Confira cinco motivos para extinção de espécies de árvores em Blumenau
Colonização do Vale do Itajaí teve forte influência no desmatamento das árvores do município
Diversos fatores causaram o início do processo de extinção de algumas espécies de árvores em Blumenau. Entre eles estão o desmatamento, a colonização da região, a exploração madeireira para construção, além da agricultura e pecuária.
O biólogo e educador ambiental Nando Matheus Rocha explica que com a colonização do Vale do Itajaí ocorreu uma ocupação da região e o início de uma exploração para construção. Na época, as casas eram feitas com madeira.
De forma geral, no Sul do Brasil, até 1910 ocorre a exploração artesanal para uso local nas colônias e vilas; em 1920 tem início uma exploração comercial, com ampliação do mercado e transporte facilitado por ferrovias. Conforme aponta o biólogo, o auge da extração foi em 1960 e a diminuição ocorreu em 1970. O principal objetivo era a exportação do produto, que era enviado para Europa e América do Norte.
“As de melhor qualidade, entre elas essas que são consideradas ameaçadas de extinção, eram tiradas em grandes quantidades a um preço muito baixo. Se trabalhava muito para tirar e se ganhava muito pouco, então para ganhar um pouquinho mais, teria que tirar mais madeira”, pontua.
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Indústria madeireira
Conforme aponta o botânico Anderson Kassner Filho, a canela-preta e a peroba foram muito utilizadas para fabricação de móveis e assoalho no século passado.
“Era muito comum aquela dobradinha de canela-preta e peroba, o preto e amarelado como assoalho. A peroba é uma árvore que também é muito explorada, mas não está nas listas atuais de espécies ameaçadas. No entanto, ela deve entrar na próxima quando for publicada”, alerta.
Ele pontua que além da exploração por madeireiras, a diminuição do habitat também é outro fator que implica na extinção das espécies. Anderson explica que a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) aponta graus de ameaça de acordo com alguns critérios, como o tamanho da população e amplitude geográfica de cada espécie de árvore. As categorias vão desde não ameaçada, vulnerável, em perigo, criticamente em perigo até extinta.
“A canela-preta está criticamente em perigo por conta de sua diminuição principalmente provocada pela exploração madeireira. Mas por exemplo, a guamirim-de-reitz não está ameaçado por esse motivo, pois não tem uma madeira muito utilizável. Essa espécie está na lista pois sua área de ocorrência é restrita e por conta da fragmentação de habitats e diminuição das florestas, ela já está vulnerável”, salienta o botânico.
As estradas de ferro, muito comuns na época, eram construídas com troncos de árvores. Em determinados pontos da extensão do trilho, eram utilizados pedaços de madeira. “Tinha que ser essa madeira dura. Não podia ser uma qualquer. Então principalmente a canela-preta, a canela-sassafrás foram as mais utilizadas”, destaca Nando.
Efeitos da agricultura e pecuária
A agricultura utilizada pelos colonizadores europeus também causou impacto nas árvores nativas. Como era necessário grandes áreas para plantar, os locais foram desmatados. Quase ao mesmo tempo, a pecuária bovina também ocupa o espaço das árvores.
“Um gado precisa de muito terreno para poder desenvolver. Se temos muito gado, é mais terreno. Como aqui tínhamos um denso maciço florestal – realmente tínhamos muitas florestas, isso tudo foi derrubado, independente da espécie que havia ali”, explica o educador ambiental.
Com esse desmatamento, as árvores que tinham madeira boa eram transformadas em casas ou eram exportadas. “A função histórica econômica da nossa região é uma das principais causadoras de hoje termos espécies arbóreas ameaçadas de extinção”, salienta Nando.
Áreas específicas
Outro fator que implica na extinção de algumas espécies arbóreas, conforme afirma Anderson, é a distribuição restrita, ou seja, quando ocorre em áreas relativamente pequenas ou regiões específicas.
“Elas são ameaçadas porque só ocorrem naquele lugar e se alguma coisa acontecer, como um empreendimento ou alguém cortar, pode acabar com a espécie”, destaca Anderson.
