Coral de 1000 Vozes: relembre as crianças que cantavam nos eventos de Blumenau na década de 1980

Ex-prefeito Dalto dos Reis e antigas participantes falam sobre o antigo projeto

O Coral Infantil de 1000 Vozes foi um dos marcos de Blumenau nos anos 80. Composto por crianças da rede municipal de ensino, a harmonia das vozes ecoava pela Prainha, Igreja Matriz e principais ruas da cidade. A cantoria era garantida em eventos como a abertura da Oktoberfest, aniversário do município e acionamento da decoração natalina.

Idealizada pelo ex-prefeito Dalto dos Reis durante seu mandato, a ideia surgiu com após ele descobrir de que a Alemanha tinha um coral com 1000 vozes. Nas palavras dele: “imitando a Alemanha fizemos o Beergarden, a Oktoberfest e outras coisas mais”.

Coral de 1000 Vozes durante uma das apresentações de Natal na Prainha. Foto: Arquivo pessoal

Ele também afirma que a iniciativa era algo inovador na época. “A Alemanha tinha um coral de adultos. Uma vez me disseram que era próximo de mil vozes. Porém, coral infantil com essa quantidade de vozes, fizemos uma pesquisa e não havia no mundo”, relembra.

Dalto diz que a intenção inicial era reunir todos os cantores adultos que faziam parte de corais em Blumenau. No entanto, devido às dificuldades, principalmente relacionadas aos custos, se concretizou o projeto do coral infantil.

Uma história para cantar

Conforme o ex-prefeito, a seleção dos cantores era feita nas escolas do município. Durante o ano, aconteciam cerca de cinco ou seis apresentações. Para reunir todas as crianças era necessário mobilizar aproximadamente 50 ônibus.

Os treinamentos aconteciam no Ginásio de Esportes Sebastião Cruz, conhecido como Galegão. Os principais instrumentos usados eram violão e acordeon. Dalto afirma que todas as apresentações tinham um público cativo. Pais, irmãos e familiares dos integrantes eram prestigiadores assíduos, além dos demais blumenauenses que cultivavam um carinho especial pelo coral.

Coral de 1000 Vozes em uma das apresentações de Natal. Foto: Arquivo pessoal

Referência mundial

O repertório continha músicas alemãs e até uma canção autoral, composta por alguém que ajudava no projeto. Na época, havia a intenção de gravar um disco. O repertório estava definido e a gravação aconteceria no Teatro Carlos Gomes. Entretanto, não chegou a ser gravado.

“O que mais ouvi, foi: ‘somos referência no planeta terra’. Se fosse empreendida uma divulgação ao nível nacional, a exemplo da Oktoberfest, além de tornar Blumenau mais conhecida e citada no Brasil, poderia ter sido responsável pelo surgimento de outros corais”, menciona Dalto.

Coral de 1000 Vozes em uma das apresentações de Natal. Foto: Arquivo pessoal

Doce nostalgia

Mesmo anos depois do fim, Dalto conta que ele ainda é abordado por muitas pessoas que contam, com nostalgia, que fizeram parte do Coral de 1000 Vozes.

A blumenauense Juliana Bucher Gehrke, atualmente com 44 anos, participou do coral em 1986. Na época, com apenas oito anos, a menina estudava na EBM Adelaide Starke e conta que foi para o Coral já que gostava de cantar, adorava os desfiles e, porque algumas amigas da época também participavam.

A antiga integrante menciona que eles ensaiavam os cantos na sala de aula e afirma que relembrar a sua participação faz despertar muitas memórias dos amigos da escola e das Oktoberfests. Mas, segundo Juliana, a melhor lembrança que possui são as das apresentações na prefeitura de Blumenau.

“A maior lembrança é cantando na prefeitura. Tenho medo de altura, não chegava muito perto da janela, espiava de longe as pessoas lá embaixo assistindo. Lembro que a gente ganhava sanduíche e coca cola, vinha uma Kombi na prefeitura trazer”, recorda.

A importância da iniciativa

Juliana conta que o Coral de 1000 Vozes a ajudou a perder a timidez e que fazer parte daquilo a provocava orgulho. Ela defende que projetos assim fazem com que as crianças tenham responsabilidades e sintam-se amadas e importantes.

“Meus pais não puderam ver todas as apresentações, mas foram em algumas e eu me sentia muito orgulhosa por fazer parte disso e dar essa alegria para minha família”, conta.

Coral de 1000 Vozes em uma das apresentações de Natal. Foto: Arquivo pessoal

Uma saudade para Blumenau

Apesar de adorar música e afirmar que ela faz parte de seu dia a dia, Juliana diz que continuou “cantando só no chuveiro de casa”. Porém, ela é uma entusiasta do Coral e defende que um projeto assim deveria continuar existindo.

“Foi uma coisa diferente, alegre, bonita, com todas as quelas crianças juntas de roupas iguais cantando. Os turistas adoravam. Se quiserem, eu até ajudaria nesse projeto para voltara ter”, relata.

Coral de 1000 Vozes em uma das apresentações de Natal. Foto: Arquivo histórico de Blumenau

Para a vida inteira

A blumenauense Daniela Roberta, tem 42 anos e também se lembra com carinho do período em que fez parte do Coral. Ela estudava na mesma escola que Juliana e também entrou movida pelos encantos da Oktoberfest.

Dentre tantas lembranças, as apresentações que ocupam maior espaço no coração de Daniela são as natalinas, que aconteciam na escadaria da Igreja Matriz. “Cantávamos com o coração”, afirma. Ela afirma sentir orgulho de ter integrado o Coral: “muito orgulho em ter participado desse projeto que foi tão lindo e especial para todos envolvidos”.

Daniela também não seguiu nos estudos musicais, no entanto, assegura que o Coral de 1000 Vozes marcou positivamente a trajetória dela. “Após o término do coral não continuei mais estudando música. Arriscava cantar em festas com meus pais e amigos. Com o passar dos anos a maternidade veio e isso foi ficando no passado, restaram as lembranças e a saudade. O coral me marcou com certeza de forma positiva para vida inteira”, finaliza.

Coral de 1000 Vozes em uma das apresentações na escadaria da Igreja Matriz. Foto: Divulgação/Página Südbrasilien no Facebook

Confira trecho de apresentação do Coral

Vídeo: Divulgação/Rogério Camara

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