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Conheça a história da Usina Salto, inaugurada em 1914 e ampliada em 2024

Capa: Usina Salto – antiga “Empreza Força e Luz Santa Catarina S.A.”, construída em 1912 para aproveitamento do Grande Salto, localizado no rio Itajaí Açu, próximo a segunda nucleação urbana surgida na Colônia Blumenau, Badenfurt.

A Usina Salto, local que visitamos, a última vez, em 9 de abril de 2024, está localizada em uma região privilegiada sob vários aspectos. O bairro do Salto, onde está a usina, pertence a uma região de Blumenau livre de enchentes e que despertou interesse das primeiras lideranças de Blumenau, ainda no século XIX.

Apresenta uma natureza exuberante, onde o grande rio Itajaí Açu conta com um salto, que tornou a região um ponto focal dentro da paisagem natural da colônia, referenciando-a como o Salto e depois, o bairro do Salto. O local foi registrado em um mapa da Colônia Blumenau desenhado em 1858, sendo o salto, o último elemento natural geográfico marcado no mesmo, sentido Oeste.

Mapa feito somente três anos após a chegada da primeira leva de imigrantes alemães para fundar a Colônia Blumenau, onde é contemplada a presença do Grande Salto.

No início do século XX já eram espacializadas três povoações, atuais bairros de Blumenau: o próprio Salto, Badenfurt e Salto Weissbach, que ocupavam as margens esquerda e direita do rio Itajaí Açu, ainda sem a presença da Ponte Lauro Müller ligando suas margens. Estava em construção desde 1898.

Estação de Salto Weissbach da época.

Badenfurt foi fundado por imigrantes oriundos de Baden, Alemanha, e é registrado como a segunda nucleação urbana surgida na região do Vale do Itajaí, após o Stadtplatz de Blumenau.
O bairro Salto Weissbach, também recebeu famílias ainda no século XIX, pois estava localizado na foz do ribeirão Branco no rio Itajaí Açu, junto à picada da margem direita do rio Itajaí Açu. Teve um impulso no seu desenvolvimento quando recebeu a estação ferroviária da EFSC, inaugurada em 1909, parte do primeiro trecho ferroviário da EFSC inaugurado entre Blumenau e Warnow.

Mapa de parte da Colônia Blumenau desenhado em 1864, com presença dos lotes coloniais; é possível observar a localização do salto, descoberto no rio Itajaí Açu, junto a picada localizada na margem direita do rio, que levava para o Alto Vale, passando pelas nucleações de Salto Weissbach e Badenfurt, como o Salto, já contempladas no mapa. Também é possível reconhecer a localização do rio do Testo e o caminho para Pommer Oder, ou Vale do Testo, além da centralidade de Blumenau – seu Stadtplatz.

Ainda no século XIX, há registros de proprietários que adquiriram lotes coloniais na região e mantinham contato estreito com tudo que ocorria na Colônia Blumenau.
Em Salto Weissbach, por exemplo, em 1872, Luiz Altenburg comprou um lote colonial e construiu um engenho de açúcar, um de farinha de mandioca e um alambique, nas proximidades em que se situava a propriedade de Karl Eugen Richard Hinsch que criou uma Granja Modelo, depois uma Estação Agropecuária até 1911 e, mais tarde, o laboratório Renascim.

Em 1883, foi construída a pequena escola de Salto Weissbach e uma igreja, na qual lecionou August Müller, irmão de Dr. Fritz Müller.

Casa Augenstein construída por Christoph Augenstein – Salto Weissbach, demolida no início do ano de 2024. Propriedade da Igreja luterana Salto Weissbach. Christoph Augenstein doou o terreno para fazer a escola de Salto Weissbach, atual E.B. Christoph Augenstein.

Atual Escola Christoph Augenstein, pessoa que doou as terras para sua construção.

Ainda em 1883, Luiz Abry e Teodor Lüders abrem outra  casa comercial na região. Em 3 de maio de 1909, foi inaugurado o primeiro trecho da EFSC entre Blumenau e Warnow – Indaial.

São alguns aspectos regionais – ou do entorno da Usina Salto – do final do século XIX e início do século XX, caracterizando uma região em franco desenvolvimento.

Residência do primeiro agente ferroviário da estação ferroviária do Salto Weisbach – Rudolf Sprenger.

Propriedade localizada aos fundos da igreja.

A Ponte Lauro Müller

Hercílio Luz.

Na década de 90 do século XIX, houve grandes movimentações das lideranças nacionais, estaduais e locais, em consequência das mudanças sociais. O Brasil passava por uma crise econômica que desestabilizava a política do Império. Na região, um coletor de impostos José Henrique Flores Filho, assumiu o lugar do fundador (1883), que tinha como principal meta integrar os interesses da economia local à economia do país. A abolição da escravatura, em 1888, incendiou os ânimos dos republicanos, fortalecendo-os e culminando com o golpe Proclamação da República (1889) que surpreendeu os moradores do Vale do Itajaí. O Partido Republicano estabeleceu-se na cidade, tendo como líderes o baiano José Bonifácio da Cunha, Hercílio Pedro da Luz e Victorino de Paula Ramos.
Esses novos líderes políticos saem fortalecidos após essas mudanças, e são agora os novos representantes das lideranças econômicas e políticas locais – estaduais e os grandes atores nas ações para promoção do desenvolvimento social e econômico local e realizações no Vale do Itajaí, no início do século XX.
Alguns acontecimentos, como o término da escravatura no Brasil, as instabilidades dos primeiros momentos do regime republicano e a queda na arrecadação de impostos neste novo regime de governo, refletiram, naturalmente, na redução de melhorias na infraestrutura de uma maneira geral, com reflexos na região do Vale do Itajaí.
O republicano engenheiro Hercílio Pedro da Luz, chefe da Comissão de Terras e Colonização de Blumenau, assumiu o governo do Estado em 1894, após a Proclamação da República, por ser um dos líderes republicanos de Floriano Peixoto.
Nesse tempo, em 1896, Hercílio Pedro da Luz idealizou e deu início à construção da Ponte Lauro Müller, em Blumenau. Somente iniciou; mais especificamente, na povoação de Salto.

Após o início da construção da ponte, Coronel Feddersen fez parte da equipe de idealizadores da construção da ferrovia EFSC – cujo primeiro trecho foi inaugurado em 1909. Feddersen, como demais empresários, também desejava a construção da ponte Lauro Müller, para efetuar a ligação das duas margens do rio Itajaí Açu – próximo às povoações de Salto Weissbach, Badenfurt e Salto. E também, apoiou a construção da hidrelétrica aproveitando a força das águas do salto existente no Itajaí-Açu. No caso da ponte, Feddersen possuía terras nas imediações e convenceu lideranças locais sobre o local em que deveria ser construída. Contou com o parecer técnico de Heinrich Krohberger (irmão da bisavó de Niels Deeke) e Emil Odebercht, que atestavam que se a ponte fosse construída no centro de Blumenau, custaria três vezes mais que o valor da ponte do Salto.

Também Gustav Salinger possuía terras na cabeceira da ponte localizada à margem direita do Itajaí Açu. Salinger adquiriu o terreno em 1902, junto com dois outros investidores. Em 1912, Salinger construiu o Casarão Scardueli no local, que ainda faz parte da paisagem atual.

Local do Casarão construído em 1912 por Gustav Salinger, na cabeceira da ponte, margem direita do rio.
Casarão Scardueli em 2024, em restauro que vem sendo efetuado por uma família de Witmarsum, Alto Vale do Itajaí.

A Ponte Lauro Müller foi inaugurada em 26 de junho de 1913, com presença da ferrovia EFSC, que tinha seu traçado passando sob sua pista de rodagem da ponte, na margem direita do rio Itajaí Açu, próximo ao Casarão Sacardueli, que já estava na paisagem. Nascia uma povoação com uma infraestrutura considerável. A Usina Salto estava em construção.

