Como a Hidrologia Florestal pode ajudar a conservar o solo usado pelo setor agrícola

A disciplina Hidrologia Florestal contém dados surpreendentes sobre a importância das florestas na conservação dos solos, no equilíbrio hidrológico, controle da erosão e prevenção do assoreamento dos rios, manutenção de mananciais e nascentes, influência nos climas locais, proteção contra deslizamentos de encostas, minimização dos efeitos de enchentes e enxurradas e vários outros aspectos.

Precisamos defender amostras significativas de florestas intocadas para garantir a proteção da biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano. Muitas florestas, porém, têm enorme importância na economia e sabemos que uma área descomunal de florestas desapareceu no planeta para uso agrícola, crescimento de cidades e outros usos pelo homem. A Mata Atlântica brasileira que o diga.

Nos dias atuais não se concebe derrubar mais florestas para uso agro-pecuário, caso sobejamente sabido no Brasil, onde está comprovado que podemos aumentar a produção agrícola sem derrubar uma árvore sequer, ao contrário, o Brasil pode – e deve – até aumentar a cobertura florestal através da recuperação ativa ou passiva de florestas nativas.

Inúmeras dicas de uso inteligente, visando a conservação dos solos e das águas, conciliando com uso agrícola, são fornecidas pela disciplina Hidrologia Florestal. A tabela abaixo fornece um bom exemplo:

Nessa tabela, quando uma estepe russa estava totalmente destituída de florestas, 35% a 40% das águas das chuvas e neve derretida escoavam superficialmente, ou seja, sobre o solo. Onde há escoamento superficial existe erosão e, consequentemente, assoreamento e degradação dos rios. Iniciou-se então um processo de recuperação florestal com espécies nativas.

Com apenas 6% das florestas recuperadas já se observou uma pequena reação positiva na natureza, ou seja, o escoamento superficial de águas caiu para 30%, mas, ainda era muito alto.

Chegando a 13% de cobertura florestal o escoamento despencou para apenas 8%. Quando as florestas atingiram 30% da superfície daquela região, foi possível zerar o escoamento superficial, consequentemente, também, a erosão e o assoreamento dos rios, além de outros benefícios. Os demais 70% do solo permaneceram disponíveis para uso agrícola.

Naturalmente, para se atingir um resultado tão fantástico, não se faz o florestamento com árvores nativas aleatoriamente. Deve-se alternar as faixas de uso agrícola com as faixas com florestas ao longo da declividade do terreno, em perfeitas curvas de nível.

Existem muitas outras formas de proteção dos solos agrícolas, visando controle de erosão e do assoreamento de rios, proteção das nascentes e das águas dos rios e mananciais e outras formas de controle do regime hídrico. Esse é apenas um exemplo, aplicável em extensas áreas pouco declivosas e em solos com aptidão agrícola como temos em vastas extensões pelo interior do Brasil afora, evidentemente, com percentagens e metodologias adaptadas à nossa realidade de país tropical.

Faixas com florestas mantidas em curvas de nível servem como capturadoras de eventual excesso de água que possa escoar superficialmente nos solos agrícolas vizinhos, transferindo tudo para o solo e o sub-solo. Ali o escoamento passa a ser sub-superficial, o lençol freático fica bem abastecido e a erosão cessa completamente.

Muitas dessas florestas dispostas em curvas de nível podem ser as que na legislação brasileira são consideradas como Reserva Legal, nas quais pode-se fazer uso racional da madeira e demais produtos, desde que com rigorosos critérios técnicos conservacionistas, ao invés de serem alocadas aleatoriamente nos cantos das propriedades.

A implantação de faixas de florestas em curvas de nível (transversalmente à declividade do terreno), portanto, constitui uma forma inteligente de distribuição das Reservas Legais nas propriedades, visando o mais alto rendimento, tanto ambiental, quanto econômico.

No caso brasileiro, dá para imaginar essa reordenação do uso dos solos a médio e longo prazo, com as faixas em curvas de nível interligando florestas de preservação permanente ao longo dos cursos d’água, portanto, exercendo a função de corredores ecológicos entre cursos d’água próximos, favorecendo a biodiversidade e o equilíbrio ecológico, econômico e social, como um todo.

Muita coisa já melhorou em nosso país em termos de conservação dos solos. Mas, ainda, há muito mais a melhorar. O que estamos esperando para começar?

A Hidrologia Florestal ensina que áreas declivosas como esta devem permanecer permanentemente cobertas de florestas, sob pena do lucro de sua exploração ser privatizado e o prejuízo socializado em forma de erosão, assoreamento dos rios e dos portos de Itajaí e Navegantes, prejuízo à atividade pesqueira fluvial e marinha, aumento do efeito destrutivo das enchentes e enxurradas, entre outros fatores. Morro Grande de Apiúna. Foto Lauro E. Bacca, 1983.

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