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“Para não esquecer Leila Diniz”

Talvez as gerações mais novas não saibam quem foi Leila Diniz. Seu falecimento, aos 27 anos de idade, de forma tão trágica quanto precoce, representou uma perda terrível para os brasileiros. Perdíamos uma mulher que enfrentava as repressões sociais como poucas, em plena ditadura, em um momento em que se esperava que mulheres fossem “recatadas e do lar”.

Para falar mais de Leila, convidei Kelly Franz, uma das organizadoras do Leia Mulheres em Blumenau, um clube de leitura que debate obras de escritoras para o grande público, geralmente menos consumidas que obras de autoria masculina. O Leia Mulheres é aberto para qualquer pessoa, de forma gratuita. Para saber mais, basta contactar as organizadoras via Facebook.

O interesse de Kelly por Leila Diniz surgiu desde que leram e debateram no clube de leitura, em 2018, a obra ‘Toda mulher é meio Leila Diniz’, de Mirian Goldenberg, um livro que nos apresenta como esta personagem recusou os costumes tradicionais que lhe eram impostos na década de 1960. Não à toa, ela é considerada uma precursora do feminismo no Brasil, já que sua forma intuitiva influenciou, decisivamente, as novas gerações.

Uma frase que bem representaria Leila, seria: “Meio inconsciente, me tornei mito e ídolo, ou mulher símbolo da liberdade, pregadora-mor do amor livre. Muita gente não entende o que é isso. Só quero que o amor seja simples, honesto, sem os tabus e fantasias que as pessoas lhe dão.”

Das Kino: Quem foi Leila Diniz?

Kelly: Leila Roque Diniz foi uma atriz brasileira, nascida em 1945, no Rio de Janeiro, e que faleceu em 1972, em um acidente aéreo na Índia, voltando de um festival de cinema quando sua desejada primogênita tinha apenas 7 meses de vida. Leila foi professora e depois entrou no mundo artístico para atuar, muito pela influência do seu círculo de amizades, formado por músicos, como Toquinho, diretores de cinema e atores. E para além das telinhas ou telonas, Leila Diniz é lembrada também pela bombástica entrevista a O’Pasquim, em 1969, em que abre detalhes de sua vida de forma muito sincera e regado a muitos palavrões, algo que chegou a render o Decreto Leila Diniz. Da mesma forma, também é lembrada como a primeira mulher grávida a frequentar a praia de biquíni! Sim, isso mesmo, até 1971 a vestimenta de banho oficial das mulheres eram os maiôs.

Das Kino: Qual a importância de Leila para o cinema nacional?

Kelly: Leila foi uma atriz com atuações muito versáteis, entre TV, teatro, cinema e até o teatro de revista. Mas foi no cinema que seu nome ficou conhecido, principalmente pelo filme “Todas as mulheres do mundo” (1966), dirigido por seu, então, ex-marido Domingos de Oliveira. Numa tentativa nostálgica de reconquistá-la, Domingos buscou um desfecho diferente nas telas sobre o destino dele e de Leila, no roteiro, eles ficavam juntos. Mas o filme apenas selou uma grande amizade entre os dois.

Das Kino: Quais são os filmes mais notórios da carreira dela?

Kelly: Certamente, o filme mais marcante de sua carreira foi “Todas as mulheres do mundo”, por se tratar de um trabalho bastante autobiográfico que, além de ser sucesso de bilheteria no Brasil, em 1967, também mostrou para as pessoas o quanto Leila Diniz era alegre, apaixonada pela vida e revolucionária nos seus relacionamentos afetivos.

Das Kino: Você acredita que conhecer a Leila continua importante ainda hoje, quase 50 anos após sua morte?

Kelly: Sim, a vida dela também é a vida do cinema brasileiro! Apesar da carreira dita “meteórica”, ela fez muitos trabalhos e ficou marcada pela sua influência na vida das pessoas, expondo ideias diferentes sobre relacionamento. Tudo isso colocou em pauta o conservadorismo da sociedade da época, fazendo as pessoas refletirem sobre a felicidade e a emancipação das mulheres e dos homens.

Cenas finais de ‘Todas as mulheres do mundo: