Compostagem em Blumenau: conheça solução para reduzir lixo e contribuir com hortas
Prática que pode ser feita em casa dá nova utilidade para restos da cozinha
O papel pode ser reutilizado. O plástico utilizado pode ser reduzido. O lixo seco pode reciclado. Mas mesmo quem busca diminuir ao máximo o impacto que causa no meio ambiente encontra um obstáculo: o que fazer com todos os rejeitos orgânicos?
Cascas de frutas, restos de vegetais que não puderam ser aproveitados, borra de café, cascas de ovos… Existem receitas, produtos de beleza e até artesanato que podem ser feitos. Mas na correria do dia a dia esquecemos que o que jogamos no lixo não vai “fora”, e sim para algum lugar da cidade.
Foi essa preocupação que levou Patricia Vetter, moradora do bairro Salto do Norte, a aderir à compostagem. Em um dia de verão, há dois anos, ela comprou uma melancia para fazer um suco refrescante para a família. Quando terminou, percebeu a quantidade de cascas que sobraram e pensou “mas eu também paguei por isso”.
Foi então que ela começou a utilizar os restos orgânicos da cozinha para praticar compostagem. A ideia é que a decomposição dos alimentos se transforme em biofertilizante e adubo para as plantas. Esta solução não apenas ajuda a fortalecer as hortas e flores, mas também reduz os danos ao meio ambiente.
“Na feira você vai escolher a fruta mais bonita. O tomate mais brilhante. Mesmo sabendo que tem mais agrotóxico, a gente quer o mais bonito. Mas e se chegando em casa ele tá esmagado? Tu vai jogar no lixo? Você pagou por aquilo! Será que não poderia ter um destino melhor? Tudo a gente tem que pensar duas vezes”, explica Patricia.
Na época, foi difícil encontrar informação sobre o assunto. Depois de muito pesquisar na internet ela conseguiu adquirir uma adição importante à compostagem: as minhocas californianas. Esta espécie trabalha melhor em locais fechados e por isso é ideal para a prática.
Como o preço do frete era mais caro do que o valor das minhocas em si, Patricia teve a ideia de tornar o hobby uma fonte de renda. Passou a cultivar os animais para revender para quem mais tivesse interesse em compostar. Foi aí que nasceu o MinhaOca. Além disso, ela também vende minhocas para pesca.
“Eu pensei assim ‘quanta gente aqui na região quer tomar essa atitude de começar a fazer compostagem e não sabe onde encontrar minhocas ou não tem condições de pagar o frete’. Aí eu comecei a tornar isso mais acessível pro pessoal. Também faço doações para CEIs para incentivar”, conta.
Além de disponibilizar minhocas e os apetrechos necessários para a compostagem, o MinhaOca também vende biofertilizantes (que provém do chorume que sai da composteira) e húmus – que nada mais é do que o adubo gerado pelas minhocas. Para ajudar quem está começando, Patricia se dispõe para orientar e tirar dúvidas sobre a prática.
“Falta das pessoas de olharem pra si mesmas e pensarem ‘eu vou mudar. Eu vou fazer a diferença. Vou reduzir meu lixo’. Fico bem chateada porque sei que é meu filho quem vai sofrer. Nosso planeta já tá sofrendo, já vemos as consequências, mas as próximas gerações que vão sofrer mais”, alerta.
Como fazer uma composteira em casa
Apesar de parecer complicado, a construção da composteira é bastante simples. São necessários apenas três baldes e folhas secas. As minhocas californianas são uma solução para quem quer facilitar e agilizar o processo, o que evita a proliferação de odores desagradáveis. O húmus tem um cheiro similar a terra molhada.
Os baldes precisam ser propriamente perfurados na base, para a passagem do chorume, e nas laterais do topo, para o respiro das minhocas. Os dois baldes de cima farão a compostagem, enquanto o último recebe o chorume, que é a água riquíssima em nutrientes proveniente da decomposição.
O processo começa com uma forração do primeiro balde (o de cima) com folhas secas. Em seguida, é só jogar os restos de vegetais da cozinha. Preferencialmente picados, para facilitar a decomposição. É também nesta etapa que entram as minhocas, que digerem os alimentos que apodrecem. Para evitar o mau cheiro, é só completar com mais folhas secas – o recomendado é o dobro da altura dos rejeitos orgânicos colocados.
Quando o recipiente estiver quase cheio (cerca de três dedos da tampa) é só completar o balde com mais folhas secas e passar ele pro meio da torre. O que estava no meio vem para cima e o processo se repete. Enquanto o novo balde é cheio, o finalizado passa a virar húmus e libera o chorume para o de baixo.
