César Wolff

César Wolff é advogado e professor da Furb. Foi presidente da subseção Blumenau da Ordem dos Advogados do Brasil entre 2010 e 2015.

“Abordagem em matéria de Drauzio Varella sobre transexuais precisava ser honesta”

Colunista acredita que faltaram elementos importantes na reportagem para que o espectador tirasse suas conclusões

Direito à informação de qualidade

É compreensível a grande repercussão causada pelo quadro do programa Fantástico, da Rede Globo, no qual o médico Drauzio Varella procurou revelar as condições dos transexuais em presídios do país. Aliou-se a conjugação de temas, digamos, sensíveis às meias verdades.

Tratar da comunidade carcerária já é, por si só, algo bastante polêmico. No ano de 2013 o Tribunal de Contas de Santa Catarina publicou um amplo estudo e descobriu que as autoridades sequer conheciam o custo médio mensal de cada detento para os catarinenses. Em alguns estabelecimentos, em regime de cogestão, ultrapassa três salários mínimos.

A considerar que em dezembro de 2012 havia 14.905 presos em nosso estado e ainda uma carência de 4.474 vagas, é fácil constatar que uma parte importante dos impostos arrecadados por nossa gente são destinadas à ressocialização.

Numa sociedade ideal não haveria delitos. Mas aí também não seria uma sociedade de humanos. A própria liberdade pressupõe a transgressão da regra, inclusive da legislação penal.

Há crimes dos quais o ser humano nunca conseguirá se libertar. Por exemplo, os crimes passionais. Agora, há crimes mais repugnantes do que outros. E aí pouco importa quem os cometeu, vale dizer, se homo ou heterossexual. Atentar contra infantes, sob quaisquer das formas e meios, é chocante.

Ainda assim, os delitos estão aí, com suas vítimas e com os seus autores. Debatê-los também é uma forma de debelá-los. Alerta a sociedade e procura conscientizar possíveis agressores.

A abordagem da matéria, no entanto, precisava ser honesta. Não há espaço para reducionismos, eufemismos e toda forma de tergiversação. Afinal, repórter não é juiz e não lhe cabe absolver ou perdoar. O melhor que tem a fazer nesse tipo de reportagem é retratar, de forma isenta e transparente, os principais elementos que caracterizam os fatos.

Isto para que o telespectador produza, ele sim, o seu próprio juízo de valor. Para além disso, com o devido respeito, não há jornalismo.

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