Eliz Haacke
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31/5/2024
A cerveja faz parte da história de Blumenau, seja pela tradição germânica, a Oktoberfest, o Festival Brasileiro da Cerveja ou pelo título de Capital Nacional da Cerveja. O município, que é sede da segunda maior Oktoberfest do mundo, também é um grande produtor de cerveja, o que faz girar a economia e o turismo para toda a região.
O Vale do Itajaí tem aproximadamente 40 cervejarias, sendo que 18 estão localizadas apenas em Blumenau, conforme apontam os registros do Anuário da Cerveja de 2023, produzido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Grande parte destas cervejarias são compostas de pequenas empresas, com poucos funcionários, mas que colocam em prática o amor pela bebida e o conhecimento adquirido, atraindo consumidores de todo o Brasil.
Mas, assim como em diversos setores produtivos do Brasil, o mercado cervejeiro vem sofrendo com a instabilidade da economia. A solução encontrada na região para driblar a escassez de algumas matérias-primas, a dificuldade com a mão de obra e o aumento dos preços para a produção foi a união entre as empresas.
Com o objetivo de crescer enfrentar os principais problemas do mercado cervejeiro, as cervejarias de Blumenau e região se uniram e criaram o Vale da Cerveja. A associação foi fundada em 2019 e hoje conta com 15 cervejarias, além da escola Cerveja e Malte.
Ao agrupar as cervejarias da região, a associação tem o objetivo de buscar a valorização da cerveja artesanal, atrair turistas para região, fortalecer o mercado, incentivar o consumo local e promover compras coletivas. Com isso, também, colabora na geração e manutenção de empregos diretos.
As cervejarias que compõem o Vale da Cerveja são: Alles Blau, Balbúrdia, Belgard, Berghain, Bierland, Borck, Cerveja Blumenau, Container, Das Bier, Holzbier, Omas Haus, Segredos do Malte, Scholer’s Bier, Schornstein e Zehn Bier. A Escola Superior Cerveja e Malte também faz parte da associação.
Atualmente, para ser considerada uma microcervejaria em Blumenau, a lei 1139/2017 determina que o estabelecimento deve produzir até 3 milhões de litros por ano. O limite serve como uma régua para a adesão de novos associados ao Vale da Cerveja, conforme previsto no estatuto.
“Geramos empregos que ficam aqui, então tem toda a questão de economia circular, ou seja, um emprego para um residente da região a renda fica aqui, ele vai consumir no mercado da esquina, na loja da vizinha. Fora os empregos diretos, que são a produção, logística, comercial e administrativo, temos os indiretos, que são os fornecedores, frete, limpeza de chopeira, gás, garrafas, caixa de papelão, entre outros. É toda uma cadeia produtiva que acaba utilizando de produtos locais ou do estado”, salienta a presidente do Vale da Cerveja, Larissa Schmitt Bernardes.
Atualmente, o Vale passa por uma mudança de estatuto que visa trazer crescimento para toda a cadeia produtiva, não apenas as cervejarias. Além disso, a entidade também tem entre os objetivos para este ano a coordenação das associações cervejeiras municipais que se formaram recentemente.
A Das Bier foi uma das fundadoras do Vale da Cerveja e considera o associativismo como algo de extrema importância. “Principalmente para as pequenas empresas, pois para nós conseguirmos algumas coisas sozinhos é muito mais difícil do que se formos em grupo. A união faz a força. Já conseguimos algumas pautas interessantes, como a participação na Festitália. Na Oktoberfest nós temos um ponto consorciado para algumas cervejarias”, exemplifica Leandro Schmitt, gerente de produção da Das Bier.
O sócio-proprietário da Omas Brew Pub, Vicente Koch, destaca a importância da compra coletiva para os microcervejeiros. Ele comenta que a cervejaria é pequena e, por conta disso, não tem capacidade financeira e nem necessidade de comprar um grande volume de ingredientes.
“Eu não tenho muito poder de barganha e nós consumimos pouco. Mas se nos juntarmos com outras cervejarias para fazer a compra coletiva, nós conseguimos comprar duas toneladas de malte com o preço bem melhor do que se eu fosse comprar entre 100 e 200 quilos, que é o que eu preciso. Com isso nos fortalecemos, conseguimos fazer os eventos e ratear os custos”, exemplifica o cervejeiro.
“Com o pessoal junto nós temos mais voz ativa. Se chegar somente eu que sou pequeno, pode ser que eles não vão dar bola para mim, mas se for toda a cadeia é mais facil”, acrescenta.
