CPFs de mortos e pessoas que nunca fizeram câmbio foram usados em fraudes, diz Polícia Federal
Segundo delegado que responde pela Operação Line Up, milhares de documentos alimentaram caixa 2 de empresa
Pessoas mortas, estrangeiros que nunca estiveram no Brasil e milhares de cidadãos que jamais compraram moeda estrangeira numa casa de câmbio tiveram documentos pessoais usados em supostas fraudes investigadas pela Operação Line Up da Polícia Federal, deflagrada nesta quinta-feira, 28.
Uma das fraudes investigadas pela Polícia Federal ocorria na operação cambial manual da corretora que é alvo da operação. Normalmente, quando uma pessoa precisa trocar a moeda em uma casa de câmbio, ela fornece dados pessoais que são registrados em um sistema do Banco Central.
De acordo com a apuração, a corretora forneceu milhares de CPFs, à revelia dos donos dos documentos, para executar operações que ocultavam os reais donos do dinheiro. Para executar a suposta fraude, a empresa cobrava taxas mais altas do que as de mercado:
“Eles retiravam todo esse dinheiro do sistema, registrando identificações fictícias. Aí a corretora tem esse caixa dois. Qual o atrativo econômico disso? Normalmente o spread [lucro] de uma operação regular é de 0,3%, 0,4%. Retirando do sistema oficial e vendendo no paralelo eles já conseguem uma comissão de 4% a 8% em cada operação”, explica o chefe da unidade de investigação da Polícia Federal de Itajaí, o delegado Alex Sandro Viana.
Para não prejudicar o trabalho policial, Viana não detalhou se há mais pessoas investigadas, como as que compravam moedas de maneira irregular. Agora, a equipe analisará os materiais apreendidos para definir os próximos passos. Novos mandados podem ser solicitados.
Investigação em Blumenau
Um mandado de busca e apreensão foi cumprido na manhã desta quinta-feira, 28, na filial da MultiMoney em Blumenau. O delegado não revela especificidades da investigação na cidade. Outros oito mandados foram realizados em Balneário Camboriú. Dois diretores da instituição investigada foram presos em São Paulo.
Em Blumenau, durante a ação, além da tentativa de contato com advogados que estavam no local pela manhã, a reportagem telefonou para o dono da empresa, mas a ligação caiu na caixa postal. A equipe também ligou para a agência, mas a pessoa que atendeu informou que a empresa não se manifestaria sobre o assunto.
Além da fraude na operação cambial manual, a investigação, que teve início em 2013, averígua possíveis desvios que ocorreriam através de pagamentos a DJs de renome internacional que vinham atuar em Santa Catarina, com contratos supostamente subfaturados.
O nome da operação é uma expressão em inglês que pode significar “quando alguém é colocado na fila” – da investigação, no caso. Também faz referência ao elenco de artistas que vão se apresentar num evento, especialmente shows musicais.
A partir daí, a polícia chegou a uma corretora de câmbio que fazia parte do mesmo grupo econômico de uma empresa de eventos. Segundo a Polícia Federal, foram encontrados indícios de gestão fraudulenta de instituição financeira em diversos atos.