Com meio século de história, voluntárias comentam avanço da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Blumenau

Fundadora da entidade segue presente na nova sede

Uma sala emprestada, que dividia o pequeno espaço entre recepção, secretaria e exames, deu início à Rede Feminina de Combate ao Câncer de Blumenau. As pacientes que se enfileiravam no corredor do Hospital Santa Isabel, nem imaginavam a proporção que a entidade tomaria 50 anos depois. Neste domingo, 24, a RFCC completa meio século de vida, com uma trajetória de proporções que ultrapassam qualquer endereço.

No ano passado, enquanto comemorava o aniversário de 49 anos, a entidade passou por um dos maiores desafios: perder a sede própria que ocupou por 30 anos. Um deslizamento de pedras forçou a Defesa Civil a decretar a demolição do prédio cor de rosa da rua Itajaí. Entretanto, a tragédia abriu espaço para crescimento.

O novo endereço, em meio à região hospitalar da cidade e com ainda mais salas para as voluntárias e funcionárias, trouxe uma nova vida à equipe. Com mais segurança, potencial para crescer e próximo ao Terminal do Garcia, o Celp se tornou o imóvel perfeito para receber os jalecos cor de rosa.

A mãe das entidades

Elke Willecke, uma das fundadoras originais da Rede Feminina, segue visitando as voluntárias semanalmente. Atualmente com 85 anos, ela fez parte do nascimento de outras entidades como a Casa da Amizade e a Apae Blumenau. Se na época a jovem Elke era tímida, hoje ela adora falar sobre o período em que foi responsável pelo crescimento do grupo.

Fundadoras da entidade. | Foto: Arquivo RFCC

“Meu marido era do Rotary e se metia em tudo e me incentivou muito a me envolver. De início éramos quase 30 senhoras na ala antiga do hospital, até que eu insisti para conseguirmos uma salinha que tinha sido tomada pela enchente de 1983. Lá conseguimos separar a recepção dos exames”, relata.

Atendimento inicial era feito em janelinha na parte externa do hospital. | Foto: Arquivo RFCC

Foi após 25 anos no Hospital Santa Isabel que a sede própria – construída com ajuda de arquitetos, engenheiros, prefeitura e empresários – passou a contar com espaço suficiente para as pacientes, mastectomizadas e orientações.

“O material do papanicolau ia de ônibus pra Florianópolis. O resultado chegava a levar um mês. Abri mão do espaço do cafezinho para fazer um laboratório e contratei a citotécnica do hospital pra trabalhar com a gente. Nem sabia como ia pagar ela, mas ainda convenci a Facisc e o Hans Prayon a doarem microscópios pra gente”, relembra.

Registros da RFCC são guardados com carinho pelas voluntárias. | Foto: Alice Kienen/O Município Blumenau

Os materiais doados foram usados até 2017, quando a doação de um Risoto do Bem permitiu modernizar os equipamentos da Rede Feminina. Os microscópios comprados na época são usados até hoje, assim como muitos dos computadores.

Veja mais fotos da trajetória da Rede Feminina:

Luta contra o câncer

Por ironia do destino, Elke Willecke precisou usar todo o conhecimento reunido na Rede Feminina consigo mesma. Sete anos após fundar a entidade, descobriu um câncer de mama. Por conhecer a doença, optou por uma mastectomia radical. Porém, apesar dos percalços, essa fase foi o que conectou a fundadora ainda mais à entidade.

“Eu amo todas as entidades que faço parte, mas se não fosse a Rede eu não estaria aqui hoje. É minha segunda família. Eu operei em São Paulo e ficava na casa da presidente nacional toda semana e ela me acolheu como uma filha. E ela não me deixava ter pena de mim mesma, me fazia voluntariar lá também. Ela me fez ver que eu continuava sendo eu”, conta.

Alice Kienen/O Município Blumenau

“Ver que começamos do nada, numa salinha minúscula com a cara e coragem, e cresceu dessa forma, me deixa muito feliz. Lembro de ir 6h da manhã abrir a barraquinha do brechó na Feira Livre e agora temos uma sede própria. Foi muito trabalho de todas as presidentes. Cada uma agregou como pode. Fico realizada observando o trabalho delas”, celebra.