Daniel Reginatto, presidente do Sindibebidas, sócio-proprietário da cervejaria Container, um dos fundadores do Vale da Cerveja e o segundo presidente da história da associação, ressalta que tanto a entidade quanto o sindicato lutam por melhorias para toda a categoria.
É o que também destaca Cassiano Mota, gerente de eventos da Schornstein. “O objetivo da associação é buscar benefícios para a classe e o bem comum das cervejarias artesanais, com melhores condições tributárias, ações efetivas de eventos em conjunto, compras coletivas, sempre em prol do mercado de cervejaria artesanal”.
A presidente do Vale da Cerveja comenta que no período da pandemia diversos estabelecimentos precisaram demitir funcionários e alguns ainda fecharam operações. Na época da pandemia de Covid-19, os bares, que são um dos principais compradores das cervejarias, não estavam autorizados a funcionar. Mesmo as cervejarias que também tinham bares próprios estavam impossibilitadas de venderem.
“Muitas empresas tiveram que demitir funcionários e estavam bem enxutas, operando com o mínimo possível”, comenta Larissa.
Como uma alternativa para gerar renda naquele período, muitas cervejarias começaram a engarrafar chope em growler pet de 1 litro. Essa prática foi adotada de forma definitiva por muitos estabelecimentos, como é o caso da cervejaria Container, que antecipou o projeto de envasar chope em garrafa pet para conseguir alcançar um novo espaço: os mercados.
Já a Schornstein decidiu montar o próprio e-commerce e encontrou uma forma de se manter durante o período da pandemia. “O consumo artesanal aumentou durante a pandemia, as pessoas passaram a consumir em casa as cervejas consideradas artesanais e com mais qualidade”, explica Luciane Rosa, responsável pelo marketing da cervejaria. “Fomos uma das marcas que conseguiu se manter durante a pandemia, até pelo nosso tamanho e reconhecimento, além de já estar na rede de varejo, nos mercados e online. Tivemos um impacto, mas não foi necessário fechar nenhuma parte da fábrica”, acrescenta.
A Das Bier tinha uma operação no Ligga Arena, estádio do Athletico Paranaense, em Curitiba, mas precisou fechar o local, pois durante a pandemia os jogos que aconteciam não tinham público presente.
Muitos estabelecimentos estão conseguindo se recuperar dos impactos, mas o setor ainda não voltou a ser como era antes. Atribuído a isso, Larissa comenta que algumas pessoas reduziram o consumo de cerveja artesanal nos últimos anos. Por ter um valor agregado superior, algumas pessoas consideram a cerveja artesanal como item supérfluo, deixando de lado em situações financeiras mais difíceis.
Mesmo diante dos desafios, a associação tem trabalhado para se unir e lutar por melhores condições para todo o setor. “Todas as cervejarias sofreram muito, não tinha de onde tirar receita. Em abril de 2020, eu tive queda de receita de 70%, é muita coisa. Quem está aqui ainda é devido à persistência e muito amor ao que está fazendo”, salienta a presidente do Vale da Cerveja.
Um fator de extrema relevância para as cervejarias artesanais de Blumenau e região são os eventos abertos ao público, sendo que alguns estabelecimentos organizam o próprio evento, como é o caso do Schornstein Festival e o Itoupava Day Container, por exemplo. Há também os festivais de cerveja que, além de atraírem um bom público, servem para divulgar as empresas locais.
Na região do Vale do Itajaí existe o Festival Brasileiro da Cerveja, em Blumenau; Festival das Cervejarias de Timbó; Festival da Cerveja de Gaspar; Festival da Cerveja Artesanal do Vale – Bierfest, em Brusque; além, é claro, da Oktoberfest de Blumenau.
O Vale da Cerveja também conseguiu pleitear a participação das cervejarias na Festitália, um evento que promove a cultura italiana em Blumenau. Em todos os anos em que participaram, as cervejarias se uniram para criar uma cerveja especial para a festa. A deste ano será uma pilsen intitulada de La Santa Birra.
O mês de outubro também movimenta as cervejarias, que geralmente têm uma demanda maior. Muitas aproveitam o decorrer do ano para produzir e estocar a cerveja para esse período, outras conseguem dobrar a produção para aproveitar o mês das festas alemãs.
“Os eventos para as cervejarias são muito bons e importantes, temos uma visibilidade de marca com um público maior e sem ter um custo elevado de marketing. É o efeito cascata: o consumidor conhece a minha cerveja no evento, vai em um bar e vê a minha marca e se ele gostou ele vai consumir, o ponto vai vender mais e vai encomendar mais comigo, girando a roda de mercado”, explica Larissa.
Blumenau também conta com a Escola Superior Cerveja e Malte, que é a primeira do ramo na América Latina e já formou mais de 15 mil alunos de todos os cantos do Brasil, além também de outros 23 países. A instituição oferta diversos cursos para a área cervejeira e acaba contribuindo com o mercado local, visto que alguns alunos precisam fazer estágio e buscam por cervejarias da região.
A escola surgiu em 2014 como parte de um projeto de uma empresa na qual Carlo Enrico Bressiani trabalhava. A empresa tinha a intenção de criar uma escola de Ensino Superior em Blumenau e optou pelo tema cerveja, pois na época o mercado cervejeiro ainda engatinhava aqui no Brasil, sendo que havia pouco mais de 200 estabelecimentos registrados.
“Nós enxergamos a oportunidade de aplicar ensino cervejeiros de qualidade, pesquisamos em outros países para entender o que existia, vimos que os Estados Unidos e a Europa tinham bastante escolas de cerveja e que a América Latina não tinha nenhuma escola superior de cerveja”, comenta o diretor geral da Escola Superior de Cerveja e Malte.
No início as pessoas que mais buscavam a escola queriam aprender a desfrutar a cerveja, ou seja, os amantes da bebida. A partir de 2020 a situação mudou e a escola viu aumentar a procura de pessoas que buscavam a profissionalização. Desde 2022 a escola passou a focar mais na formação de profissionais.
Atualmente há 26 cursos diferentes que contemplam desde mestres cervejeiros, como a produção caseira, a produção industrial, sommelier, até gestão financeira da cervejaria, como montar uma cervejaria, como vender cerveja, destilaria, aprofundamento em lúpulo, entre outros.
A Das Bier, por exemplo, já teve no quadro de colaboradores um angolano que era estudante da escola. “As cervejarias daqui apoiam e para nós é ótimo. O aluno vai aprender tudo que precisa na fábrica, desde lavar o barril até a produção”, explica Larissa, que também é diretora da Das Bier.
Para Carlos, o título de Capital Nacional da Cerveja reforça não só o setor local, mas também mostra a importância da escola. “Nosso sonho, quando abrimos a escola, era ajudar a desenvolver toda cadeia cervejeira e de fato nós percebermos que isso foi possível. Muitos professores da escola abriram negócios, abriram maltarias, empresas de produção de fermento, tem plantação de lúpulo, abriram empresas de equipamento ou prestam consultorias. Conseguimos fazer um trabalho de diversificação e complementação da cadeia nos pontos que faltavam naquele momento”, recorda o empresário.
Ele também destaca que o fato de Blumenau ser sede da única escola na América Latina é um diferencial para a região.
O Vale da Cerveja também busca por mais representatividade no âmbito político. Uma das lutas da associação é a retirada da Substituição Tributária (ST) sobre o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A demanda surgiu pelo Sindicato das Indústrias de Bebidas de Santa Catarina (Sindibebidas) e teve o apoio da associação.
A proposta não é isentar as cervejarias do pagamento do imposto, mas realocar a cobrança. “Hoje nós temos que pagar o imposto antes do produto ser vendido, então isso faz com que o capital de giro fique extremamente apertado e às vezes a empresa nem tem para investir, inovar ou gerar mais renda”, pontua a presidente do Vale da Cerveja.
O projeto de lei, de autoria do deputado Napoleão Bernardes (PSD), prevê que o pagamento do ICMS ocorra no final do processo, após o produto ser vendido.
De acordo com o parlamentar, o modelo atual da cobrança do imposto no momento da produção da cerveja causa impactos no caixa dos estabelecimentos que ainda estão se reestruturando no pós-pandemia.
A intenção do projeto de lei não é isentar do pagamento de imposto, mas fazer com que seja cobrado mais adiante, ajudando no fluxo de caixa das cervejarias. “O nome disso é substituição tributária. A tese é que se a gente fizer sair desse sistema eles vão pagar o imposto quando venderem cerveja. Na prática o imposto não muda, a alíquota não muda, o que acontecerá é que as cervejarias terão um dinheirinho a mais, por mais tempo, para investir. Para as cervejarias pequenas isso faz diferença”, explica o deputado.
