Conheça o projeto que leva faculdade para internos da penitenciária de Blumenau
Parceria pode ter até 120 internos no ensino superior em 2023
A Penitenciária Industrial de Blumenau iniciou no fim de fevereiro um novo projeto na busca da ressocialização dos detentos. Em parceria com a Unopar, do Paraná, 40 internos da unidade adentraram ao ensino superior começando a graduação em Logística.
A iniciativa de inserir os presos em universidades e faculdades possuem exemplos em outras unidades prisionais pelo estado. Entretanto, é a primeira vez dentro da PIB. Diretor da penitenciária desde janeiro, Maicon Ronald Alves falou sobre o esforço que precisou ser feito para concretizar o projeto.
“Não é uma pauta fácil de se lidar, porque além dos internos, também depende dos nossos profissionais, que ficam mais expostos, porque temos mudanças de cronogramas, de formas de trabalhar e outras coisas. Então vínhamos de alguns nãos por parte das gerências antigas. Mas conseguimos nos organizar e dar esse pontapé”, afirmou.
Com uma estrutura de duas salas com 20 computadores cada, nesse primeiro formato foram criadas quatro turmas para os primeiros 40 internos. Muitos deles, aliás, entraram na penitenciária e não tinham o ensino médio, mas o fizeram através do Ceja, com aulas na PIB, e agora estão ingressando no ensino superior.
Além desses 40 primeiros alunos, outros 80 detentos já se mostraram interessados em fazer o curso. Por isso, há uma expectativa da criação de novas turmas no segundo semestre.
“É importante frisar que é uma parceria que a PIB fez com a Unopar, mas que também envolve as famílias. A parte dos pagamentos dos cursos, por exemplo, é tudo entre a faculdade e os familiares, a PIB não tem nenhuma participação. Nós oferecemos a estrutura e a possibilidade de o interno fazer, as famílias é que negociam e pagam”, explicou.
O curso de Logística é totalmente no formato a distância, com duração de dois anos. Os internos fazem as aulas uma vez por semana com duração de quatro horas. Apesar de ser on-line, eles possuem acesso apenas ao sistema da faculdade e não a outras páginas da internet.
Além das quatro horas já definidas, há uma intenção da diretoria do PIB em dar mais quatro horas semanais apenas para estudo. Mas ainda estão avaliando a melhor forma de colocar em prática.
“Não queremos número, queremos qualidade. Para isso, quatro horas por semana, só na aula em si não seja suficiente. Seria importante que eles tivessem um outro período para estudar, entender melhor as disciplinas e chegar nas aulas mais preparados”, afirma Alves.
Internos com ocupações
Além do curso superior da Unopar, que pode chegar a 120 alunos no segundo semestre deste ano, uma outra parceria com o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) irá oferecer um curso profissionalizante em empreendedorismo.
O curso será de 80 horas e serão 40 vagas. A expectativa é que as turmas iniciem as aulas em abril.
Segundo Alves, tudo isso faz parte de um projeto pessoal que ele colocou ao assumir a diretoria da PIB. O objetivo dele é ter 90% dos internos com alguma ocupação até o segundo semestre.
“Venho de uma família de educadores, sou formado em direito e educação física, mas também sou psicopedagogo por formação, então é uma pauta que eu tenho há muito tempo, de educação para ressocialização. É algo que quero, com a ajuda dos demais servidores aqui da PIB, que de fato aconteça, funcione”, afirmou à reportagem.
Atualmente, são 1064 detentos na unidade, sendo que apenas 200 trabalham remuneradamente – as vagas são limitadas -, cerca de 300 fazendo o Ceja e agora mais 40 estão na faculdade. Ou seja, mais de 500 detentos ainda estão ociosos.
Com os 80 que devem iniciar no segundo semestre a faculdade e os outros 40 que irão fazer o curso profissionalizante, ainda serão necessários novos projetos para cumprir o objetivo.
“A educação é o caminho. Sei que é ousado, sei que é muito difícil, mas não posso deixar de tentar”.
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