“É nítido o bem produzido pelo regime democrático e pelas eleições diretas”

Colunista avalia primeiras medidas de eleitos e o papel da sociedade na cobrança do bom uso do dinheiro público

Novos governos e heranças malditas

Nesses primeiros dias do ano, especialmente em razão dos posse de novos governantes, somos tomados, na política, por dois grandes sentimentos. De um lado, a esperança que os eleitos não percam o entusiasmo com que entonam os primeiros discursos e adotam as primeiras e lúcidas medidas administrativas. De outro, o espanto pelo sentimento de terra arrasada deixada pelos que saem.

Quanto ao primeiro aspecto, é nítido o bem produzido pelo regime democrático e pelas eleições diretas. Há uma constante tanto na voz dos governantes recém-empossados quanto nas atitudes de austeridade e racionalização de gastos públicos: o firme propósito de reconectarem os governos com os governados.

Praticamente todos os empossados enalteceram o respeito à vontade popular. E não poderia ser diferente depois de tão amplo recado deixado nas urnas do último pleito eleitoral.

Já no segundo aspecto, apesar de não ser uma novidade, acreditava-se que desde a Lei de Responsabilidade Fiscal, no ano de 2000, o descontrole das contas públicas seria, paulatinamente, mitigado. Infelizmente não tem sido assim. E isso só pode ter acontecido, fundamentalmente, pela omissão dos órgãos institucionais de controle.

A omissão também é nossa, em particular da chamada sociedade civil organizada. Se de um lado cobramos insistentemente pela redução da carga tributária, problema que nos aflige direta e imediatamente, de outro não nos habituamos a cobrar nem os números e nem resultados positivos das contas públicas; como se o primeiro pudesse ser viabilizado sem o segundo.

Possivelmente, e paradoxalmente, o maior exemplo virá de Minas Gerais, estado governado nos últimos 20 anos pela díade PSDB-PT, representativa da política nacional. A eleição de Romeu Zema (Novo-MG), um empresário estreante na governança pública, é um importante recado de um dos maiores colégios eleitorais aos partidos políticos e aos governantes de todo o país.

E pelo tom das primeiras medidas já adotadas por esses estreantes, também aqui em Santa Catarina, logo se concluirá que “outsider” da política não são eles, mas a grande maior parte dos que deixaram o poder no último dia 31 de dezembro, com suas heranças malditas.

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