Como o avanço desenfreado da população humana e do consumo está expulsando outras espécies
Lendo o livro de David Attenborrough, assunto da coluna passada, não consegui deixar de ficar estarrecido com uma de centenas de importantes informações oferecidas pelo autor. Trata-se do espaço que, cada vez mais e mais rápido, a população humana está ocupando no planeta. E se ocupamos espaço para nós, significa que roubamos lugares das outras espécies.
Como todos sabem, existem milhões de espécies de plantas, animais, fungos e organismos microscópicos no planeta. Inicialmente, todas, com reais chances de sobreviver, ocupando, cada uma, seu nicho no equilíbrio ecológico.
Com o avanço desenfreado da população humana, da civilização e do consumo, fomos expulsando as outras espécies e colocando no seu lugar a população humana e as espécies que nos são úteis, principalmente como alimento.
Se pesássemos hoje todas as aves silvestres do planeta, elas comporiam apenas trinta por cento da massa planetária das nossas amigas penadas.
Setenta por cento da massa de aves hoje viventes são de espécies domesticadas, a serviço do estômago e das outras necessidades dos atuais oito bilhões de seres humanos.
Quanto aos mamíferos, a situação está para lá de periclitante. Nas palavras do próprio Attenborough: “96% da massa de todos os mamíferos da Terra é composta por nossos corpos e por animais que criamos para comer. Nossa própria massa responde por um terço do total e nossos mamíferos domésticos, principalmente bois, porcos e ovelhas, respondem pelos outros dois terços”.
Isso significa que, se pesássemos todos (desculpem, mas preciso gritar: TODOS!) os mamíferos selvagens do planeta, de camundongos e morcegos a elefantes e baleias, o conjunto mal atingiria quatro por cento do total! No egoísta prato de cá da balança, 96% do peso; no prato de lá, quatro por cento do peso para as mais de 99% por cento de todas as espécies! Haverá número que revele de forma mais eloquente o atual desequilíbrio ecológico provocado pela humanidade?
Portanto, caras leitoras e leitores, da próxima vez que vocês ouvirem um político usando surrados chavões do tipo: “precisamos proteger o meio ambiente, mas, não podemos esquecer o ser humano”, ou, “é perfeitamente possível conciliar o desenvolvimento com preservação”, podem, antes de chorar, dar uma irônica risadinha com o canto da boca: o sujeito que estiver falando assim só o faz da boca para fora, não tem a menor ideia do que está dizendo.
Para mim, a pior das frases, a que me causa arrepios de ouvir é a tal do “o ser humano em primeiro lugar”, repetida inclusive por gestores ambientais que, em tese, deveriam estar sabendo o que falam. De tanto nos colocarmos em primeiro lugar, principalmente nas últimas décadas, esquecemos de olhar para trás e vermos que estamos ficando cada vez mais sozinhos e suicidamente solitários, não apenas no Universo, mas, agora, também, no próprio planeta Terra.
Dedicado ao amigo ambientalista Vanderlei Paulo Schmitt
Foto Lauro Eduardo Bacca, em 09/04/1983.
Assista agora mesmo!
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