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Conheça a luta de um bebê e de uma família blumenauense contra o câncer

Theodoro Boeing, de apenas 1 ano e 6 meses, está em tratamento contra um neuroblastoma

Theodoro Boeing é um bebê blumenauense de 1 ano e 6 meses que foi diagnosticado com um neuroblastoma em fevereiro deste ano. Após apresentar febre, o menino foi levado ao médico, que por meio de uma “intuição” sugeriu que fosse realizada uma tomografia.

Inicialmente, a suspeita era de uma síndrome pós Covid-19, visto que a família havia contraído o vírus um tempo antes. No entanto, o exame detectou um tumor na parede supra renal de Theo, como é apelidado o menino.

Theodoro Boeing. Foto: Arquivo pessoal.

Sobre o neuroblastoma

De acordo com o Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC), dentre os tumores malignos que ocorrem na infância, o neuroblastoma é um dos mais frequentes.

Trata-se de um tumor sólido e extracraniano que se origina das células primitivas da crista neural, precursoras do sistema nervoso simpático. A doença acomete crianças com idade média de 19 meses e, segundo o Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), atinge aproximadamente um a cada 7 mil nascidos.

Theo possui um neuroblastoma considerado de alto risco, sendo designado como uma amplificação do gene N-myc. A família do menino afirma que não possuem certeza se ele já nasceu com o câncer ou se desenvolveu depois, porém, Abel Boeing, pai de Theo, conta que nos três meses anteriores à descoberta, houve um crescimento muito rápido do tumor. Quando receberam o diagnóstico, já estava com aproximadamente 8 cm de diâmetro.

Theodoro Boeing. Foto: Arquivo pessoal.

Tratamentos

Logo após o resultado dos exames, o tumor foi extraído. O diagnóstico na época era de um caso mais leve, que necessitaria de um tratamento de apenas três meses. No entanto, após o resultado da biópsia ter sido de N-Myc amplificado, o protocolo precisou ser alterado.

No momento, Theo está passando por um tratamento de quimioterapia intenso e agressivo. O bebê precisa cumprir ciclos de três dias internado, recebendo medicação, para sete dias de recuperação em casa.

Atualmente, após a cirurgia, Theo não apresenta mais sintomas do neuroblastoma, no entanto, sofre os efeitos do tratamento oncológico, que tem o objetivo de eliminar as células “cancerígenas” presentes em qualquer parte do corpo, para que não se tornem novos tumores, visto a característica violenta do tumor extraído.

“Dói demais ver ele chorar desesperado a cada acesso feito e a cada efeito dos medicamentos. Dói ver ele carequinha e já com cara de quimioterapia. Sempre fomos muito otimistas com a vida, mas, no fundo, existe o medo de perder ele. E isso é o pior de tudo”, desabafa Abel.

Próxima etapa em Curitiba

Nos próximos três meses, será realizada uma nova fase do tratamento, em Curitiba. Theo ficará internado no hospital Pequeno Príncipe, onde passará por um “autotransplante”, cujo intuito é fazer a produção da medula voltar a funcionar.

A nova etapa consiste em um processo no qual o sangue sai por um braço, passa por um aparelho que extrai as células, e volta para ele por outro lado. Posteriormente a isso, será necessário fazer sessões mais intensas de quimioterapia e também radioterapia, para acabar com o que restar de células do tumor.

“O que mais esperamos é que essa fase passe e que tudo ocorra bem. Que ele continue forte, como está sendo até agora”, diz Abel.

Theodoro e Abel Boeing. Foto: Arquivo pessoal.

Uma triste coincidência

Abel já venceu uma leucemia, no entanto, o diagnóstico de Theo não tem relação com o histórico de câncer do pai. Contudo, foi um choque para Abel receber a notícia de que o filho passaria por processos e sintomas muito parecidos com o que ele enfrentou no passado.

“Todo o lado pesado da minha experiência, que deixei de lado desde que venci a Leucemia, vieram à tona. Cada dor, cada sofrimento causado pelo processo, cada amiguinho que não vi mais, tudo me veio à mente. Pensar que meu pequeno passaria por tudo aquilo me deixou “travado” durante um bom tempo”, relembra Abel.

O pai confessa ainda se questionar do motivo para tal coincidência estar acontecendo, mas também afirma acreditar que sua experiência passada está servindo como base para enfrentar a luta com Theo.

“A real é que daria tudo para estar no lugar dele. Mas agora eu penso que se eu venci, ele também pode e vai vencer”, declara o pai do menino.

Theodoro e Abel Boeing. Foto: Arquivo pessoal

Alegria de Theo

De acordo com Abel, apesar das dificuldades enfrentadas com o tratamento, Theo é um bebê muito alegre. Ele conta que o menino não é teimoso ou difícil de lidar e que uma de suas características é ser muito observador.

