Conheça os planos de Lucas Hang, um dos herdeiros da Havan
Filho do empresário Luciano Hang fala sobre a relação com a família, política e como espera fazer a sucessão da loja de departamentos
Por André Groh
Lucas Hang, 25 anos, é um jovem que acaba de ser mencionado na Forbes Under 30, lista que destaca os melhores empreendedores, criadores e game-changers brasileiros abaixo dos 30 anos. Filho de Luciano Hang, dono da Havan, ele nasceu em uma família privilegiada, mas garante que isso nunca foi motivo para entrar numa zona de conforto.
Com educação e formação simples, conta que sempre trabalhou na empresa, conhecendo desde muito cedo todos os processos da loja e do escritório, para algum dia fazer a sucessão na administração do seu pai. “Tá no sangue, eu tenho um cacoete de vendedor. Até em loja que não é nossa, se vejo um cabide no chão, já junto para colocar de novo no lugar”, relata.
A entrevista aconteceu na sede administrativa da Havan, em Brusque. Natural da cidade, Lucas relata que teve oportunidade de morar no exterior, mas não foi. “Sempre digo que o filho mais velho vai com o facão no meio da selva abrindo caminho, e o mais novo vai de bicicleta só curtindo o caminho pavimentado. Ter ficado em Brusque foi muito bom, não troco por lugar nenhum”.
Durante a conversa, a voz embargou e mudou o tom quando perguntado, na perspectiva dele, o que falta as pessoas saberem sobre seu pai. Emocionado, disse que Luciano “tem uma história muito bonita de vida, uma essência muito boa. É uma pessoa extremamente grata e humilde”.
Na Havan, Lucas está a frente de projetos de esportes, e é ele que direciona os investimentos de marketing e patrocínios para atletas e equipes. No esporte, conquistou grandes amigos desde a infância, e é talvez hoje o maior defensor dentro da empresa da importância destes patrocínios. Até surgir a Havan Liberty, em 2018, que hoje é um dos principais times do Brasil.
Lucas Hang é de uma família grande para sua geração. Os pais Andrea Benvenutti Hang e Luciano Hang tiveram três filhos: os gêmeos Lucas e Leonardo, e o caçula Matheus, que já morou nos Estados Unidos para estudar, e retornou para a empresa no início da pandemia.
André Groh: É verdade que você gosta de frisar que é dois minutos mais velho que seu irmão gêmeo?
Lucas Hang: Eu sempre deixo isso bem claro. Isso representa muita coisa. Fique dois minutos sem respirar para ver, é muita coisa.
Como é crescer em três irmãos?
É muito bom ter irmão, aprender junto e ter alguém. Sempre falo que sou o irmão mais velho, e me sinto mais responsável com eles. E por último veio o Matheus, gosto de cuidar dele e ensinar coisas que aprendi. Todo mundo que pode deve ter pelo menos dois filhos. Para as crianças é muito bom. Aprende muito mais, e também tem uma questão de parceria. Só que três está bom, volta e meia alguém até fala que meus pais deveriam ter tido mais um. Mas seria uma bagunça. Minha mãe teve dois filhos de uma vez só, numa época que não tinha YouTube nem Internet direito. Não tinha nada. Volta e meia ainda peço desculpas pra ela. Imagina o trabalho que ela passou.
Esse cuidado que você teve com o Matheus, teve com o Leonardo também?
A gente sempre estava junto. Estudamos juntos desde criança, e tivemos muita parceria. Mesmo sendo gêmeos, temos diferenças em muitos aspectos. Tanto físicos quanto de personalidade. As pessoas perguntam se a gente tem aquele momento de sentir o que o outro sente. E a gente sempre teve uma ligação muito forte. Defendo ele com todas as forças. E sei que ele me defende também.
Como as pessoas viam você na escola, sendo filho de Luciano Hang?
É engraçado, porque fomos crescendo e a Havan não era tão grande. Mas na cidade já era importante. Quando eu era criança, nem sabia que meu pai era dono da Havan. Sabia que ele trabalhava na empresa, mas não que era dono. Quando alguém perguntava o que meu pai fazia, respondia que ele trabalhava na Havan, e pra mim era normal. As crianças perguntavam se eu ia na loja e escolhia o brinquedo que quisesse, e saia sem pagar, mas nunca foi assim. Só ganhava presente no Natal e no aniversário, não tinha presente fora de época. Até para darmos valor para os presentes. Acho que a gente também sempre teve amizades muito boas e verdadeiras. Sempre estudamos no mesmo colégio, com pessoas que estavam conosco desde o início no jardim de infância, até o ensino médio. Cultivamos muitas amizades que convivemos muito bem.