Ele ainda exemplifica que o valor pode servir para o estabelecimento investir em outras necessidades como rótulos, eventos e afins. “Hoje, enquanto o produto está no estoque, o imposto já foi pago. Aquele dinheiro já saiu do caixa. A ideia é que o empresário pague o imposto na medida em que ele venda aquele estoque”, comenta.
Conforme o deputado, o projeto já passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e segue em tramitação na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc).
O presidente do Sindibebidas, comenta que recentemente esteve em Brasília para discutir sobre a Reforma Tributária e debater sobre um projeto de lei complementar (PLP) para retirar o imposto seletivo das microcervejarias, chamado de ‘imposto do pecado’. “Nós queremos que todas as cervejarias que estiverem no Simples Nacional não sejam afetadas com o imposto seletivo”, explica Daniel.
Outro projeto que também foi apresentado pelo deputado de Blumenau busca oportunizar a participação de microcervejarias em competições esportivas, além de criar a “Semana da Cerveja Artesanal Catarinense”. De acordo com o Napoleão, que é coordenador da Frente Parlamentar de Incentivo às Cervejarias Artesanais na Alesc, a ideia partiu da Federação Catarinense de Futebol (FCF).
A lei atual determina que a comercialização de cerveja nos estádios só pode ocorrer 30 minutos antes do jogo e até 30 minutos após o fim da partida. No entanto, no entorno dos estádios o público acaba consumindo bebidas alcoólicas antes e até depois dos jogos.
O texto do projeto prevê que a comercialização das cervejas poderá ocorrer duas horas antes e após o jogo no estádio. Ele cita que muitas pessoas ficam em volta dos estádios consumindo bebidas alcoólicas, em alguns casos até falsificadas, antes das partidas.
Uma das cláusulas do projeto de lei determina que pelo menos uma semana por ano sejam comercializadas apenas cervejas artesanais da região, incentivando o consumo local. “É uma semana de promoção e visibilidade para cervejarias”, destaca o parlamentar.
Em Blumenau, o perfil dos cervejeiros é representado, na grande maioria, por homens entre 30 a 39 anos e com ensino fundamental completo, conforme aponta o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de 2023.
Conforme os dados do Caged, em 2023 Blumenau registrou 150 postos de trabalho na área de fabricação de cervejas e chopes. Em 2020, havia 177 trabalhadores registrados. A queda pode ser atribuída à pandemia, que teve impactos dos quais os cervejeiros ainda lutam até hoje para vencer.
Santa Catarina tem a quarta maior concentração de cervejarias registradas em todo país, com 225 estabelecimentos, um crescimento de 4,7% em relação a 2022, que registrou 215 produtores. De acordo com o Anuário da Cerveja de 2023, no Brasil há 1.847 cervejarias registradas.
O Anuário ainda aponta que 99 municípios catarinenses têm pelo menos um rótulo de cerveja registrado. Além disso, o estado tem a segunda maior densidade brasileira produtiva, sendo uma cervejaria registrada para cada 33,8 mil habitantes, enquanto a média nacional é de um produtor a cada 109,9 mil habitantes.
O envolvimento de Santa Catarina com a cerveja vai além, pois aqui no estado foi desenvolvido o primeiro estilo de cerveja brasileiro: o catharina sour. O produto foi elaborado em Florianópolis e teve o auxílio de cervejarias da região do Vale do Itajaí, como a Das Bier, de Gaspar, e a Cerveja Blumenau. Após avaliação do Beer Judge Certification Program (BJCP), o estilo foi reconhecido e incluído no guia internacional. A cerveja é leve, refrescante, geralmente é feita com frutas e combina com o clima tropical do Brasil.
Em meados de 2002, a presidente do Vale da Cerveja recorda que o mercado da cerveja começou a ter mais ênfase com algumas marcas locais como a Eisenbahn e Bierland. Poucos anos depois as pessoas começaram a tratar a cerveja artesanal como os vinhos. trazendo mais elegância e qualidade para a bebida que é comumente reconhecida por ser popular.
“Quando a Das Bier nasceu, em 2006, nós tínhamos 200 cervejarias no Brasil. Hoje temos quase 2 mil. Em 18 anos o mercado cresceu muito”, destaca. No entanto, Larissa pontua que atualmente o mercado cervejeiro no Sul está estagnado.
Muitas pessoas começam a atuar no setor devido ao amor pela cerveja. Já outros ingressam no setor pois precisavam de uma oportunidade de emprego e acabaram gostando da área. Também há muitos casos de pessoas que se profissionalizaram no ramo, mas que não tem a intenção de abrir uma cervejaria, e encontram uma oportunidade nos estabelecimentos que já existem aqui na região.
