De mãe para neto: como o Banco de Leite ajudou três gerações de blumenauenses
Estrutura completa 20 anos em 2018 promovendo o aleitamento materno
Esse será o primeiro Dia das Mães de Abigail de Oliveira Neves da Rosa. O primeiro filho, Nicolas, tem pouco mais de dois meses. Vai ser também a primeira vez que ela terá de dividir a mãe: a irmã Rebecca nasceu 25 dias depois de Nicolas.
O tradicional almoço para celebrar a data, na casa de Juliane de Oliveira Neves – mãe e agora avó -, será também, claro, de muitas mamadas. E se há algo em comum entre as duas é a quantidade de leite para amamentar.
Já nos primeiros dias após o parto e com leite sobrando, Abigail viu um cartaz no consultório médico que chamou a atenção dela. Nele havia informações sobre o Banco de Leite de Blumenau.
Foi ali que a jovem de 18 anos ouviu do obstetra uma breve explicação sobre o principal trabalho desenvolvido pela instituição: o de coletar e levar alimento a recém-nascidos.
Abigail, que mora em Pomerode, decidiu fazer parte do grupo de cerca de 80 mulheres que doam leite semanalmente. O motorista e uma técnica de enfermagem buscam nas casas das mães o alimento.
As cidades contempladas com o serviço, além de Blumenau, são Gaspar, Ilhota, Brusque, Indaial, Pomerode e Timbó. Abigail já sabe o procedimento de cor: ela coloca a máscara no rosto e a touca para não correr o risco de contaminar o leite, lava as mãos e enche o pote de vidro esterilizado que é deixado pela técnica. Depois de cheio, ele vai direto para o congelador.
O carro, equipado com refrigeração e isolantes térmicos, leva o leite congelado até a sede do Banco, que fica dentro do Centro de Saúde Rosania Machado Pereira, próximo à rodoviária de Blumenau.
Depois da pasteurização e dos testes de qualidade, ele volta para o estado sólido – líquido, de novo, só quando for a hora de ser ingerido pelos bebês.
Além dos recém-nascidos que precisam de reforço alimentar nos hospitais, há casos de mães que levam os pequenos até o Banco.
Ali, eles recebem o leite direto do armazenamento (que tem capacidade para 860 litros). São diversos congeladores, a maioria lotada de vidros cheios.
Assim que a irmã de Abigail nasceu, a mãe Juliane também ajudou na doação. Em uma semana, ela encheu três vidros – há mulheres que enviam 20 frascos, conta a coordenadora da instituição, Elisabeth Kuehn de Souza.
Juliane apoiou apenas uma vez porque a menina “logo deu conta do recado”, explica aos risos. Abigail continua doando, algo que faz desde o 15º dia de vida de Nicolas.
Duas décadas de auxílio às mães
Há 20 anos Blumenau e região contam com o serviço do Banco de Leite. O aniversário será comemorado em julho. São cerca de 200 litros doados por mês aos hospitais Santa Catarina, Santo Antônio e Santa Isabel, em Blumenau, e ao Hospital Azambuja, em Brusque.
Além desse trabalho, a equipe de 12 pessoas, entre médicas, psicóloga, enfermeiras e técnicas, auxilia as mulheres com orientações essenciais.
Desafios da amamentação
Durante a gestação e após o nascimento do bebê, há uma infinidade de descobertas – e inúmeros desafios. A amamentação é um deles. Em uma das quatro salas de atendimento do Banco de Leite, a missão se torna mais fácil com a ajuda das profissionais.
“Elas chegam aqui com dor e saem sem”, revela, com um sorriso, a coordenadora.
Além das dicas de amamentação para cada uma das cerca de 300 mulheres que procuram o Banco mensalmente, há também o trabalho psicológico desenvolvido nos casos em que a equipe identifica uma possível depressão pós-parto.
A participação em cursos de gestantes e informações durante o pré-natal chegam até as futuras mães que utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, no geral, a maioria das mulheres que procuram o serviço vêm do sistema privado, revela Elisabeth. No Banco de Leite, todas que precisam ou que querem ajudar são bem-vindas.
Rede de apoio
Abigail logo terá que voltar ao trabalho de auxiliar de tecelã, o que dificultará a frequência das mamadas e a organização para retirar o leite doado. A coordenadora do Banco de Leite conta que há empresas em Blumenau que apoiam a instituição e possuem uma sala com refrigerador e pia, onde as mulheres podem fazer todo o procedimento enquanto estão no serviço.
Formando uma rede de apoio em várias esferas da cidade, a amamentação pode se tornar mais fácil, menos dolorosa e mais duradoura, como é recomentado pela Organização Mundial da Saúde.
“Quem tem peito, dá leite, quem não tem, dá força”, é a mensagem de um dos quadros pendurados pelas paredes do Banco de Leite.