Para gostar de cinema brasileiro
Na última sexta-feira, 19, celebramos o Dia do Cinema Brasileiro. A data remete-se às primeiras imagens capturadas por cinematógrafo no Brasil, na Baía de Guanabara (Rio de Janeiro), por volta de 1898. Feitas pelo italiano Afonso Segreto, este primeiro filme representa uma ideia de Brasil, pelas suas belezas naturais, aos olhos dos estrangeiros.
Infelizmente, muita gente acha, ainda hoje, que cinema brasileiro se resume a sexo, violência e comédias de mau gosto. Saiba que esse desamor tem explicações históricas. Uma das razões se dá pela disputa desleal dos nossos filmes com os blockbusters estadunidenses, que, por décadas, moldou nosso gosto cinematográfico, influenciando, inclusive, a maneira com que os próprios filmes brasileiros eram produzidos.
A consequência disso tudo se refletiu fortemente em nós, espectadores, que rapidamente, nos adaptamos à legendagem e ao que chamamos de Cinema Narrativo Clássico. Há um século, esse tipo de cinema sustenta fórmulas de sucesso, pela perpetuação de um hábito que foca em narrativa linear, com curva dramática de começo, meio e fim bem-definidos, e em uma estética conservadora.
Em outras palavras, nos acostumamos a um cinema que não dá espaço para o diferente, para a reflexão, para o ambíguo, para a (re)invenção. Muitos filmes brasileiros continuam recebendo influência da cinematografia hollywoodiana, ainda que iniciativas de outros anos voltadas ao fomento, à consolidação de festivais e à profissionalização estejam tornando nosso mercado mais competitivo.
As produções independentes brasileiras são as que mais sofrem com a falta de reconhecimento do público, uma vez que empresas já consolidadas como a Globo Filmes, com bilheterias milionárias e lançamentos dos filmes garantidos em todos os seus meios de comunicação, só reforçam uma mescla estética dos blockbusters hollywoodianos e de suas telenovelas.
Em tempos pandêmicos, uma boa forma de começar é aproveitando o conteúdo brasileiro das plataformas de streaming pagas, como a Netflix e várias outras, e as públicas, como o Banco de Conteúdos Culturais da Cinemateca Brasileira e o Porta Curtas.
Para conhecer obras importantes, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) disponibilizou, em 2016, uma lista dos 100 melhores filmes brasileiros.
Posso te garantir que nossa indústria produz excelentes filmes. Em comum, estes filmes nos ajudam a refletir sobre nossa brasilidade e sobre o ato de pertencer.
Eles propõem experiências cinematográficas únicas, capazes de fascinar a todos aqueles que estão dispostos a mergulhar nas suas propostas. Te convido, desse modo, a conhecer, a dar uma oportunidade, e parar de repetir os clichês que, geralmente, se escuta sobre o cinema nacional. Defender o cinema brasileiro é fundamental. E defender começa por conhecer.