Lauro Müller participou do golpe – Proclamação da República. Deixou sua cidade natal com a idade de 14 anos. Lauro Müller nasceu em Itajaí em 8 de novembro de 1863, filho de Peter Müller e de Anna Maria Michels Müller, imigrantes alemães, que como outros ajudaram a desenvolver Itajaí, que no século XIX, tinha estreito laço com a Colônia Blumenau. Os Müller chegaram, antes, de residir em Itajaí, residir na Colônia de São Pedro de Alcântara. Depois a família trabalhou em Nossa Senhora do Desterro, e depois, em Itajaí, onde nasceu Lauro. Ele estudou em escolas de língua alemã em Itajaí e em Blumenau. Com 14 anos de idade, se mudou para o Rio de Janeiro, onde foi morar com um tio, que o empregou no comércio. Em 1882, matriculou-se na Escola Militar da Praia Vermelha, três anos mais tarde, foi promovido ao posto de Alferes. Formou-se em Engenharia, em 1888. Suas promoções militares seguiram-se até 1921, quando chegou a patente de General de Divisão do Exército Brasileiro. Durante sua formação militar, teve como professor e mentor, Benjamin Constant, um dos líderes do golpe de estado chamada de Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. Lauro Müller participou ativamente do movimento e, por recomendação de Benjamin Constant e de Esteves Júnior, foi nomeado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, chefe do governo provisório instalado, para ser o primeiro Governador republicano de Santa Catarina. Tomou posse em 2 de dezembro de 1889, substituindo a Junta Governativa Provisória de 1889, formada por Raulino Horn, João Batista do Rego Barros Cavalcanti de Albuquerque e Alexandre Marcelino Bayma. Foram seus interinos na função o primeiro Vice-Governador (Raulino Horn) e depois Gustavo Richard – que transmitiu o cargo em 10 de novembro de 1891. Em setembro de 1890, Lauro Müller foi eleito Deputado Federal por Santa Catarina, pelo Partido Republicano Catarinense (PRC), à Assembleia Nacional Constituinte e à 22ª Legislatura (1891-1893). Apoiou o decreto do Presidente Deodoro da Fonseca, que dissolveu o Congresso Nacional, em 3 de novembro de 1891. Uma semana depois, reassumiu o Governo de Santa Catarina, eleito pelo Congresso Representativo catarinense, renunciou 48 dias depois, após forte pressão civil e militar dos federalistas, que já haviam provocado a renúncia de Deodoro semanas antes. Transmitiu o governo para Firmino Lopes Rego, que governou por um dia e transmitiu a função para a Junta Governativa de 1891, formada por Arthur Deocleciano de Oliveira, Cristóvão Nunes Pires e Luís dos Reis Falcão. Com a reabertura do Congresso Nacional pelo golpista algoz de catarinenses, Floriano Peixoto, reassumiu as atividades de Deputado Federal em 7 de outubro. Reelegeu-se ao cargo para a 23ª Legislatura (1894-1896) e para a 24ª Legislatura (1897-1899). Em 1900, foi eleito Senador de Santa Catarina, pelo PRC, e compôs a 25ª Legislatura (1900-1902). No período, atuou como conciliador durante as disputas internas no PRC, tornou-se o principal nome do partido e novamente eleito governador de Santa Catarina. Foi empossado em 28 de setembro, renunciou após 44 dias, optando por aceitar o convite do Presidente eleito do Brasil, Rodrigues Alves, para o cargo de Ministro da Indústria, Viação e Obras Públicas. Assumiu a administração estadual Antônio Pereira da Silva e Oliveira (Presidente do Congresso Representativo do Estado – atual Assembleia Legislativa) e respondeu de 10 a 11 de novembro de 1902, depois alternou a governança com o Vice-Governador, Vidal Ramos. Conduzido para mais dois mandatos no Senado Federal, Lauro participou da 27ª Legislatura (1906-1908) e 28ª Legislatura (1909-1911). Em 14 de fevereiro de 1912, assumiu como Ministro das Relações Exteriores, nomeado pelo Presidente Hermes da Fonseca, em substituição ao Barão de Rio Branco, falecido 4 dias antes. Foi mantido no mesmo ministério no governo de Venceslau Brás (1914-1918); porém, pediu demissão em meados de 1917, sobretudo pelos desdobramentos da Primeira Guerra Mundial, tendo sua origem alemã usada por críticos para desestabilizá-lo. De volta a Santa Catarina, foi Vice-Governador na gestão de seu primo, Felipe Schmidt, que governou de 1914-1918. Conquistou nova eleição para Governador no mesmo Estado, em 1918, mas abdicou e não compareceu à posse, assumindo o Vice-Governador eleito, Hercílio Luz. Entre 1917 e 1926, exerceu mandato de Senador, eleito pelo PRC, nos seguintes períodos: 30ª Legislatura (1915-1917); 31a Legislatura (1918-1920); 32a Legislatura (1921-1923); 33ª Legislatura (1924-1926). Faleceu em 30 de julho de 1926, no Rio de Janeiro.