Para entender melhor o processo, veja esse vídeo explicativo da Patricia, que também inclui dicas para a construção do equipamento:
E agora? Como manter?
Não é todo tipo de alimento que pode ir para a composteira. Patrícia dá algumas dicas para quem fica na dúvida. Na experiência dela, frutas cítricas e ácidas, como abacaxi, limão e laranja afetam a saúde das minhocas. Assim como industrializados e comida temperadas.
As minhocas californianas são sensíveis à luz do sol e calor, por isso a composteira deve ficar em um lugar arejado e longe da radiação solar. Após a decomposição total dos alimentos que dá origem ao húmus, elas devem ser retiradas do balde. A partir daí, elas podem trabalhar em uma nova composteira.
Patrícia recomenda que este húmus não seja utilizado por cerca de 60 dias. Este cuidado é necessário para que possíveis casulos de minhoca possam eclodir antes que elas vão para a terra, onde não sobrevivem. Após este período, o húmus pode ser utilizado misturado à terra, como adubo.
Durante todo o processo o chorume, líquido que cai no balde de baixo, também pode ser utilizado como biofertilizante, enriquecendo as plantas. Por ser extremamente concentrado, ele deve ser misturado à água antes de ir para a terra. A proporção recomendada é de uma parte de chorume para dez de água.
“A gente não vive sem a natureza. Precisamos das frutas e verduras para sobreviver. Fazendo a composteira, devolvemos elas para a natureza da melhor forma possível. E assim como não conseguimos viver sem abelhas, também não conseguimos viver sem a minhoca. Elas fazem um trabalho excepcional na natureza “, defende Patricia.
O kit completo vendido pela MinhaOca, incluindo a composteira (com duas opções de tamanho), as minhocas californianas e a consultoria de compostagem custa R$ 240. Patrícia explica que apesar de não ser barato, este é o único investimento necessário, já que os baldes se alternam e as minhocas são reaproveitadas.
Compostagem dentro da escola
A Escola Básica Municipal Adelaide Starke possuía um projeto de sustentabilidade, uma estrutura pronta para receber uma horta e uma composteira ao ar livre. Entretanto, tudo estava abandonado. Isso mudou neste ano, quando a professora Tânia Regina dos Santos assumiu as turmas do terceiro ano e resolveu colocar a mão na massa.
Apesar de ter feito todo o ensino fundamental na Adelaide Starke, Tânia passou 24 anos lecionando na EBM Visconde de Taunay, que possui um projeto de cuidado com o meio ambiente. Tendo feito parte desta construção, a professora sabia que precisava trazer um pouco disso para a nova escola.
Tânia começou com pequenas atitudes, como separar o resto de papel para reciclagem e as aparas de lápis apontados para a horta. Em seguida, os alunos levaram a iniciativa para as outras salas, visitando cada turma e levando caixinhas para que eles também separassem os recicláveis.
“A melhor coisa é plantar em solo fértil: as crianças. É muito gratificante para o professor ver que o que os alunos vivenciam na escola é levado para cada e incentiva também os pais”, conta Tânia.
Trabalho se torna uma terapia
Na horta, cada turma tem o seu espaço e é responsável pela manutenção. De acordo com a professora, os alunos muitas vezes escolhem passar o tempo trabalhando nela até mesmo durante o recreio.
“O simples fato de vir aqui, mexer na horta e ter essa interação já faz com que eles voltem pra sala de aulas transformados. Um dia dois alunos chegaram na sala nervosos após um desentendimento. Trouxe eles aqui e pedi para me ajudarem. Logo um veio me dizer que estava mais calmo”, celebra a professora.
Para garantir que a composteira sempre esteja cheia, toda a escola contribui com as cascas de frutas, restos de comida e vegetais. No refeitório, um recipiente específico fica ao lado da lixeira para que as crianças possam separar os rejeitos orgânicos do lixo reciclável.
A composteira alimenta a horta, que conta com flores, pepinos, chuchus, taiá, abóbora, chás, ora pro nobis, temperos e diversos vegetais em crescimento. Recentemente, o brócolis deu frutos e as crianças puderam colher o legume e comê-lo na merenda.
“Cada canteiro é um jardim biodiverso. Eu não me preocupo se as plantas vão crescer, o importante é as crianças desenvolverem esse cuidado e diminuírem o desperdício, criando novos hábitos para o futuro delas”, explica Tânia.