesar de já positivamente comprovado e até utilizado no Brasil, ainda sofre preconceitos e precisa passar por diversos tabus. Sheila conta que desde que surgiu a ideia de realizar o estudo teve que se preparar para a repercussão que poderia ocorrer.
“Sabíamos que quando fosse divulgado poderíamos ser alvo de muita crítica. Mas com esse projeto queremos mostrar que o canabidiol não é um vilão. O canabidiol não tem a parte psicoativa da cannabis, que é o THC. Pelo contrário, o canabidiol auxilia no tratamento de patologias e transtornos”, explicou.
“Estamos tentando desmitificar esse preconceito. Sabemos que falarão que trabalhamos com maconha. Mas não é maconha, é o extrato, que aliás já é vendido comercialmente, que já tem parcerias para produção no Brasil e que já está sendo receitado por médicos”, concluiu.