Seu nome, Lauro Müller, foi dado à segunda ponte construída sobre o rio Itajaí Açu, em Blumenau, construída, graças a outro republicano, Hercílio Luz.

Registro da inauguração da Ponte Lauro Müller em 26 de junho de 1913, no momento em que passava o trem da EFSC.

Usina Salto

A usina hidrelétrica – segunda do Vale do Itajaí, completa 110 anos em dezembro de 2024, segunda usina hidrelétrica do Vale do Itajaí. A primeira foi de Friedrich Busch. A Usina Salto está localizada na Rua Bonfim, S/N, no bairro do Salto, Blumenau e é administrada pela CELESC – Centrais Elétricas de Santa Catarina.

Fonte Google Earth 2024.

Até inauguração da Usina Salto, a cidade de Blumenau tinha sua iluminação pública a gás, exceto, os locais que recebiam o excedente elétrico produzido pela usina localizada na propriedade de Friedrich Wilhelm Busch, no Gasparinho.

Em 1912 um grupo de empresários de Blumenau recebeu a concessão da Câmara Municipal e tinham capital da Alemanha para investir na usina hidrelétrica no Salto. Temos três versões sobre os nomes daqueles que construíram a Usina Salto, em Blumenau.

1ª Versão – Publicação CELEC de 1994

De acordo com a publicação da CELESC de 1994, os empresários que construíram a Usina Salto foram: Gustav Salinger (construiu o Casarão Scardueli), Paul Zimmermann e Jens Carl Jensen.

2ª Versão – Resultado de Nossa Pesquisa

Em nossos registros, os construtores da Usina Saltou foram: Gustav Salinger, Peter Christiano Feddersen e Paulo Zimmermann. Foram estes que receberam a concessão da Câmara Municipal de Blumenau, em 1912.
Politicamente, estes senhores eram alinhados. Um fato que comprova esta afirmativa é de que no dia 24 de maio de 1914 se reuniram os “descontentes” com a política de Alwin Schrader no salão de propriedade de Júlio Pupitz (cunhado de Leopold Hoeschl) – no Passo Manso, e lançaram a candidatura de Paulo Zimmermann – que pertencia ao grupo político de Peter Christiano Feddersen – à sucessão da Prefeitura de Blumenau. Paul Zimmermann tinha comércio na localidade de Fidélis; era casado com Johanna Jensen, irmã Jens Carl Jensen, que foi pai de Wilhelm (Guilherme) Jensen (Cia Jensen), e dotado de grande prestígio comercialmente, na comunidade, por conta da indústria de laticínios que florescia.

Itoupava Central – Jens Jensen faleceu em 23 de março de 1899 e assim desapareceu sua firma individual. A esposa Carolina dá continuidade ao projeto, agora tendo como sócios Jens Carl Jensen e Paul Zimmermann, surgindo assim a Jensen & Cia. GERLACH, 2019.

Nesta época Zimmermann era agrimensor prático e também trabalhava na abertura de estradas na zona do médio e Alto Braço do Sul e também era Conselheiro do Município. Comenta-se que Peter Christiano Feddersen fez grande lobby e buscou parceiros políticos para este investimento, devido a localização de terras que possuía na região.

