Capa: Telhado tipo mansarda, geralmente, é aquele que possui o sótão com a presença de aberturas – geralmente janelas. Se existir balcão/sacadas, naturalmente as aberturas serão portas. A mansarda é criada para viabilizar a criação de mais um ambiente que pode ser usado de maneira funcional pelas pessoas que transitam na edificação, tanto como residência ou somente como ambiente de trabalho. Este ambiente pode ter sua área ampliada pela “quebra” da inclinação do pano de telhado que compõe a cobertura. A fotografia ilustra um conjunto de casas, construídas com madeira, destinadas aos funcionários da Empresa Industrial Garcia, localizada na Rua da Glória – bairro Garcia, Blumenau. Postal de 1971.
Um tempo atrás, alguém nos perguntou sobre uma determinada estrutura de cobertura, muito encontrada em toda a região que pertenceu ao território da Colônia Blumenau, que apresenta panos de telhados com inclinações diferentes e uma estética peculiar.
Muitos são o que fazem confusão sobre seu conceito, uso e volumetria, a partir de elementos outros do telhado, como Dachgaube, conceito que descobrimos durante a pesquisa sobre enxaimel, esta publicada no livro Fachwerk – A Técnica Construtiva Enxaimel.
Algumas denominações de elementos característicos e geralmente presentes no telhado das edificações construídas na Alemanha e também na região do Vale do Itajaí, sem conceitos e denominações em português, esclarecemos e apreendemos a partir do conteúdo publicado na Alemanha, no livro Bildwörterbuch der deutschen Sprache. Duden, Band 3. Bearbeitet von Meyers Lexikonsredaktion in Zusammenarbeit mit der Dudenredaktion.
Muitas foram as tipologias de edificações trazidas pelos imigrantes alemães e italianos para o Vale do Itajaí, outras regiões do Sul do Brasil, e mesmo em outras regiões do país, como Petrópolis – RJ e Juiz de Fora – MG. Muitas das variações das edificações estão localizadas nos telhados – sua estrutura, volumetria e tipo de telhas.
Vamos destacar um pouco sobre a estrutura do telhado existente na Alemanha conhecida como Mansarddach ou Telhado de Mansarda.
Este telhado foi adotado em muitas edificações de Blumenau e região, no início do século XX. O Mansarddach é encontrado na região, tanto em casas com acabamentos mais ricos, adornadas, até edificações mais simples, construídas, em um período, com material mais abundante e acessível, devido ao seu valor de mercado, em toda a região: a madeira.
Alguns exemplos desta volumetria de telhado, em Blumenau e região – em diversos períodos.
Mansarddach – mansarda
O telhado do tipo mansarda aqui apresentado, é aquele, de maneira característica, que conta com a presença de panos de telhados “quebrados” (no Brasil, conhecido como “água”), dotados de diferentes inclinações nos panos de telhados, de tal maneira que na superfície inferior da cobertura, geralmente no sótão, há uma inclinação maior do que na parte superior.
Este tipo de disposição de duas inclinações nos panos de telhados cria um ambiente adicional maior no sótão munido de aberturas, com possibilidade de uso confortável e funcional pelas pessoas que o habitam ou mesmo somente trabalham no edifício dotado de mansarda. O acesso é feito por meio de uma escada, como qualquer escada que viabilize a ligação entre dois pisos de um edifício. Este pode ser com um, dois (mansardgiebeldach) ou todos os quatro lados do telhado (mansarde walmdach).
O nome – mansarda – surgiu em homenagem ao seu criador – o arquiteto francês Fançois Mansart (1598 – 1666).
Foi seu sobrinho-neto, Jules Hardouin-Mansart (1646-1708), quem, no século XVII, popularizou este tipo de cobertura em seus muitos edifícios nas melhores regiões de Paris. Mas foi o arquiteto do Louvre – Pierre Lescot – quem já havia observado a ampliação de espaço sob este telhado, cerca de 100 anos antes.
.jpg)
Na arquitetura, de uma maneira mais abrangente, mansarda é o espaço usado imediatamente sob a cobertura, com aproveitamento da área para mais um ambiente no edifício. Este ambiente apresenta paredes inclinadas, e deve contar com a presença de janelas. Do contrário, se não for usado como ambiente e não possuir janelas, será somente um sótão.
