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Como a antiga Rio do Testo se transformou na cidade mais alemã do Brasil

Há 60 anos uma parte de Blumenau se emancipava, e o nome escolhido para o município que nascia ajudou a traçar o seu destino

Trânsito suave, mesas fartas, desenvolvimento elevado e traços europeus em terras brasileiras. Não é preciso avançar muito na descrição para se concluir que a cidade em questão é Pomerode.

Com qualidade de vida reconhecida e admirada, a cidade mais alemã do Brasil comemora nesta segunda-feira 60 anos de emancipação político-administrativa. Chegar à terceira idade é um marco para Pomerode, que conseguiu manter firmes as tradições e os costumes herdados dos colonizadores.

A Festa Pomerana, que encerra nesta segunda-feira, 21, justamente na data do aniversário, celebra a cultura dos imigrantes pomeranos, preservada com carinho até os dias de hoje.

Daniel Zimmermann/Festa Pomerana

A manutenção dos laços com a Alemanha através das gerações ajudaram o município, hoje com 32,8 mil habitantes, a conquistar prestígio como destino turístico em todo o país e um espaço cativo na imprensa nacional.

O próprio nome da cidade lembra a Pomerânia, região de onde partiram os primeiros colonizadores. Mas por pouco não foi assim. Na história da emancipação de Pomerode há uma história curiosa: o município seria batizado com um nome bem diferente e que em nada lembra a ligação umbilical com a cultura germânica.

Quando estava atrelada à Colônia Blumenau, a localidade era conhecida como Rio do Testo, o afluente do rio Itajaí-Açu que corta a cidade. Porém, manifestações de cidadãos forçaram uma mudança.

O artista plástico Ervin Curt Teichmann foi um dos que discursou em defesa do novo nome à época. Segundo o filho, Arno Teichmann, eram duas as razões do pai. A primeira era prestar uma homenagem aos antepassados pomeranos. A segunda era a possibilidade de qualquer pessoa pronunciá-lo, brasileiro ou germânico.

“Não é um nome como o de tantos outros municípios que começam com Rio, e traz uma certa especificação. Ele traduz bem as características da comunidade”, completa Arno.

Trabalho de longo prazo

A partir da emancipação, o desenvolvimento de Pomerode foi estruturado no tripé escola-religião-associações recreativas, como os clubes de caça e tiro. Gladys Sievert, vice-prefeita e secretária de Turismo de Pomerode, explica que foi feito um longo trabalho, que envolveu principalmente a Secretaria de Educação, para preservação dos valores culturais, de grupos folclóricos e patrimônio arquitetônico.

A busca por reconhecimento e projeção nacional foi um trabalho “de formiguinha”, com define a vice-prefeita, que começou em 1983 e levou anos para se consolidar.

“Acho que na época da emancipação ninguém pensou nisso, mas se ainda pertencêssemos a Blumenau estaríamos hoje divulgando Rio do Testo da maneira como se posiciona a Vila Itoupava. Hoje Pomerode já trabalha mais forte o turismo”, argumenta Gladys.

O caminho, segundo ela, foi longo e árduo e está sendo trabalhado mais forte com o projeto de escolas bilíngues. Atualmente Pomerode tem três que alfabetizam em alemão.

“Se quisermos valorizar uma cultura, é essencial preservar o idioma.”

Como surgiu a cidade

O nascimento de Pomerode remonta ao período colonial. A área territorial da cidade, que hoje compreende 214,727 km², conforme dados do IBGE, fazia parte da Colônia Blumenau, fundada em 2 de setembro de 1850 pelo farmacêutico alemão Hermann Bruno Otto Blumenau.

A ocupação do que hoje é o município mais alemão do Brasil começou com a expansão do território para além da sede da Colônia e com a chegada, em 1861, de imigrantes alemães vindos dos estados de Baden, Prússia, Schleswig-Holstein, Mecklemburgo e, principalmente, da Pomerânia.

Conforme Roseli Zimmer, autora de “De Rio do Testo a Pomerode”, o ano tido como marco para a história local foi 1863, quando se estabeleceu na localidade de Ribeirão Luebke a família do imigrante pomerano João Fernando Luebke, a única vinda naquele ano.

Com a abertura de novos caminhos e a construção da estrada (foto abaixo) entre as colônias de Blumenau e Dona Francisca (Joinville), o povoamento das margens do Rio do Testo ganhou força.

Em 26 de janeiro de 1934, a localidade foi elevada à categoria de Distrito de Blumenau, recebendo o nome de Distrito do Rio do Testo. No final da década de 1950, a população percebeu que havia condições de transformar o distrito em município, o que ocorreu oficialmente no dia 21 de janeiro de 1959.

Arquivo Histórico José Ferreira da Silva/Divulgação

O significado da palavra Pomerode

Conforme publicações assinadas pelo pastor luterano Edgar Liesenberg em jornais locais em 1983, em sentido figurado, Pomerode significa colônia dos pomeranos. Ele explica no texto que “o termo roden na tradução do alemão para o português significa retirar tocos das árvores abatidas com raízes, numa área desmatada, para tornar arável”.

Embora na Alemanha não exista nenhuma cidade com o mesmo nome, várias usam “roden” ou “rode” como prefixo ou sufixo, principalmente na região do Harz. Por este motivo, o religioso escreveu que “é de se supor que Pomerode recebeu esta denominação pelo próprio Dr. Hermann Blumenau, que era natural de Hasselfeld/ Harz”.

Festa Pomerana se despede

No último dia da 36ª Festa Pomerana também é celebrado o aniversário da emancipação. A programação da despedida reserva um desfile típico especial, às 19h, show cultural Lustiges Pomerode às 20h e apresentação dos Velhos Camaradas às 20h30, além de show de fogos às 22h e show de humor com a personagem Tanda Lodi na sequência, para encerrar a festa.

Clique aqui para ver programação completa.