Primeiro brechó da Rede. | Foto: Arquivo RFCC

Amizades que constroem

Um discurso é comum dentre as voluntárias da Rede Feminina: elas chegaram ao local após insistência de amigas. E, após conhecerem o espaço, se tornaram as novas angariadoras de voluntárias. Afinal, quem entra na entidade, se apaixona, segundo elas.

Jacinta Schramm, de 70 anos, está há quase 40 na Rede. Com dois filhos pequenos, ela questionou se participaria, mas não conseguiu sair após entrar. “Perceber como um abraço e um sorriso mudava a vida dessas mulheres, faz você não querer abandonar por nada”, detalha.

Maria Helena e Jacinta sabem que a aposentadoria está próxima, mas ainda dedicam muito tempo ao voluntariado. | Foto: Alice Kienen/O Município Blumenau

Já Maria Helena Schlup, 69, está há 34 na rede. Atualmente ela é a responsável por entrevistar novas voluntárias e acompanhá-las no primeiro ano de casa, até o dia do juramento. Ela é outra que, mesmo com filhos pequenos em casa, se entregou à Rede.

“Eu já havia ajudado em outras instituições e participava de clubes de serviço. Fundei a Circolo Italiano, o Banco de Olhos de Blumenau, Casa da Amizade, então já fiz parte de outras diretorias. Mas eu amo essa causa e estou aqui na Rede por amor”, reforça.

Futuro da Rede Feminina

Após uma vida sonhando em se dedicar à causa, a presidente Sueli Cristofolini chegou à entidade num momento delicado. Ela assumiu a diretoria com pouco tempo de voluntariado e enfrentou a pandemia, destruição da sede própria e instalação no Celp.

“O carinho daquelas mulheres que vinham palestrar na empresa têxtil que eu trabalhava sempre me encantou. Quando parei de trabalhar, em 2015, me tornei voluntária. Sempre negava ser presidente, mas aceitei quando vi que ninguém queria. Decidimos manter a diretoria porque há muito trabalho a ser feito e não podíamos atrasar a nova sede”, explica.

Aos 62 anos, Sueli preside a Rede Feminina com dedicação total. | Foto: Arquivo RFCC

Aposentada, ela abriu mão dos planos de morar no litoral e permaneceu em Blumenau para assumir a Rede Feminina. Apesar de abrir mão do tempo com a família e com os próprios afazeres, ela vê a doação à entidade como uma missão.

“É um privilégio muito grande estar presidente neste momento de reconstrução e nessa celebração dos 50 anos. Fazer parte de um grupo de mulheres incríveis que já estiveram à frente da Rede Feminina e centenas de voluntárias que passaram por aqui. Nem tenho como expressar quão gratificante é, assim como é uma responsabilidade sem tamanho”, declara.

O plano agora é expandir os atendimentos com a nova sede. Em 2024, as mastectomizadas terão acesso a tratamento a laser, as pacientes conhecerão a auriculoterapia e a entidade sonha em comprar um ultrassom e ter um mastologista. Com recursos baixos, a entidade planeja aumentar aos poucos.

Arquivo RFCC

Agenda da Rede Feminina

Em alusão ao Outubro Rosa, o mês de outubro será recheado de ações na Rede Feminina de Combate ao Câncer. No dia 1º a Catedral São Paulo Apóstolo promoverá a missa de abertura do Outubro Rosa às 17h.

Nos dias 11 e 14, a Rede Feminina participa do desfile da Oktoberfest Blumenau na rua XV de Novembro. No dia 15, haverá a Caminhada Rosa no Centro da cidade. No dia 18 a Rede de Blumenau participará do evento estadual na Alesc, em Florianópolis.

Para encerrar o Outubro Rosa, haverá o culto na Igreja Evangélica de Confissão Luterana às 9h do dia 29. O evento segue em novembro com o Encontro Estadual das Redes Femininas de Santa Catarina nos dias 13 e 14.

Ainda no dia 13 haverá a missa em ação de graça na Catedral São Paulo Apóstolo às 16h e o Jantar Festivo dos 50 anos no Clube 25 de Julho às 20h para as voluntárias. Por fim, no dia 14, elas estarão no Congresso Estadual das 8h às 17h.


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