Podemos afirmar que todo sótão de uma edificação que possua janelas e for usado como mais um ambiente da edificação, é chamado de mansarda. Sob o conceito mais abrangente e dentre os tipos existentes, está a mansarda aqui apresentada, com a presença da “quebra” dos panos de telhado, viabilizando a ampliação de sua área útil.
Esta tipologia de telhado se popularizou em determinadas regiões da França e da Alemanha, com o propósito de diminuir os impostos sobre o número de pavimentos construídos em uma edificação. O sótão não era computado nos cálculos tributários e poderia ser habitado com o aproveitamento de seu espaço.
Nos últimos séculos anteriores ao século XX, estes ambientes sob os telhados do tipo mansarda – principalmente na cidade de Paris – eram ocupados pelas pessoas mais humildes da pirâmide social. Geralmente, funcionários da residência ou pessoas que não eram muito bem-vindas e nela residiam.
Atualmente, esses locais sob as mansardas adquiriram status social dentro da esfera acadêmica e intelectual, e são disputados por aqueles que podem pagar pelos valores pedidos pela bela paisagem da cidade a partir do ponto mais alto do edifício. Coisas do ser humano.
Na Alemanha, esta tipologia de telhado surgiu no período do barroco burguês, predominantemente no antigo Reino da Prússia, ao Norte da Alemanha, região da qual, migraram muitas famílias para Santa Catarina e região do Vale do Itajaí.
No Brasil, como já mencionado, a técnica construtiva e formato desses telhados foram trazidos pelos imigrantes alemães que chegaram no início do século XX, e geralmente eram construídos com duas águas, com janelas nos frontões.
Quase sempre, sua execução era modesta e simples, com ausência de etapas, mas não o suficiente para descaracterizar a tipologia. Mas há exemplos de outras, ricamente adornada a partir de técnicas construtivas atuais, como por exemplo o uso do estuque. Exemplos: o casarão construído no bairro Bom Retiro, pela família Gross – Blumenau; Edifícios dos Correios projetado pelo arquiteto Holzmann, um exemplo de Mansarde Walmdach – Blumenau, a residência Renaux – Brusque, entre outros.
A vantagem deste tipo de cobertura, conforme mencionado, é a disponibilidade de uma área maior sob o telhado, criando um ambiente com ampliação de área no sótão. A desvantagem, segundo os alemães, é a de não se conseguir instalar com mais eficiência, o sistema de energia solar.
A Alemanha, atualmente, é um país que prioriza a casa sustentável.
Mansarda na Alemanha
Em regiões da Alemanha, sua construção foi retomada nas décadas de 1980 e 1990, século XX, nas centralidades das cidades. Atualmente, esta tipologia de cobertura continua sendo construída, com adequações sustentáveis e fazendo uso de tecnologias atuais. Nesse país, além da funcionalidade, tecnologia, sustentabilidade, também é considerada nas construções de suas casas, a questão da identidade cultural. Alguns projetos:
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
.jpg)
Para compreender é preciso conhecer.
Sou Angelina Wittmann, Arquiteta e Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade.
Contatos:
@angewittmann (Instagram)
@AngelWittmann (Twitter)
Referências
- Duden. Bildwörterbuch der deutschen Sprache. Duden, Band 3. Bearbeitet von Meyers Lexikonsredaktion in Zusammenarbeit mit der Dudenredaktion. Publisher: Mannheim, Leipzig: Dudenverlag, 1992. Binding: Hardcover
Leituras Complementares – Clicar sobre o título:
- Castelo de Hohenzollern
- Tribos germânicas – História
- Conversando um pouco sobre História – História
- História – Prússia e Alemanha
- História… Primeiros Imperadores Germânicos
- Império Alemão
- História…Hino da Prússia e um pouco de sua História
- O “Alemão” de Pomerode
- Casa Duwe – Indaial SC – Enxaimel – Tombada e Restaurada com apoio do IPHAN
- Edifício do antigo Correios e Telégrafos – Blumenau – Projeto de Robert Holzmann – Execução Jacob Brueckheimer
- O Livro On line: FACHWERK – A Técnica Construtiva Enxaimel – Publicado em 2019
