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“Vida e obra de diplomata brasileiro morto em atentado no Iraque é novidade na Netflix”

Confira a crítica sobre a produção protagonizada por Wagner Moura

Para conhecer Sérgio Vieira de Mello

Lançado na última sexta-feira, 17, na Netflix, o longa-metragem ‘Sergio’ lançou luz à história do diplomata da ONU Sergio Vieira de Mello, nome até então desconhecido para grande parte dos brasileiros.

Líder mundial e criador de projetos a favor da democracia em locais dominados pela violência e repressão, durante 34 anos Sergio trabalhou em missões ao redor do mundo. Durante uma missão no Iraque, em 2003, foi vítima de um ataque terrorista da Al Qaeda, na sede local da ONU, morrendo aos 55 anos, em Bagdá.

Quem dá vida ao personagem é Wagner Moura, também produtor do filme. Esta obra faz parte de um projeto ambicioso de Moura: produzir filmes de personagens latinos que não reforcem estereótipos. Sobre cinebiografias, Moura tem experiência: além de Sergio, já interpretou Pablo Escobar e dirigiu um longa sobre Marighella.

Para interpretar o papel, o ator assistiu outras produções audiovisuais já existentes sobre Sergio, a incluir o documentário (também no catálogo da Netflix) sobre Sergio, além de ler teses de doutorado e biografias importantes, como “O homem que queria salvar o mundo” (2008, Companhia das Letras), de Samantha Power, vencedora do prêmio Pulitzer e ex-embaixadora dos Estados Unidos para as Nações Unidas.

Com narrativa não-linear, o filme começa e termina com o atentado, relacionando aspectos profissionais da última missão de Sergio no Iraque e algumas passagens de sua vida pessoal. O fato dele realmente ter ficado por mais de três horas embaixo de escombros, até falecer, traz importância às cenas do bombardeio e da tragédia, bastante exploradas no filme.

No longa, conhecemos um Sérgio que honrou a diplomacia: com empatia, firmeza e maestria, negociou a independência do Timor-Leste junto ao presidente indonésio e enfrentou líderes estadunidenses no Iraque. Estes exemplos ilustram as diversas vezes em que ele teve que resolver conflitos e lidar com líderes guerrilheiros e governantes pouco democráticos.

Para explorar o lado mais humanitário do personagem, há um momento em que Carolina Larriera (Ana de Armas), economista argentina que também servia à ONU na missão iraquiana, apresenta ao diplomata várias artesãs do Timor-Leste.

Foto: Divulgação

Em bonita e sensível cena, Sergio conhece a personagem Senhorinha, interpretada por uma mulher não-atriz da região. O diálogo em português foi inspirado em uma conversa real de Sergio com as comunidades que se deparava em suas missões, na tentativa de conexão com este povo para além das lideranças políticas.

O drama amoroso de Sergio e Carolina acaba se sobressaindo à carreira diplomática do personagem. Interfere, pelo tempo geralmente destinado a um filme, nas percepções das várias nuances político-sociais geradas nestes tortuosos e dificultosos contextos políticos de reconciliação, a exemplo da condição da Indonésia no Timor-Leste.

Ainda que o filme pareça heroicizar a figura do personagem, apresentando menos seus conflitos internos e mais seus feitios e sucessos, ele é importante, antes de qualquer coisa, porque torna mais conhecida, principalmente para os brasileiros, a história deste grande defensor dos Direitos Humanos que foi Sergio Vieira de Mello

A própria história das Nações Unidas é dividida entre antes e depois do trabalho do diplomata e seus valores humanistas. Como mencionado no filme, ele era “o único alto funcionário da ONU conhecido por todos pelo primeiro nome”, ainda que isso também possa ser interpretado como uma característica de sua brasilidade, ressignificada para um cenário internacional.

Após 17 anos da morte de Sergio, Moura comenta sobre a atualidade da sua visão de mundo e a falta que lideranças como ele nos faz, em meio à fragilidade, o despreparo e ausência de valores das autoridades mundiais. Em momentos de inversão de valores, filmes como este nos dão ânimo e coragem.

A vida e a obra do diplomata brasileiro são muito estudadas nos cursos de Relações Internacionais. No Brasil, existe uma cátedra em sua homenagem, incorporada por diversas universidades. Além de trabalhar pelas democracias, Sergio também era especialista em resolução de conflitos em tempos de pandemias. Seria um líder crucial na crise atual. Que o filme seja, sobretudo, assistido no Brasil.