3ª Versão – Publicada no livro Colônia Blumenau Sul do Brasil

Uma de nossas fontes de pesquisa importantes, que respeitamos muito. Na publicação diz:

“Hidrelétrica do Salto do Rio Itajaí-açu. Propriedade da Firma Feddersen, Jensen e Zimmermann. A 1º de maio de 1915 entrou em funcionamento com 2 turbinas e geradores com capacidade de 1.750 Kva cada um. Antes, em 1909, em Gaspar Alto, Frederico Guilherme Busch Senior instalara uma pequena usina, proporcionando assim o conforto da energia elétrica, propulsora do desenvolvimento comercial. Aqui nascia a futura Celesc.” GERLACH, 2019

Confirmamos nossa versão (a número 2) pelo aspecto histórico dessa sociedade. Os fundadores foram: Gustav Salinger (construtor do Casarão Scardueli, Peter Christiano Feddersen e Paul Zimmermann. Salinger e Feddersen já eram sócios em outros negócios. Para o projeto e sua execução da usina, contrataram engenheiros paulistas, que a construíram em apenas 2 anos.
A Usina Salto entrou em operação dois dias antes do Natal de 1914; na época, como “Empreza Força e Luz de Santa Catharina S.A.”. Existiu até 1965, quando o Estado de Santa Catarina passou a fazer parte do sistema interligado nacional, com a criação da concessionária estatal, no caso a CELESC.

Pela primeira vez, naquele ano os blumenauenses festejaram o nascimento de Jesus iluminados por uma força que, mesmo não sendo celestial, era misteriosa e transformadora. É bem verdade que a energia elétrica não era algo totalmente desconhecido na cidade. Desde 1909, quando as ruas centrais ganharam 116 lâmpadas, sucateando o sistema de iluminação pública a gás, a eletricidade passou a ser entendida – e esperada – como uma grande solução do mundo moderno. O que Blumenau pedia – e agora começava a ter – era energia de boa qualidade em quantidade satisfatória. De 1909 a 1914, a cidade recebia alguns quilowats gerados numa pequena usina em Gasparinho, localidade rio abaixo, de propriedade de Frederico Busch. Circuito – Jornal Celesc 1994.

Não vimos essa placa em nossa visita de abril de 2024. Nela há a comprovação da inauguração da usina histórica. Este registro foi feito em 2014, quando a usina completava 100 anos.

Publicação da CELESC – Jornal Celesc – Ano 1994

O edifício da usina, ainda mantém preservados os relógios e o painel de controle, em mármore italiano, e ainda hoje, a usina funciona com os equipamentos originais alemães. Durante depoimentos na passagem do 80° aniversário de existência, foi dito que entre o patrimônio material, ainda estava o escafandro usado nas atividades submersas e até ali, a usina estava usando o primeiro equipamento alemão instalado. Se ainda estiver em poder da CELESC essa peça de museu, provavelmente fará parte do museu da eletricidade que pretendem montar em um espaço que será reformulado para tal e aberto à comunidade, mantido pela concessionária.

Fotografamos o painel de controle, em mármore italiano em dois momentos: 2014 e 2024. Em 2024 não está muito bem cuidado, ao menos quanto à limpeza do mármore.
Local que será preparado par receber o Museu da Eletricidade de Santa Catarina. Pessoalmente, cremos ser um espaço pequeno, lembrando que existem peças grandes, por ser uma geradora de energia.
Fritz Mailer – 2010.

Relataram nesse momento, pela publicação da CELESC, de 1994, que cinco meses após a instalação da primeira máquina, em 12 de maio de 1915, foi instalada a máquina II, para atender à demanda que aumentava. Surgiram as redes de alta tensão, através das linhas de transmissão, que chegavam em Itajaí, Brusque, Ibirama, Rio do Sul, Jaraguá e outras nucleações. Em 1929 foi instalada a máquina III, como as duas primeiras, também veio da Alemanha. Fritz Mailer, que dançava no Grupo de Dança Sênior 25 de Julho e se aposentou na CELESC, contou sobre o trajeto das máquinas, da Alemanha até o local da usina. Disse que as máquinas vinham de navio até Itajaí e do porto marítimo, eram transportadas em chatas pelo rio Itajaí Açu, até Blumenau, onde eram descarregadas no porto fluvial de cargas de Itoupava Seca. Do porto de Itoupava Seca até o Salto, eram transportadas em carroções tracionados por 8 cavalos.

