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“Contra deputado e presidente é tchutchuca, mas contra professor e estudante é tigrão”

Colunista analisa debate de vereadores de Blumenau durante aprovação de moção de repúdio a deputado estadual

Contra o deputado e presidente é tchutchuca, mas contra professor e estudante é tigrão

Na sessão da última quinta-feira, 4, a Câmara de Vereadores de Blumenau aprovou uma moção de repúdio de autoria do Vereador Adriano Pereira (PT). A moção critica a iniciativa do deputado Rodrigo Minotto (PDT) em tornar lícito a puxada de cavalos em Santa Catarina.

Porém, o que chamou a atenção não foi a aprovação da moção de repúdio, que é esperada em uma sociedade moderna, mas um exótico debate em torno da modalidade da moção.
As puxadas de cavalo consistem em uma competição em que cavalos são colocados para arrastarem sacos de areia. Vence o animal que conseguir arrastar o maior peso em menor tempo.

Defensores dos direitos dos animais condenam a atividade pois leva os animais à exaustão e ao sofrimento desnecessário. A prática é proibida por lei em Santa Catarina desde 2015. A medida foi uma iniciativa da então deputada Ana Paula Lima (PT).

A moção de repúdio recebeu voto contrário dos vereadores Cezar Cim (PP) e Odemar Becker (DEM). O vereador do PP iniciou o esquisito debate alegando que uma moção de repúdio pode ser interpretada como uma ofensa.

Na mesma linha de Cezar Cim, os vereadores do Democratas justificaram seus votos. Marcos da Rosa, que votou a favor da moção, argumentou que Adriano Pereira deveria ter encaminhado junto ao pedido de moção um documento explicando o contexto.

Rosa lembrou que a Câmara aprovou em 2015 uma moção de repúdio ao então deputado Jair Bolsonaro (PSL), e que hoje, por conta disso, o agora presidente da República pode tratar a cidade com demérito.

O debate produzido pelos vereadores lembrou um livro clássico da Ciência Política Brasileira: Coronelismo, Enxada e Voto, de Victor Nunes Leal. Segundo o autor, no Brasil da República Velha o país funcionava como uma federação de coronéis e chefes de caudilhos.

Os coronéis locais se legitimavam ao controlar o aparato estatal, os cargos públicos e a distribuição de recursos. Também legitimavam outros coronéis na esfera estadual e nacional. O apoio vindo de cima era retribuído com reconhecimento na esfera política local.

Ao assistir o debate na câmara de vereadores, lembrei também que a mesma Casa – e a mesma legislatura – aprovou em 2017 uma moção de repúdio contra uma escola. A mesma escola onde sou professor.

A moção de repúdio foi proposta pelo vereador Marcos da Rosa, que agora acredita que fazer uma moção contra um deputado ou contra o presidente é uma agressão. Parafraseando uma frase comum em Brasília: Contra o deputado e presidente é tchuthuca, mas contra professor e estudante é tigrão.