Theo possui muita energia, gosta de passear, andar de carro, além de reagir muito bem a estímulos musicais. Entretanto, durante o período fora do hospital, a família precisa ficar a maior parte do tempo sem muito contato externo, devido à imunidade sensível do bebê.

Segundo Abel, a parte mais complicada do processo é manter o menino em uma cama de hospital por três ou quatro dias. “Ele é muito ativo e se não fosse pela carequinha, ninguém diria que ele passa por isso. É uma criança que sofre, mas logo após cada momento de dor já está sorrindo novamente”, afirma Abel.

Theodoro Boeing. Foto: Arquivo pessoal.

Fenilcetonúria

Além do neuroblastoma, Theo também possui um quadro genético chamado fenilcetonúria, que consiste em uma doença rara responsável por impedir o processamento normal de qualquer tipo de proteína pelo organismo.

A fenilcetonúria é uma condição que já nasce com o indivíduo e não tem cura, é apenas tratada com dieta restrita e complementação alimentar. As consequências do não tratamento podem ser quadros de retardo no desenvolvimento neurológico, convulsões, microcefalia, entre outros efeitos a médio e longo prazo.

Apesar de raro, o caso de fenilcetonuria de Theo é mais leve, por isso, a dieta foi flexibilizada para ele conseguir passar pelo tratamento contra o câncer com mais força. Porém, ao fim desse processo, a família pretende retomar os cuidados com a Fenilcetonuria e ir atrás de alguns exames específicos, com custo mais alto, que vão ajudar a detalhar o problema e facilitar um pouco a vida de Theo.

Realidade da família

Abel e Tatiane Boeing vivem praticamente em função integral do filho. O bebê precisa de supervisão o tempo todo, para evitar que ele se machuque ou danifique algum acesso de remédio.

“Está pesado. Às vezes vamos levando quase que no automático, fazendo o que tem que ser feito. Tentamos não pensar na gravidade da situação, mas a realidade sempre vem, e o coração fica esmagado ao enxergá-la”, desabafa Abel.

Abel e Theodoro Boeing. Foto: Arquivo pessoal.

Nos dias de internação, Taty, como é chamada, fica com o menino no hospital durante todo o processo. Abel permanece no local até às 21h e, após esse horário, vai para casa se dedicar a algumas demandas do seu trabalho de videomaker autônomo.

No geral, a rotina de Taty é cuidar de Theo. De acordo com a família, é necessário manter uma série de cuidados para evitar a contaminação de bactérias, por conta da imunidade do menino. Isso somado ao cuidado natural exigido pela fase do bebê, gera uma necessidade de atenção muito intensa, que fica em grande parte sob responsabilidade dela.

“Sei que para ela é ainda mais pesado, pois está quase o tempo todo com ele. É uma realidade de internações, procedimentos, noites mal dormidas. A ansiedade e a renúncia dos cuidados próprios em prol dos cuidados com ele têm trazido uma carga psicológica enorme para ela”, compartilha Abel.

Tatiane e Theodoro Boeing. Foto: Arquivo pessoal.

Nos demais dias, sempre há exames e consultas complementares para fazer, o que compromete bastante o fluxo de trabalho de Abel. Ele afirma encaixar as demandas durante a madrugada ou no tempo que não ocupa com Theo.

“Como sou autônomo, eu só recebo o que produzo, então tive uma queda gigantesca de trabalho. Mas nesse momento a prioridade é ele e decidimos que tudo a respeito do tratamento tem prioridade total sob todo o restante”, relata Abel.

Abel, Theodoro e Tatiana Boeing. Foto: Arquivo pessoal.

Custos

O tratamento que Theo precisa é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), entretanto, o menino já tinha plano de saúde desde o nascimento e a família  decidiu seguir o tratamento através do plano. Segundo Abel, o convênio fornece algumas opções, facilidades e seguranças que, de acordo com Abel, o sistema público não poderia garantir.

Ademais, Abel afirma que os maiores gastos não são com o tratamento e remédios em si, mas com outras despesas, como locomoção, estacionamento, alimentação extra para o casal, e os gastos mensais da família, que devido às limitações na rotina de trabalho de Abel e Taty, ficam complicados de suprir.

Como ajudar

Quem quiser contribuir de alguma forma com a família, pode entrar em contato com Abel através do telefone (47) 9665-6608.

Diário Boeing

Para mostrar um pouco mais da rotina que levam nesse processo e servir como forma de apoio para outras pessoas que passam pela mesma situação, a família criou um canal no YouTube, além de também compartilhar rotina no Instagram de Abel.

“Eu procurei por aí referências e histórias para me apoiar. Mas elas não aparecem. A nossa História vai aparecer. E as nossas vitórias serão força para quem vier a lutar as mesmas batalhas que nós’, diz Abel na descrição do vídeo abaixo.