Máquina I e II instaladas.
Máquinas alemãs e datas de sua instalação. Publicação CELESC outubro 1994.

Em 1939 foi instalada a IV máquina e a usina passou a ter a capacidade de geração de 6,8MW.
Atualmente a CELESC continua administrando a usina e tem um projeto para sua ampliação com objetivo de aumentar sua produção de energia.
Vamos acompanhar esse momento histórico, efetuando registros da execução final desse projeto, no momento em que for apresentado à comunidade. Nós o conhecemos ao ser apresentado ao COPE – Conselho Municipal do Patrimônio Cultural Edificado de Blumenau. Será uma grande interferência da área ocupada pelas instalações históricas.
O atual edifício do patrimônio histórico arquitetônico de Blumenau e de Santa Catarina é tombado, apresenta uma concepção arquitetônica eclética, com linhas predominantes do neoclássico e Art Decó. Está inserido em uma paisagem natural quase intacta, deslumbrante, compondo com o conjunto maior da comunidade, que possui elementos históricos na paisagem do Salto – como é o caso da casa dos engenheiros, construída em técnica construtiva enxaimel, do Casarão Scardueli, e da ponte de ferro Lauro Müller.

Casarão do Engenheiros. Fotografia de 2014, localizada na rua Estrela.

Como uma obra de engenharia, a Usina Salto é um exemplar que se destaca pela ousadia da construção de sua estrutura fixada sobre pedras, autoportante de tijolos maciços e pedras. Essa estrutura autoportante não deve ser modificada, furada ou retirada pela segurança estrutural do edifício histórico, que, em momentos de cheia do rio, ainda recebe a força adicional do impacto das águas. Porão com espaços livres, estruturados com abóbodas e arcos. Lugar muito bonito.

Tombamento – Usina Salto – Patrimônio Histórico Arquitetônico

Casa de Força.

O complexo da Usina Salto é tombado pelo município. O tombamento seguiu a recomendação do Ministério Público de Santa Catarina – MPSC. Para o órgão, a Usina Salto constitui um marco do desenvolvimento social e econômico do município.
Em 2019, o Município de Blumenau informou ao Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) que cumpriu integralmente a recomendação para realizar o tombamento dos equipamentos e maquinários da Usina  Salto.
A recomendação para o tombamento dos bens móveis da Usina foi expedida pela 5ª Promotoria de Justiça da Comarca de Blumenau, em dezembro de 2016, em complementação a outra recomendação, cumprida em novembro desse mesmo ano – 2016, para o tombamento do edifício histórico e seu entorno, que sofrerá modificações com a execução do projeto que em breve será iniciado. O entorno da usina histórica sofrerá grandes modificações.
A Procuradora de Justiça Monika Pabst, à época, titular da 5ª Promotoria de Justiça, relata que o inquérito civil que resultou no tombamento foi aberto a partir de representação da historiadora Ana Maria Ludwig Moraes, com a notícia de que a Usina Salto estaria submetida a esta ampliação e consequentemente, susceptível às alterações do seu entorno. A Procuradora mencionou ter ciência da importância histórica da hidrelétrica para a região, e recomendou a proteção do patrimônio histórico por meio do tombamento.

Casa de Força.
Oficina.