Segundo Larissa, quando as pessoas decidem ir para o caminho de consumo da cerveja artesanal, normalmente elas começam pela pilsen, seguindo para a IPA e terminam nas cervejas mais escuras que, na grande maioria, são mais alcoólicas.
A pilsen é o estilo mais consumido e um dos mais produzidos pelas cervejarias, mas todas buscam aprimorar a receita para dar um toque especial na cerveja.
Como a cerveja tende a ser algo mais refrescante e voltado para o verão, quando chega o inverno as cervejarias optam por receitas mais encorpadas e alcoólicas, com ingredientes que são comumente usados na estação mais fria do ano. A produção é sazonal e em menor escala, mas agrada o público cervejeiro.
Em 2017 Blumenau recebeu o título de Capital Nacional da Cerveja algo que, além de reconhecer a importância do município para o setor, também atrai muitos turistas para região.
“É um selo que Blumenau recebeu e acaba trazendo a curiosidade das pessoas daqui, do país e até de outros países. Chama atenção e as pessoas querem saber o que nós temos aqui”, enfatiza a presidente do Vale da Cerveja.
Mesmo que Blumenau seja a portadora do reconhecimento, as cidades vizinhas também são beneficiadas de certa forma, pois os turistas aproveitam para conhecer as outras cervejarias da região. “Podemos usar nos nossos rótulos o selo de Capital Nacional da Cerveja e isso dá mais credibilidade ao nosso produto”, explica Larissa.
A Omas Haus Brewpub surgiu entre amigos que eram cervejeiros caseiros e experimentavam cervejas juntos. Após as degustações eles filtraram todos os estilos e elencaram os melhores. Vicente conta que a produção começou em uma panela normal na cozinha da avó do sócio, Gustavo Kielwagen.
A brincadeira começou a tomar forma e os amigos decidiram buscar a profissionalização no setor para evoluir. Durante o período de curso, Vicente conseguiu um emprego em uma cervejaria em Itajaí, onde conseguiu adquirir muita experiência que hoje rende lucros.
Nesse meio tempo, uma cervejaria de Caçador fechou e eles conseguiram comprar o maquinário para iniciar a produção própria. A casa que hoje abriga a fábrica e o bar da cervejaria era da avó de Gustavo e foi usada de inspiração para nomear a cervejaria: Omas Haus.
Em 2019 eles começaram a montar a fábrica e na véspera de abrir as portas foram surpreendidos com o lockdown devido à pandemia. “No começo foi meio difícil, mas conseguimos passar por isso e agora é só para frente”, diz Vicente.
O sócio recorda que boa parte da cerveja que já estava pronta para inauguração do bar foi vendida nas garrafas pet de 1 litro. O estabelecimento fica em um bairro residencial e atraiu a atenção dos vizinhos durante o período de pandemia, que aproveitavam para comprar lanches e a cerveja para consumir em casa. “O bairro comprou a nossa ideia”, destaca.
Atualmente, a cervejaria tem uma produção de 3 mil litros por mês. Com 12 torneiras de chope, um dos diferenciais do Omas é o Munich Helles, que se assemelha a pilsen. O estabelecimento também trabalha com o envelhecimento de algumas cervejas em barris de carvalho, mas a produção de alguns litros pode levar mais de três anos antes de ser engarrafada.
“O brasileiro mudou bastante. Não é mais tão forte aquele negócio de tomar as cervejas mainstream, as principais do mercado. As pessoas querem beber algo diferente, algo com maracujá, canela, banana, e por isso participamos bastante dos eventos”, frisa.
Com o parque fabril localizado em Pomerode, a cervejaria Schorstein é uma das maiores da região, vende para todo o Brasil e tem oito estilos fixos de cerveja, além dos sazonais.
Em 2006 três sócios que fizeram um projeto adquiriram o espaço onde hoje funciona o restaurante Kneipe. Com o decorrer dos anos a cervejaria aumentou a escala de produção e o espaço já não comportava mais a demanda. Eles adquiriram o prédio onde funcionava o antigo armazém, que hoje é tombado. O prédio foi reformado para comportar a fábrica e a partir de 2016 a produção foi ampliada.
A cervejaria faz parte da Companhia Brasileira de Cerveja Artesanal (CBCA), que foi constituída em 2019, uma fusão entre a Schornstein e a Leuven, de Piracicaba (SP), e que agregou outras marcas no decorrer dos anos. Com uma produção mensal de 200 mil litros, a cervejaria de Pomerode atende todo o Brasil e é conhecida pela ipa, que já foi premiada. Um dos rótulos sazonais da Schornstein que vende bem no período de inverno é a bock de chocolate com pimenta e que também já foi premiada.