Banco de sementes danificados
Com a exploração, as espécies ficam isoladas e, apesar de algumas árvores se reproduzirem e gerarem sementes por si só, há aquelas que precisam de um indivíduo feminino e um masculino, como é o caso da araucária. A espécie foi amplamente explorada, mas ainda pode ser encontrada na Serra catarinense. No entanto, o biólogo aponta que há quantidade, mas não qualidade. O motivo é o histórico genético e de cruzamento da planta.
Os incêndios e queimadas de florestas também impactam na qualidade das árvores. Podem ser afetados tanto os indivíduos adultos vivos como o banco de sementes que está no solo. “No Cerrado temos espécies que só nascem após a semente pegar fogo, mas aqui não temos esse tipo de espécie. Se pega fogo em uma área, todo aquele banco de sementes que poderia nascer é perdido também”, explica.
Corte proibido
De acordo com o Código Florestal, a lei federal 4771/65 determina que é proibido “corte das espécies vegetais raras, endêmicas, em perigo ou ameaçadas de extinção”. O texto define que é proibido cortar madeira de lei, provocar incêndios, causar danos aos parques ou reservas biológicas, receber a madeira sem licença ambiental, ou ainda, transformá-la em carvão.
Sendo assim, o ato constitui contravenção penal punível com três meses a um ano de prisão simples; ou multa de uma a cem vezes o salário-mínimo mensal do lugar e da data da infração, ou ainda ambas as penas cumulativamente.
“Tem esse termo que não pode tirar, mas antes da lei podia. Atualmente, podemos culpar quem continua explorando e fazendo isso ilegalmente, temos outra concepção de meio ambiente. Mas na época era o que tinha, era um recurso, o que tinha para trocar por dinheiro, para o desenvolvimento. Cabe a gente observar esse tempo histórico”, analisa Nando.
Regeneração do espaço
Mesmo após o desmatamento para uso da pecuária ou agricultura, ainda é possível regenerar a terra para plantação de novas árvores. Conforme explica Nando, há algumas opções para viabilizar a recuperação, como a agroecologia e a agrofloresta.
A agroecologia tem como base os princípios ecológicos para tratamento e estudos de ecossistemas.
Já a agrofloresta é uma técnica de produção de alimentos que usa os processos ecológicos como promotor para regeneração do solo. O método é utilizado em solos atingidos pelo fogo, em processo de desertificação, que foi muito explorado, ou ainda, em locais onde choveu muito e a terra perdeu os nutrientes.
O educador ambiental explica que o processo inicia com a plantação de espécies resistentes aquele tipo de solo. Com isso, a planta passa a produzir matéria orgânica oriunda das folhas que caem, por exemplo. Com isso, os bichinhos retornam para aquela terra com o passar do tempo. “Dependendo da área, em 20 anos podemos ter até uma nascente surgindo novamente naquele solo”, pontua.
Para fazer a regeneração é preciso plantar espécies que sejam compatíveis com aquele solo. Segundo Nando, não basta plantar qualquer tipo de árvore apenas para “cumprir um laudo”. “Se pensarmos em qualquer área que foi degradada, seja pelo ser humano ou naturalmente, como um morro que deslizou, com o tempo ele vai se regenerar. É um processo natural. O que podemos fazer, que é o que chamamos de recuperação de área degradada, é tentar acelerar esse processo”, comenta.
Exemplo de recuperação
Exemplo do processo natural de regeneração é um pasto desocupado. Com o tempo, se não ocorrer interferência humana, começarão a aparecer plantas pioneiras, como as herbáceas, seguida pela embaúba e a capororoca.
A sucessão vegetacional ocorre no decorrer do tempo e há possibilidade de em 40 anos aparecer espécies que estejam ameaçadas, contanto que em uma área próxima tenha um indivíduo adulto para produzir sementes. “Naturalmente ocorre, mas podemos tentar acelerar esse processo e assegurar que não continue degradando”.
Nando diz que ainda é possível encontrar alguns exemplares bonitos de canela-preta e canela-sassafrás de porte grande, por exemplo. No entanto, na maior parte das vezes são árvores tortas ou ocas que na época não eram utilizadas pois não tinha preço de madeira. “Elas ficaram e ainda bem, pois se não nem teríamos quem pudesse gerar semente para poder continuar perpetuando a espécie”, salienta o educador ambiental.
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