As edificações históricas que fazem parte do complexo da Usina Salto foram tombadas por decreto municipal, em novembro de 2016. Porém, a Promotoria de Justiça notou que os instrumentos e maquinários históricos do início do século XX, identificados em vistoria, acompanhada pelo Instituto Histórico de Blumenau realizada no curso do inquérito civil, não foram contemplados no processo de tombamento. Foi então que, em dezembro de 2016, o Ministério Público recomendou a catalogação e o tombamento dos bens móveis.
No final do mês de fevereiro de 2019, o processo de tombamento dos bens móveis da Usina Salto foi finalizado. Mais de 100 objetos foram catalogados por funcionários da Celesc Geração, sob a supervisão da Fundação Cultural de Blumenau (FCBlu). Foram listados painéis, estantes, medidores e ferramentas, entre tantos outros objetos usados na geradora, que permanecem soba guarda da CELESC e agora integram o Patrimônio Histórico do Município de Blumenau.
Em nossa visita ao local da usina em abril de 2024, observamos a troca de uma porta original da construção histórica, do acesso ao porão, por uma feita com material do tipo tela, atual. Também há aberturas retiradas do vão. Seria muito bom que todo o edifício fosse mantido original, como vemos acontecer com outros patrimônios tombados que sofrem fiscalização rígida por parte dos órgãos e instituições de fiscalização.

Porta de acesso ao porão – retirada do local e substituída por outra feita com material atual.

Entre os equipamentos, está o painel de instrumentação em mármore e madeira, em estilo Art’ Decó, do início da década de 1920. O mármore, originário da Itália, com os instrumentos de medições elétricas, vindos da Alemanha, é um dos equipamentos mais antigos na lista dos objetos tombados. De acordo com o site da prefeitura municipal de Blumenau, será feita uma vistoria, uma vez por ano, um trabalho de revisão do tombamento e o pedido de inclusão de novas peças no acervo, caso necessário, será solicitado.

Equipamentos alemães do painel de mármore italiano.

“Edificação, equipamentos e maquinários históricos da Usina Hidrelétrica do Salto Weissbach agora são patrimônio histórico protegido.” IPatrimônio – Prefeitura Municipal de Blumenau.

          • Prefeitura Municipal de Blumenau-SC
          • GPH – Gerência de Patrimônio Histórico
          • Nome Atribuído: Imóvel à R. Bonfim, s/n
          • Localização: R. Bonfim, s/n – Blumenau-SC
          • Processo de Tombamento: Processo n° 2012−002
          • Resolução de Tombamento: Decreto n° 11.120, de 21/11/2016
          • Inscrição no Livro do Tombo: V. 2, n° 12

Projeto de ampliação analisado no Conselho Municipal do Patrimônio Cultural Edificado – COPE

Projeto de ampliação da Usina Salto apresentado pela CELESC, em 30 de novembro de 2022, no Conselho Municipal do Patrimônio Cultural Edificado – COPE, de Blumenau.
O projeto alerta que a Usina Salto foi a maior usina do Estado na sua época. Iniciou a operação com uma capacidade instalada de 6.280 kW. Para efeitos comparativos, até aquele momento Santa Catarina possuía três usinas, a Usina Maruim (São José), com capacidade de 600 kW, a Usina Piraí (Joinville), com 400 kW e a Usina São Lourenço (Mafra), com 420 kW.

Esquemático do projeto básico

  • Escavação de um novo canal de adução.
  • Construção de uma Segunda Casa de Força.
  • Instalação de 2 novas unidades geradoras.
  • Casa de Força original permanece em operação.
  • Sem alterações no reservatório atual.

Dados Técnicos

Potência Atual 6,28 MW
4 unidades geradoras
Potência da Ampliação 23,00 MW
2 unidades geradoras
Potência Total Projetada 29,28 MW

Suficiente para atender
84 mil residências Aproximadamente.

Fonte: CELESC

Fonte: CELESC.
Fonte: CELESC.

Casa de Força – Seção Transversal.

Casa de Força – Seção Transversal.

Casa de Força – Vista de Montante

Visita ao local Histórico da Usina Salto – 9 de abril de 2024

Estivemos no local da Usina Salto a convite da Celesc representada por seu Assessor de Comunicação Victor Vinícius, para dar um depoimento sobre o valor histórico desse patrimônio para a Região e Blumenau e também, comentar um pouco sobre sua história, que demonstra a preocupação da empresa por esta questão específica.