“Nos meses do segundo semestre temos uma demanda comercial maior. A estratégia é construir estoque no primeiro semestre e no segundo temos uma disponibilidade maior de produto em função da demanda”, comenta Cassiano Motta, gerente de eventos da Schornstein.
Apesar de vender para todo Brasil, o público da Schornstein está concentrado predominantemente em São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.
Além de participar de diversos eventos, a cervejaria também criou o Schorstein Festival com o objetivo de divulgar a própria cervejaria e ser mais uma atração turística para a região.
Inaugurada em dezembro de 2006, a Das Bier nasceu com o objetivo de fazer uma cerveja própria para servir os clientes que já frequentavam o pesque e pague em Gaspar. A produção iniciou com quatro tanques de mil litros cada e aos poucos a fábrica foi crescendo Com isso, eles optaram por criar um restaurante com vista panorâmica para as lagoas e a natureza. O local recebe dezenas de turistas da região nos feriados e, principalmente, durante as festas de outubro.
“Promovemos muito a experiência gastronômica com a cerveja. Esse é um dos nossos focos”, comenta Leandro Schmitt, gerente de produção da Das Bier.
Com nove estilos de cerveja, entre eles alguns premiados, a média mensal de produção na cervejaria fica entre 15 mil a 18 litros. No entanto, a Das Bier já produziu mais de 20 cervejas, entre as de linha, sazonais e especiais. Nos meses de outubro e dezembro a produção dobra devido à demanda.
Todos os anos a Das Bier organiza a brassagem colaborativa com outras cervejarias. O evento é destinado ao público em geral, mas somente os cervejeiros têm acesso ao espaço interno da fábrica.
A Das Bier é uma das pioneiras na produção de cervejas sem álcool na região do Vale do Itajaí e tem duas no catálogo. De acordo com o gerente de produção, a procura pelo produto cresceu nos últimos anos devido alguns fatores como saúde e para evitar a embriaguez ao volante. “Na minha opinião antigamente as cervejas sem álcool eram muito sem graça, hoje já não é mais assim, temos excelentes cervejas sem álcool. Às vezes a pessoa quer tomar uma cerveja, mas sem o efeito do álcool, além de ser menos calórica. Outro fator é que sem o álcool ela é um excelente isotônico”, explica.
A cervejaria Container, que completa 10 anos em setembro, surgiu entre amigos que produziam cerveja em casa e tiveram a ideia de criar uma cervejaria britânica. Eles viajaram até a Inglaterra para visitar alguns estabelecimentos com o objetivo de estudar o conceito do local e replicar aqui no Brasil.
“Trouxemos toda a ideia da cervejaria de lá. Nós visitamos Skipton, uma cidade no Nordeste da Inglaterra e que é famosa por criar ovelhas e por fabricar grandes cervejas. Trouxemos esse conceito das cervejas mais tradicionais e os elementos que compõem o nosso bar: rock, cerveja e esporte, que são as três grandes paixões da Inglaterra”, comenta o sócio-proprietário, Daniel Reginatto.
Para implantar o estabelecimento, um cervejeiro da Inglaterra visitou as instalações para ajudar na montagem da fábrica em Blumenau e nas receitas. A cervejaria começou com dois estilos, progrediu para quatro e atualmente conta com 12 em linha, sendo que alguns foram adaptados para o mercado e o consumidor brasileiro.
Além disso, a ovelha também é o mascote da cervejaria. O esforço foi reconhecido inclusive pela Embaixada Britânica no Brasil e constantemente recebe turistas que ficam encantados com o local. “Nós queríamos fazer algo diferente e optamos por essa caminhada”, explica.
Hoje, a cervejaria trabalha com uma produção mensal que varia de 15 mil a 20 mil litros. “Na Oktoberfest geralmente é o mês que nós produzimos o dobro, assim como em dezembro”, comenta Daniel.
A Container já trabalhou com a venda para outros estados, mas precisou parar por uma dificuldade logística e tributária, focando as vendas em Blumenau e região. “Cada estado da Federação tem uma legislação diferente, então você tem que fazer um cálculo tributário para chegar no preço, computando a logística. Quanto mais longe, mais difícil é a operação, pois a cerveja fica cara e a venda não se torna competitiva. O ideal para as cervejarias do Vale é vender em um raio pequeno”, frisa.