O que acha que te atrai por ter tantos amigos?
Um dos fatores que mais fez termos amizades verdadeiras foi o esporte. Fiquei no Clube Paysandu até os 17 anos. Jogávamos futebol desde novo, que é um esporte coletivo, e treinamos em vários times da cidade. Tenho amigos de todas as classes sociais, que quem sabe eu nunca teria o contato se só tivesse ficado na minha bolha de privilégio. Mas hoje acabei conhecendo, e graças ao futebol esse contato. Conquistei grandes amigos que carrego comigo sempre. Todas as pessoas que carrego comigo, são pessoas que olham como sou, e não pelo o que represento ou pelo o que posso ter.
Como filho, o que você identificou que falta as pessoas e os jornais saberem sobre seu pai?
Sempre que aparece a oportunidade de o pai falar mais dele, e não tanto da Havan, fizemos muita força para ele poder ir. Ele tem uma história muito bonita de vida, uma essência muito boa. Meus avós tiveram um papel muito importante nessa construção. É uma pessoa extremamente grata e humilde. Hoje eu sei que vivemos num mundo que todo mundo quer procurar alguém para atacar. Como ele acabou tendo mais exposição, a gente sabe que tem pessoas que acabam não gostando dele por simplesmente não gostar. E nunca conheceram ele pessoalmente. Gosto muito quando ele pode falar da história dele e como ele cresceu do nada. Não foi do zero, foi do menos um, como ele sempre lembra. Ele foi muito pobre, e sempre batalhador com muita perseverança. Poder conhecer a essência dele, de onde veio e o que fez para chegar aonde chegou. E como ele se preocupou com as pessoas no processo. É muito difícil você ver alguém que chegou aonde ele chegou, sem nunca passar alguém pra trás e sempre sendo grato pelas pessoas que ajudaram ele. Ele não tem maldade no coração. O pessoal àsvezes pinta ele como uma pessoa ruim, porque querem realmente entrar nessa briga de um lado contra o outro. Mas eu até digo que meu pai é bom demais, ele sempre está vendo o lado bom das coisas. Todo mundo que ele vê, ele enxerga pelo lado bom. Não consegue olhar para alguém e julgar errado. Mesmo que a pessoa fez algo comprovadamente errado para ele, ele consegue olhar para ela de maneira particular. Esse é o lado humano que dificilmente aparece na mídia. As pessoas mesmo que se discordassem de algumas coisas dele, conhecessem esse lado humano, iriam gostar dele. Ninguém é obrigado a concordar com ninguém. Eu não concordo com ele em algumas coisas.
O que você não concorda?
Eu sempre sou do contra. Até quando concordo, eu tento discordar para pegar no pé e ver até onde ele chega. A gente tem essa intimidade. Às vezes ele brinca que sou petista porque pego no pé dele.
Na última eleição, não te vi surfando na onda bolsonarista. O que te atraia no partido Novo?
Quando era bem novo sempre gostei muito de política. Eu nunca simpatizei de fato com a figura do João Amoedo. Mas gostava do que o partido Novo tem como propósito. Muitos parlamentares do Novo até hoje acho que são os melhores que tem. Como é um partido que tem um direcionamento ideológico em coisas muito mais pragmáticas, com foco em economia, e não em costumes ou outras questões, acaba tendo muitas divergências dentro da sigla. Com 10 anos eu queria ir para os comícios, o pai me levava e carro, e eu gostava muito. Meu pai falava que eu seria o prefeito mais novo da cidade. Eu deixava pra lá, mas quem sabe um dia poderia mexer com isso.
Você ainda pensa nisso? Em ser o prefeito mais novo de Brusque?
Não. Em 2014 até me via um pouco mais. E depois que meu pai começou a participar mais de política, comecei a ficar com um pouco de ranço, sabe. Não gosto mais tanto de me envolver. Poucas vezes exponho o que penso politicamente. É muito difícil você ter sempre razão.
Há novas afinidades?
Meu posicionamento politico óbvio que vai ao encontro com o que meu pai pensa. A gente sabe a dificuldade que é empreender no Brasil. Sabe como o Brasil precisa de reformas que faça com que o país vá pra frente. Mas também acho que a gente não pode ser extremo em nenhum dos pontos. Sempre tem que ter diálogo. Mas dialogar com quem quer dialogar. Não adianta sentar na mesa com quem só quer gritar.
O que representou pra você o Luciano não concorrer as eleições?