Assessor de Comunicação da CELESC, Victor Vinícius.

O nosso parecer sobre a importância do local e da região em que se situa a Usina Salto fará parte de um documentário a ser apresentado à comunidade de Blumenau, em 27 de abril de 2024 – no evento CELESC – Portas Abertas. Vemos com um pouco de preocupação, a ocupação do local. Mesmo tendo sido informados da contrapartida social, a materialização de um Museu da Energia Elétrica de Santa Catarina necessita de cuidados – manutenção do lugar e estar aberto ao público. Tudo depende da sensibilidade das pessoas que estão à frente da obra de ampliação da Usina Salto. O local sobreviverá a nós, e nós optamos por refletir sobre o que deixamos para aqueles que ocuparão nosso lugar na sociedade, na cidade.
O local é maravilhoso e na proposta que apresentamos em nosso Trabalho de Conclusão de Curso – Arquitetura e Urbanismo, em 1996, propomos para o local, ou para parte dele, áreas de visitação e contemplação, e uma pousada em um dos edifícios históricos, que continuará em atividade e permanecerá em uso na proposta do atual projeto de ampliação da Usina Salto. O trabalho foi inserido em uma edição do Jornal de Santa Catarina, em 12 de novembro de 1996.

O Projeto foi publicado em nosso primeiro livro “A Estrada de Ferro no Vale do Itajaí – Resgate Ferroviário, Blumenau – Warnow”, Edifurb. Blumenau, 2001.

Estaremos atentos às movimentações em torno dessa obra de revitalização e ampliação coordenada pelas CELESC. Essa publicação permanecerá aberta.

Registraremos para a História.

Outros registros feitos em 9 de abril de 2024

Vídeo

Fotografias

Um registro para a História!

Referências

  • Brasiliana Fotográfica. Imagens de Blumenau: por Bernardo Scheidemantel e em um álbum do início do século XX. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/?p=16234.
  • Brasiliana Fotográfica. Instituto Moreira Salles. Álbum de Blumenau – Rua com casas na margem. Disponível em: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/2627.
  • DEEKE, José. Traçado dos primeiros lotes Coloniais da Colônia Blumenau. 1864. In: FUNDAÇÃO CULTURAL DE BLUMENAU. Arquivo Histórico José Ferreira da Silva. Colônia Blumenau. Mapas.
  • GERLACH, Gilberto Schmidt. Colônia Blumenau no Sul do Brasil / Gilberto Schmidt-Gerlach, Bruno Kilian Kadletz, Marcondes Marchetti, pesquisa; Gilberto Schmidt-Gerlach, organização; tradução Pedro Jungmann. – São José: Clube de Cinema Nossa Senhora do Desterro, 2019. 2 t. (400 p.): il., retrs.
  • IBGE. Biblioteca. Catálogo.
  • IPatrimônio. Blumenau – Usina Hidrelétrica do Salto. Patrimônio Cultural Brasileiro. Disponível em: http://www.ipatrimonio.org/blumenau-usina-hidreletrica-do-salto/#!/map=38329&loc=-26.85838013872656,-49.10785675048828,12 . Aceso em: 23 de agosto de 2022 – 20:04h.
  • Jornal da CELESC. Usina do Salto: 80 anos. Edição: Maria Alauci Macarini. N°22, outubro de 1994
  • Ministério Público de Santa Catarina. Equipamentos da Usina do Salto são reconhecidos como patrimônio histórico. 11/3/2019. Disponível em: https://www.mpsc.mp.br/noticias/equipamentos-da-usina-do-salto-sao-reconhecidos-como-patrimonio-historico . Acesso em 23 de agosto de 2022 – 19:59h.
  • SILVA, José Ferreira da. História de Blumenau. 2.ed. – Blumenau: Fundação “Casa Dr. Blumenau”, 1988. – 299 p.
  • WETTSTEIN, Phil. Brasilien und die Deutsch-brasilieniche Kolonie Blumenau. Leipzig, Verlag von Friedrich Engelmann, 1907.
Leituras complementares, Clicar sobre o título escolhido:

Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
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