O desafio da convivência com as enchentes.
Já comentamos neste espaço que o conceito de cidades-esponja é muito restrito e deveria ser ampliado para o conceito de vales-esponja. Está certo que nossas cidades, cobertas de telhados, concreto e asfalto, são tudo, menos esponja absorvedoras de águas das chuvas. Por isso é fundamental que as áreas urbanas se tornem muitíssimo mais permeáveis, minimizando assim as enchentes rápidas, as chamadas enxurradas. Para o que comumente chamamos de enchentes, num sentido mais amplo, porém, o conceito da esponja tem que ser aplicado ao vale como um todo, incluindo as áreas urbanas.
Para fazer com que os vales, ou seja, as bacias hidrográficas funcionem como esponja, aplicam-se princípios relativamente simples, mas, cuja implementação requer seriedade, trabalho, planejamento, diligência e disciplina técnica.
Em decorrência da catastrófica enchente que recentemente assolou o Rio Grande do Sul ficou bem claro que o controle, ou, pelo menos, a minimização dos efeitos das enchentes vai muitíssimo além das meras obras estruturais e que o foco no trato desse problema deve ser amplo e abrangente, trabalhando com a natureza e não contra ela.
Reter as águas assim que elas caem do céu é um primeiro passo. Há que se ter sistemas que evitem que toda a água acabe indo direto para o rio principal e isso pode ser feito de forma natural, naturalizada e artificial como, por exemplo, com pequenos e inúmeros açudes. Em toda a bacia hidrográfica, principalmente perto dos rios, cada propriedade rural deveria destinar 20 por cento dela para reter água, formando, no conjunto, áreas grandes e porosas.
Em segundo lugar, contrariando o senso comum, há que se diminuir a velocidade dos rios, com árvores, preferentemente, muitas árvores, para dar tempo para que a natureza possa absorver toda essa água. Se, pelo contrário, acelerarmos o escoamento de água de uma cidade isso vai aumentar o volume de água que atingirá a cidade seguinte, num efeito-dominó que só termina quando a água chega ao mar.
Em terceiro lugar, conforme tem se divulgado, nossas cidades precisam se adaptar para que tenham áreas alagáveis, para onde as águas possam escorrer sem causar destruição e dar tempo de serem absorvidas. Nesse aspecto, o que temos visto na maioria das nossas cidades é justamente o contrário, ou seja, as áreas alagáveis e demais espaços dos rios que já existiam naturalmente são destruídos por aterros e ocupados.
Restam, no entanto, ainda, muitas dessas áreas que devem ser mantidas nessas condições. Se até São Paulo conseguiu manter as últimas baixadas alagáveis do rio Tietê, por que não poderemos conseguir fazer o mesmo por aqui?
Obras de engenharia são importantes, mas, o foco não pode ficar apenas nelas. Veja-se o exemplo da Holanda, com seu fantástico sistema de diques, canais e bombeamento para evitar invasão das águas das marés. No entanto, essa mesma Holanda, aprendeu que somos parte da natureza e não temos que lutar contra ela, como se fosse numa guerra.
O mundo inteiro precisa também aprender que devemos não mais enfrentar, mas, sim, cooperar com a Natureza, dar mais espaços para os rios trabalharem, criando grandes áreas verdes que possam absorver água. No caso de nossas cidades, ainda há tempo de estancar o avanço de ocupação para cima dos rios e baixadas e permitir que isso aconteça naturalmente, sem necessidade de tantas desapropriações, como foi feito na Holanda.
A novela é muito comprida e temos pano para muita manga nesse assunto. Lembremos, por exemplo (mais uma vez, aqui neste espaço!) da importância do controle da erosão dos solos, fonte do material que causa assoreamento dos nossos rios.
De que adianta o governo do Estado divulgar aos quatro ventos que já se iniciaram os trabalhos de dragagem dos rios em Rio do Sul, se, a cada chuva minimamente mais forte, esses mesmos rios se transformam em águas lamacentas carregadas de sedimentos que vão assorear o rio novamente?
Ou construir barragens como a de Botuverá, onde os próprios estudos de impacto ambiental apontaram para o assoreamento do volume morto dessa barragem em apenas 30 anos, quando deveria isso acontecer em 500 ou mais anos? Não se trata de questão de ser contra a construção dessa barragem, mas, sim ser a favor de uma barragem que tenha uma longa vida útil, muitíssimo maior que os míseros 30 anos previstos de entulhamento do seu volume morto.
Precisamos urgentemente conseguir o controle total da erosão dos solos em 100% das bacias hidrográficas. Para quem acha que isso não é possível, basta olhar as imagens das chuvas que não cessaram de cair durante muito tempo quando da abertura das Olimpíadas de Paris. O rio Sena, que corta a cidade, aumentou de volume a ponto de prejudicar, por possibilidade de contaminação, as provas de natação nas suas águas. Mesmo assim, ao contrário do que ocorre aqui, não se percebe águas barrentas no rio Sena.
Isso acontece com a maioria dos rios onde existe efetivo controle da erosão dos solos nas suas respectivas bacias. No dia que isso acontecer por aqui, não haverá mais necessidade de governo nenhum anunciar, pomposamente, que estão dragando os rios. Dragar o que, se quase nada está sendo levado e depositado no fundo de seus leitos?
Voltando à necessidade de dar mais espaços para os rios, como modernamente tem se recomendado, observa-se que as obras em andamento na margem esquerda do rio Itajaí Açu, no Centro de Blumenau, acontecem na contramão desse importante princípio. E não foi por falta de aviso ou recomendação. Há mais de 20 anos a missão Japonesa da Jica e o Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Itajaí recomendavam fazer o contrário ali. No entanto, prevaleceram interesses outros que não ambiental ou o interesse maior da sociedade e as obras continuam, teimosamente, a todo vapor.
Bela paisagem, embora desbotada pela foto antiga, de propriedade rural no município de São Bonifácio, nas cabeceiras do rio Capivari, vale do rio Tubarão, a Oeste da Serra do Tabuleiro, que à época sequer era ainda um Parque Estadual. Décadas depois fui saber que o naturalista Fritz Müller havia passado por aqui em 1868, fazendo pesquisas e observações que o tornaram conhecido e respeitado no meio científico do mundo inteiro, vindo de Blumenau, a pé e descalço. Foto L. E. Bacca, em 26/12/1974.
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