Quem é o jardineiro de 93 anos que trabalha há mais de 60 em escola de Blumenau
Em conversa, ele conta que não pretende parar tão cedo
“Vou continuar trabalhando enquanto eu puder”. É isso que senhor Luiz Manoel Franco diz ao ser perguntado se algum dia pretende parar. Aos 93 anos, ele trabalha na Escola Barão do Rio Branco, em Blumenau, há mais de 60 anos, e conhece cada canto e história do centro de educação, como a palma de sua mão.
Na escola, seu Luiz faz os trabalhos de jardinagem com muito gosto e com muito carinho por cada plantinha. E o gosto pela coisa é tão bem reconhecido que até ganhou um cantinho chamado “Bosque do seu Luiz”, onde os alunos podem passar um tempo com pelo menos um pouquinho de contato com a natureza na escola.
Atualmente, após alguns problemas de saúde, e também devido à idade, seu Luiz tem trabalhado apenas duas vezes por semana; mas quando vai até a escola, está sempre bem-disposto e animado para rever todos.
Uma vida inteira de trabalho
Seu Luiz é natural de Joinville, mas veio para Blumenau ainda jovem. Ele lembra de ter vindo para cá em tempos perigosos, durante a Segunda Guerra Mundial.
Quando chegou aqui, passou a procurar emprego e logo conseguiu: foi trabalhar como zelador para a família Deeke. Com o passar dos anos, e antes de estrar na Escola Barão, seu Luiz fez diversos trabalhos para casas particulares e também trabalhou cerca de 16 anos em uma oficina que existia na rua XV de Novembro.
Lá, ele conta que fazia de tudo, já que a oficina era de consertos mas também de confecção de máquinas. No local, ele até ajudava na limpeza e também no atendimento da loja.
Foi na época que trabalhava na oficina que conheceu sua esposa, com quem casou e teve três filhos ao longo da vida. Em um certo momento, a oficina foi vendida, e seu Luiz foi trabalhar em outro lugar, onde passou oito anos.
Um dia, enquanto trabalhava nessa segunda oficina, ele conheceu dona Ilse Brunhilde Schmider, que na época era uma das responsáveis pela Escola Barão. “Na época, minha sogra trabalhava na escola e acabou comentando sobre mim. Dona Ilse ficou curiosa, e me chamou para conversar, disse que estava interessada no meu trabalho”.
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Conforme seu Luiz, isso aconteceu durante a década de 1960, quando o país passava por momento econômicos difíceis, e por conta disso, a oficina não estava na sua melhor época, e havia pouco serviço. Após receber a proposta de dona Ilse, o jardineiro sentou para conversar com seu antigo chefe, anunciando sua saída.
“Durante a nossa conversa, o patrão disse: ‘vai, lá vai ser bom para você, mas se você não gostar, ou não der certo, pode voltar, que a gente vai ter espaço para você’. Eu fui, e depois nunca mais voltei para oficina”.
Desde que entrou na Escola Barão, seu Luiz teve um papel importante, sempre fazendo de tudo um pouco. Ele era um faz-tudo e conta que no início, sua rotina começava bem cedinho, por volta das 5h, e com o tempo ela foi se adaptando, mudando.
“O que tinha para fazer, eu fazia. Se tinha lugar para varrer, eu estava varrendo, se tinha que consertar, eu consertava. Quando a escola começou a crescer, e porque eu estava há mais tempo, acabei virando o chefe da equipe de zeladoria, então sempre fiz de tudo um pouco, até já cuidei de cobranças, finanças e compras. Fazia de tudo mesmo, em alguns momentos até brincava que a escola era minha. Sempre me dei bem com todo mundo aqui dentro, gosto do serviço”.
Com trabalha na escola praticamente a vida toda da instituição, o jardineiro participou dos principais momentos e mudanças; dos momentos bons, mas também tem memórias muito vivas dos momentos ruins. Ele conta que até hoje lembra das perdas que passou junto com a escola durante as grandes enchentes que atingiram a cidade, e de ter que ficado ilhado.
Vida sem arrependimento
Apesar de tudo isso, seu Luiz conta que não se arrepende de nada, porque foi dentro da escola que aprendeu muita coisa, e se formou como ser humano e fez a própria história.
Conforme seu Luiz, ele vê a Escola Barão como uma pessoa da família, já que viu ela iniciar e evoluir como uma pessoa; viu a instituição se expandir, levantar de quedas, implementar tecnologias. Além disso, durante o tempo de trabalho na instituição, o jardineiro formou três filhos, que passaram pela Barão, e se tornaram, segundo ele, grandes profissionais da educação e da moda. Atualmente, os três são aposentados, e seu Luiz tem uma família grande e bonita.
Com o passar dos anos, seu Luiz afirma que o que traz forças para eles todos os dias, e principalmente nos dias ruins, é a sua fé em Deus, e nunca se deixar se entregar, sempre se apoiar e buscar o melhor.
Apesar de ter dedicado sua vida toda ao trabalho, seu Luiz está aprendendo aproveitar a vida nas pequenas coisas também. Em seu tempo livre gosta de caminhar pelas ruas, ler livros e ama passar o tempo ouvindo música.
“Vir trabalhar é como uma terapia, eu gosto de vir, ver gente, conversar, molhar as plantas, ver como elas estão. Eu vou continuar trabalhando aqui enquanto me deixarem. Sou grato, sou muito realizado com a minha vida, consegui tudo que sempre sonhei, de forma muito honesta. Então enquanto me quiserem, e eu puder, continuarei aqui. Vivo uma vida sem arrependimentos”, finaliza.
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