A adaptação de Mulan e a overdose de live-actions
O live-action de Mulan, adaptação da animação clássica de 1998, foi aguardado por muita gente no Brasil. Depois de adiada sua estreia várias vezes por conta da pandemia, finalmente Mulan entrou no catálogo brasileiro do Disney+ no dia 4 de novembro.
O filme não tem sido muito apreciado, e por conta de várias polêmicas, inclusive com boicote na própria China, levantou um debate sobre o excesso de live-actions a que estamos sendo submetidos.
A discussão aqui não é muito sobre o que se deve ou não permanecer em propostas de adaptações, até porque esse live-action tem diferenças substanciais em relação ao desenho, e vem frustrando muitos fãs de Mulan justamente por isso. O debate é mais sobre a quantidade absurda que está sendo feita.
Há alguns anos, a Disney começou a investir seriamente em live-actions a partir das suas animações e, segundo o estúdio, a agenda de lançamentos nesse formato está cheia até meados de 2023. A continuidade dependerá do retorno financeiro dessas obras.
Essa aposta mais nostálgica vem dando certo desde 2010, com Alice no País das Maravilhas. Depois disso, tivemos Malévola (2014), Cinderela (2015), Mogli – o Menino Lobo (2016) e A Bela e a Fera (2017). Dentre os mais recentes, destaco Dumbo (2019), Aladdin (2019) e O Rei Leão (2019). Muitas outras produções estão por vir e não acho que isso seja bom.
Deixo claro que não estou querendo a morte dos live-actions. Apenas ressaltando que nem todo filme funciona no formato, e a Disney quer que engulamos tudo goela abaixo. Na tentativa de agradar tanto ao público que cresceu nos anos 1980 e 1990 (como eu), quanto aos novos espectadores infantis que desconhecem as animações, a Disney perde a mão.
O problema principal está, além do exagero de lançamentos por ano, na proposta de uma reinvenção ruim, quando representam, por exemplo, uma Malévola que não é má, uma Mulan que não é uma aprendiz em transformação, mas alguém que já nasceu especial e é muito mais forte que todos. Estamos falando de nuances fundamentais na construção dessas personagens, e os live-actions renunciaram a isso. A reinvenção é interessante, mas deve-se respeitar, minimamente, a essência dos personagens. Algumas vezes a Disney acerta, como é o caso de Aladdin.
Como são lançados muito filmes nesse formato todos os anos, pode até ser que o filme seja bom, mas estamos simplesmente exaustos. No fim das contas, a Disney não está muito preocupada com os seus espectadores. A empresa prioriza o lucro, e não se seus remakes estão fazendo sentido. Cabe à recepção escolher bem o que assistir e ditar o gosto, e não o contrário.