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Como a proposta de reformulação foi recebida pelos usuários do parque Ramiro Ruediger

Tarde de domingo no parque Ramiro Ruediger. Basta observar o cenário em volta para entender por que o projeto de reformulação da área, apresentado por uma empresa semana passada, gerou reações imediatas da população. Crianças brincam de bola sobre o gramado, adultos leem, ouvem música e conversam à sombra das poucas árvores. Faz quase 30 ºC e o parque está cheio.

“Construir algo aqui (no gramado) vai prejudicar a circulação do ar, vai ficar mais quente”, preocupa-se o designer gráfico Anderson Alves, de 26 anos, sentado em uma cadeira de praia sobre uma das partes elevadas do gramado.

Ele e a companheira, Mariana Rorato, de 23 anos, gostam de ir ao Ramiro para relaxar. Do lado deles, crianças e cachorros (no último fim de semana de cada mês os animais domésticos podem circular pelo parque) brincam.

“Vai chamar um público com interesse diferente, não para jogar bola ou trazer o cachorro, como acontece hoje em dia”, prevê Mariana.

A questão de diminuir o espaço livre existente foi levantada depois que o empresário José Figueiredo, de Balneário Camboriú, propôs à prefeitura investir no parque. De acordo com o projeto, seria construída uma praça de alimentação, academia, tirolesa, entre outros novos atrativos. As opções privadas dividiriam lugar com as atividades gratuitas do parque. Figueiredo garante que apenas 12% da área total do Ramiro será privatizada. A garantia não parece tranquilizar os usuários.

Confira aqui uma galeria de imagens do projeto

O secretário de Turismo e gestor responsável pelo Ramiro Ruediger, Ricardo Stodieck, também apontou a necessidade de se preservar a área de gramado e com árvores, em entrevista após a apresentação do projeto.

Parque democrático

Dentro do Ramiro, classes sociais se misturam. Há cachorros de raça, tênis de marca e roupas caras, mas também há os que circulam com vestes simples, cães resgatados da rua e bicicletas de segunda mão. A estilista Andressa Pereira, encostada em uma árvore ao lado do enteado de cinco anos que brinca de futebol com o pai, é contrária à proposta justamente por receio de que essa característica se perca:

“Só vai frequentar quem tem dinheiro. A prefeitura deveria pensar em mais coisas, deveria ter mais parques como esse”, opina.

O engenheiro Felipe Senci também teme uma elitização do público:

“As pessoas vão deixar de vir, vão ficar com vergonha de trazer a sua água, seu suco. Podia investir em outro lugar, a Prainha está morta, por exemplo”.

“Melhorias são interessantes, mas parque é para ser parque. Se for para construir algo comercial que seja ao redor, não dentro. Porque senão vai ser um terreno com uma pracinha”, define o morador do bairro Água Verde, Anderson Alves.

Custo de manutenção

Para manter o parque, a prefeitura gasta entre R$ 30 e R$ 35 mil mensais. Os principais investimentos fixos vão para a jardinagem (materiais e trabalhador) e a limpeza feita por profissionais da Companhia Urbanizadora de Blumenau (Urb). Esporadicamente, quando redes das quadras são danificadas ou algum equipamento depredado, dinheiro extra é solicitado à Vila Germânica, que é responsável pela destinação dos recursos.

Ano passado, a prefeitura anunciou que R$ 120 mil do lucro da Oktoberfest iriam para o parque. Entre os itens da lista estão a reforma da pista de skate, pinturas e instalação de placas de distância na pista de caminhada, bancos e lixeiras novas. O edital de licitação para esses últimos deve sair em breve, garante o diretor de Promoção do Lazer, Fabrício Wolff:

“Já fizemos a quadra de tênis, domingo (25) começa a pintura da pista de caminhada e corrida que está bem apagada, vamos aproveitar para demarcar o estacionamento e a pintura da quadra de basquete. Agora estamos trocando as redes de futebol. Periodicamente tem que fazer manutenção que custa um pouquinho mais. É uma luta diária”, explica.

Vendedores ambulantes temem perder espaço

Ao sair do parque pelo acesso principal, na rua Alberto Stein, o cheiro de churros invade as narinas. Quem não resiste, pede ao vendedor Marcos José Amorim, o Markito, um de chocolate ou doce de leite, os sabores mais tradicionais. Markito é também presidente da Associação de Vendedores Ambulantes de Blumenau. Tem o carrinho desde que o parque foi reinaugurado, há 13 anos, com a construção do lago e da maioria das atrações atuais.

A família Amorim vende pipoca, algodão, churros e cachorro-quente em alguns pontos nas redondezas do Ramiro. São cerca de 30 pessoas envolvidas. No projeto novo, a alimentação seria “gourmetizada”, como comentou o empresário José Figueiredo durante a apresentação da proposta. Geração de novos empregos para uns, preocupação para outros:

“Onde nós vamos trabalhar? Como vamos comer?“, protesta Orlando Amorim, de 64 anos, que vende pipoca ao lado do carrinho do Markito.

O presidente conta que a partir desta segunda-feira, 26, um abaixo-assinado será feito pelos ambulantes. A ideia é reunir mais de 8 mil assinaturas de clientes e usuários do parque e apresentar à prefeitura.

“Como cidadão e ambulante eu sou contra, esse é um espaço bem planejado, não precisa de mudanças tão drásticas. Nós já pedimos para transformar (os carrinhos) em quiosque, mas nunca tivemos retorno”, lamenta.

Mobilizações contrárias

Além do abaixo-assinado, um evento no Facebook convida quem é contrário ao projeto de reforma e exploração comercial do parque a participar de uma manifestação na quarta-feira, 28, às 18h. ‘Vamos abraçar o Parque’ tinha pouco mais de 40 pessoas confirmadas e 140 interessadas até às 7h desta segunda-feira, 26.

“Vamos nos reunir para dizer para a cidade inteira e para a administração municipal que queremos que o Ramiro continue público e para todas e todos”, descreveu Georgia Martins Faust, organizadora do evento na rede social.

Correção

O Parque Ramiro foi inaugurado em 1994, e não 2005, como esse texto informou até 14h50 desta segunda-feira. Em 2005, a área foi reformulada, com a construção do lago e da maioria das atrações atuais.