Paz. Acho que ele nunca quis. Mas vi que nesse meio tem muitas pessoas tentando influenciar. E muitas pessoas querendo ter o nome forte dele no lado, um nome limpo. Seria muito bom. Eu acho que ele seria um grande político, faria o melhor possível e teria muito sucesso como teve em tudo o que fez. Mas acho que ele pode contribuir muito mais, porque ele acredita no país de fato. Agora ele está no lugar que ele realmente é feliz, e sabe fazer as coisas acontecerem, que é na Havan.
O que a Havan representa para você?
Minha família. Acho que basicamente isso. Nasci aqui dentro, e estou todos os anos da minha vida. Tenho boas memórias dentro do escritório. Se a gente passear aqui vamos encontrar pessoas que me pegaram no colo. Me sinto muito em casa. Tenho um jeito um pouco mais descontraído e menos formal de trabalhar. Pra mim é divertido. Se puder quero ficar até o último minuto aqui.
Como você está se preparando para fazer a sucessão da empresa?
Não tenho pressa, porque meu pai é um professor muito bom. Mesmo ele não querendo, ensina muita coisa. Mesmo não falando sobre a empresa ou sobre negócios – o que é difícil, porque ele fala muito sobre isso. Porque realmente é o que ele gosta de falar. Mesmo quando ele está falando sobre outra coisa, ele ensina muito. Tenho 25 anos, não tenho pressa nenhuma para uma sucessão. Mas a gente já trabalha com isso desde muito novo. Sempre tivemos contato para entender a base, como é a loja e como são os processos do escritório. Mas não existe ego nem pressa nesse processo. Estou aqui para aprender o quanto mais possível. E quanto mais tiver o pai por perto será melhor.
Você pode dar o primeiro neto para seus pais?
A briga lá em casa é quem vai ser o último. Por ora ainda não. A gente sempre fica brincando e pegando no pé, que vai ser um, ou vai ser outro. Mas nem perto dos planos.
E casamento?
O pai sempre pega no pé, falando que tem que casar na idade que ele casou. Mas tudo tem seu tempo. Não que não seja a hora. Sou muito feliz. A gente tem uma história muito boa pela frente. Tem que ser surpresa, não dá pra dar spoiler. Tem que deixar no ar.
Luciano morou com os pais até os 33 anos, com você pode ser assim também então?
Se depender dos meus pais, acho que vão querer que moremos com eles até depois de casados, risos.
Eles são assim “corujas”?
São. É legal, a gente recebe bastante amor e carinho. Eles sempre vão estar perto da gente, e a gente também sempre quer estar perto deles. Nunca tive vergonha dos meus pais, com aquela coisa de ‘não me busca no colégio que tenho vergonha’, que às vezes é comum. Meu pai sempre fez questão de nos buscar, deixava a Havan e íamos com ele pra casa. Meus pais são nossos amigos e não me vejo longe deles não.
Você tem algum outro objetivo ou algum sonho?
Meu objetivo é ajudar a Havan cada vez mais. Ajudar quem ajuda a Havan a crescer, que são nossos colaboradores no Brasil inteiro a serem mais felizes com a gente. Esse é nosso propósito. Uma loja nova só está abrindo, porque a loja que inaugurou antes fez um bom trabalho e conseguiu realmente fazer sucesso. Se conseguirmos fazer 10% do que meu pai faz já vai ser muita coisa.
Como foi sua reação quando soube que seria mencionado na lista Forbes Under 30 deste ano?
Foi muito por conta do sucesso da Havan Liberty. Conseguimos bons resultados em 2021. Somos uma das poucas equipes que está nos principais jogos. Temos essa mentalidade de organização e isso nos deu reconhecimento. Fiquei surpreso com a indicação e a menção.
Tinha expectativa?
Eu soube um pouco antes da lista sair, e não falei para quase ninguém. Nem para meus pais. Só minha vó sabia. Tudo foi bem rápido, o editor José Vicente Bernardo me ligou e fiquei muito honrado e pego de surpresa. Isso motiva a fazer cada vez mais.
Por que você tem esse hábito de esperar as coisas acontecerem para poder contar?
Eu não gosto de criar expectativa. Eu penso que vai dar tudo certo, sou muito de viver o agora. Óbvio que tem que ter planejamento. E pra mim, como a menção no Forbes Under 30 seria uma coisa que seria legal, esperei para contar. Meus pais não sabiam. A única pessoa que contei de fato foi minha vó. Meus pais só souberam no dia. Nunca gostei muito de falar de mim. Quero que as pessoas vejam se quiserem ver, não vou ficar mostrando. É meu jeito.