Depois a louca sou eu: tragicomédia com Débora Falabella estreia no catálogo da Amazon Prime
Filme brasileiro foi baseado no livro da escritora e roteirista Tati Bernardi
O novo filme brasileiro Depois a louca sou eu (2021) é dirigido por Julia Rezende e baseado no livro da escritora e roteirista Tati Bernardi. O humor sempre ditou o tom de outras obras que trabalharam juntas, como Meu Passado Me Condena e Meu Passado Me Condena 2. Agora, além da comicidade, o novo longa recebe um peso dramático não visto nos filmes anteriores.
Depois a louca sou eu conta a história de Dani, uma talentosa escritora. Por volta dos seus 30 anos, ela tenta lidar com suas crises de pânico e ansiedade e com a superproteção da mãe. Sua forma de compreender-se no mundo reflete diretamente em seu trabalho como escritora, tornando-a bastante autêntica e prolífica.
A angústia da personagem gera barreiras no convívio social e a leva a isolar-se, a ponto de contar mentiras para os mais próximos. É que pode ser muito desconfortável e doloroso para ela imaginar que as coisas podem sair do controle. Sua zona de conforto é o seu mundo inteiro.
Após muitas sessões de terapia (em várias abordagens) e muitos medicamentos, Dani conclui que não é apenas ela, mas muita gente que, cotidianamente, busca um lugar ao sol. O filme é um retrato do contemporâneo, em que muitas pessoas também procuram ajuda para aprender a lidar com os outros, com a vida e consigo mesmas. As várias situações em que Dani precisa passar geram identificação imediata, que são ao mesmo tempo divertidíssimas, mas sem deixar de trazer reflexão aos problemas dessa “geração Rivotril”.
A diretora teve a sorte de contar com a talentosíssima Débora Falabella para dar vida à personagem. A atriz encontrou um equilíbrio entre o humor e o trágico para apresentar ao espectador como é estar no corpo de alguém que tem crises constantes de ansiedade e de pânico.
Apesar da presença frequente da preocupada (e sufocante) mãe no cotidiano de Dani, houve o cuidado para não infantilizar a personagem, que, apesar de depender de ajuda, é uma mulher adulta e independente, e observamos isso nas situações voltadas à sua sexualidade, aos relacionamentos amorosos e às tomadas de decisão.
A temática da empatia em situações de angústia alheia é também marcante no filme. O espectador compreende melhor como é o ponto de vista de quem sente a aflição, alguém que vai pedir para ir embora no meio da festa, que não conseguirá se divertir envolta de pessoas estranhas, que vai deixar um táxi de sobreaviso caso precise voltar para casa. Essas pessoas não querem ser taxadas de “estraga festa”. Não querem que pensem que é “mimimi”. O que acontece nesses casos é uma aflição tamanha, que faltam palavras para explicar. Caberia a nós compreender e dar apoio a estas pessoas.
Sem fazer apologia ao uso de medicamento tarja preta, como o Rivotril, o filme faz um relato geracional bem-humorado de um problema real. Apresentando, inclusive, as consequências do uso contínuo de medicamentos desse tipo. A terapia sempre foi apresentada no filme como um caminho possível. No caso de Dani, ajudou no conflito entre mãe e filha, uma relação que desde sempre desencadeou muitos problemas nela. As questões abordadas no filme tornam-se ainda mais evidentes em tempos de incerteza que a pandemia traz.
Blumenau, cidade de colonização alemã que se orgulha por priorizar o trabalho acima de tudo, possui números absurdos de casos de suicídio e de pessoas que fazem uso de ansiolíticos. A quantidade de farmácias no município também pode apontar para uma relação dependente dos blumenauenses com medicamentos, algo que muito agrada à indústria farmacêutica. Refletir sobre como nos relacionamos com remédios é urgente e necessário, principalmente em tempos pandêmicos. Depois a louca sou eu fica sendo uma ótima dica para tratar de questões dolorosas na chave da arte e do humor.