Josué de Souza

Cientista social e professor, é autor do livro Religião, Política e Poder, pela EdiFurb.

“Desfiliação de Napoleão é consequência do enfraquecimento dos partidos”

Colunista relaciona saída do ex-prefeito do PSDB à fragilidade das organizações políticas

A fragilidade dos partidos políticos

O desembarque de Napoleão Bernardes do PSDB, é sem dúvida, a notícia mais impactante da política catarinense desde a eleição de Carlos Moisés (PSL). Porém, engana-se quem pensa que o fato reduz-se a vontade pessoal ou cálculo político do ex-prefeito. É apenas uma cena de um enredo que tem nele o enfraquecimento dos partidos políticos e das formas tradicionais de representação.

A saída de um líder como Napoleão de um partido histórico como o PSDB é sintomática não só para os tucanos, que sofrem um processo de definhamento, mas para a vida partidária nacional.

Desde o final da década de 1990 há no Brasil um processo de demonização do Estado. Fenômeno que carrega junto um processo de criminalização da política e dos mecanismos tradicionais de representação. Os poucos partidos políticos deixaram de ser esfera onde os cidadãos se encontram para discutir as diferentes ideologias, bandeiras políticas e programas de governo e passaram a ser conduzidos por pesquisas de opinião, de intenção de voto e de imagem.

Os discursos políticos tornaram-se uníssonos em agradar ao mercado. É preciso reduzir o estado e os direitos, dizem eles. Como todos passaram a defender a mesma coisa, o debate político tem girado apenas em torno de escândalos derivados de corrupção. A consequência foi o enfraquecimento dos partidos políticos.

A isso corrida eleitoral de 2018 em Santa Catarina e no Brasil foi marcada pelo desrespeito às convenções partidárias. Praticamente todas as siglas, de direita e de esquerda, tiveram candidatos ao governo diferentes das deliberações partidárias. Quem definiu os candidatos não foram os filiados, mas sim os caciques políticos.

Não por acaso o escolhido pela população para governar o Brasil foi um deputado que há 27 anos ocupava uma vaga na Câmara dos Deputados sem aprovar praticamente nada. E menos de 50 dias depois de iniciar o mandato já se fala em mudar de partido.

Em Santa Catarina, o governador eleito é um desconhecido, integrante de um partido que não possui solidez programática, nem mesmo organicidade interna.

Lembro que, quando reeleito para o Executivo municipal, Napoleão Bernardes foi saudado por Fernando Henrique Cardoso como uma liderança política nascente. FHC não estava errado. Não sou eleitor do Napoleão, porém, são inegáveis as qualidades do ex-prefeito.

É jovem, possui formação acadêmica e política sólida e, diferente de outros, não é avesso à democracia. Característica que, em tempos de candidatos eleitos por ondas, torna-se uma credencial importante.

É conhecida também sua ligação umbilical com o PSDB. Por isso que a notícia de sua desfiliação chama tanta atenção. Porém, esta decisão não é isolada. É consequência de uma realidade de enfraquecimento dos partidos políticos.

Napoleão precisa encontrar um caminho, a democracia brasileira também. Não há democracia forte sem vida partidária forte e não há partidos políticos fortes sem a participação dos cidadãos.

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