Designer morta pelo ex-namorado participaria de debate sobre violência contra a mulher
Artista talentosa, Bianca Mayara Wachholz encontrou apoio para terminar o relacionamento, mas acabou vítima do machismo
Artista talentosa, empreendedora em ascensão, defensora dos direitos das mulheres em formação. Aos 29 anos, Bianca Mayara Wachholz tinha muitos planos e energia de sobra para concretizá-los. Potencial interrompido de forma brutal.
Bianca foi assassinada, ao que tudo indica pelo ex-namorado, dentro da casa da mãe, no bairro Itoupava Central.
ATUALIZAÇÃO: Polícia prende homem que matou Bianca Wachholz
Chocados, familiares e amigos velam o corpo da mulher jovem, que havia rompido o relacionamento com medo de agressões, que vinham se tornando cada vez mais frequentes.
Bianca formou-se em Design de Moda e vinha tirando da gaveta o sonho de viver da arte que produzia. Queria deixar o trabalho fixo em uma empresa da cidade, onde desenvolvia estampas, para ganhar dinheiro fazendo o que mais lhe dava prazer. Começou um curso de estruturação de negócios no início deste ano e já conquistava os primeiros clientes.
Durante o curso, acabou sendo demitida do emprego. Preocupada, contou com a ajuda das novas amigas que fez durante o grupo de trabalho, como a consultora Mariana Francisco e a médica Fernanda Vaz. Profissionalmente, a situação estava evoluindo bem, Bianca era talentosa.
Porém, há cerca de um mês, no último encontro com as novas parceiras, durante a apresentação do trabalho final do curso, a maquiagem forte chamou a atenção. O pó no rosto disfarçou, mas não escondeu as marcas da violência. Bianca havia levado socos do namorado.
Desabafou com Fernanda e estava decida a pôr um fim ao relacionamento que durava pouco mais de um ano. Era hora de pensar mais em si, focar no trabalho e deixar para trás o relacionamento abusivo que vinha suportando.
À amiga de infância, Nachara Feliponi, Bianca havia revelado que o namorado, Éverton Balbinott de Souza, de 31 anos, confiscava o celular dela, monitorando todas as mensagens que recebia. Quem conhecia o casal jamais suspeitaria das agressões que ela já havia sofrido, entre elas uma tentativa de estrangulamento e um corte com faca.
Éverton, em seu perfil de Instagram, postava fotos e declarações apaixonadas. Era visto como uma pessoa boa, pacífica e querida pelas pessoas ao seu redor.
Encorajada pelas amigas, Bianca passou a falar cada vez mais – e sempre com delicadeza e paciência – sobre os direitos das mulheres, discriminação racial e a liberdade feminina. No muro do coworking Fashion Lab, na rua São Paulo, Itoupava Seca, desenhou o rosto da artista Frida Kahlo. Estava encantada com a história da mexicana.
A libertação pessoal culminou no fim do relacionamento, há menos de um mês. Bianca deixou o apartamento onde morava com o companheiro, tentou se afastar sem brigas e sem envolver a polícia, apesar de tudo que tinha passado nos meses anteriores. A última ameça de Éverton, nesta terça-feira, 24, assustou:
“Ele estava decidido. Ele vinha dizendo que se ela não fosse dele, não seria de mais ninguém”, recorda Nachara.
Bianca, que a essa altura estava morando com os pais, procuraria a delegacia no dia seguinte, esta quarta-feira, 25. Éverton soube. No dia em que registraria o boletim de ocorrência, a artista perdeu a vida.
Homenagem a Bianca Wachholz
Nesta sexta-feira, 27, Bianca participaria de uma roda de conversa de mulheres, que estava organizando junto com a colega médica. Fernanda conta que durante o bate-papo sobre superação e empoderamento, elas arrecadariam doações espontâneas, que seriam entregues a mulheres vítimas de violência doméstica.
O evento será realizado, mas agora como uma homenagem à artista. A vigília ocorre às 20h no Coworking Fashion Lab, na rua Engenheiro Paul Werner, 218, bairro Itoupava Seca.
“Nós resolvemos manter a data e chamar mais mulheres e homens aqui para falarmos sobre isso, falar sobre a violência, mostrar que de fato isso acontece no dia a dia da sociedade e que a gente precisa denunciar, precisa fazer alguma coisa a respeito, precisa ajudar mulheres que passam por essa situação”, pediu Simone Passarin, dona do Fashion Lab.
Bianca escreveu na internet que queria manter o espírito perseverante, livre e forte. Para as amigas, as asas do sucesso incomodaram o parceiro, que vivia imerso em pensamentos machistas.