Dez anos depois, enchente de 2011 segue na memória de Blumenau; veja fotos e relembre

Cheia foi a mais alta da cidade nas últimas décadas

Nessa semana, a enchente mais alta que Blumenau enfrentou neste século completa 10 anos. Enquanto muitos ainda se reerguiam da grande tragédia de 2008, as cheias de 2011 alcançaram 12,6 metros.

Apesar de não ter ocasionado nenhum óbito, o nível da água prejudicou boa parte da cidade e levou embora as réguas que mediam o nível do rio Itajaí-Açu. O pico foi em 9 de setembro, um dia após o rio começar a subir.

No fim de agosto, no dia 31, o rio já tinha alcançado 8,5 metros. Apenas um prelúdio do que estava por vir. A cidade só saiu da situação de enchente no dia 11 de setembro. A última vez que o rio havia ultrapassado os 12 metros foi em maio de 1992.

Jaime Batista/Blog do Jaime

O secretário da Defesa Civil de Blumenau, Carlos Olimpio Menestrina, descreve a cheia de 2011 como uma enchente típica. Diferente da tragédia ocorrida três anos antes, que foi marcada pelos deslizamentos de terra, a última grande cheia da cidade chegou em um momento em que o município já estava calejado.

“Como historicamente a cidade é mais atingida, muitos moradores já possuem seu próprio plano de contingência. Sabem quando levantar os móveis e sair de casa. Em 2011 a água subiu gradativamente, ficou alguns dias e a recuperação foi mais fácil do que em 2008”, lembra Menestrina.

Vila Germânica teve um mês para se reestabelecer antes da Oktoberfest. Foto: Jaime Batista/Blog do Jaime

As duas ocorrências são incomparáveis, já que em 2008 houve 24 mortes apenas em Blumenau. A desobstrução das vias também foi dificultada pelos deslizamentos e muitos imóveis foram completamente destruídos pela terra.

“Blumenau sempre foi referência nacional em combate de enchentes, mas ninguém esperava aquela movimentação de terra. Depois da tragédia a Defesa Civil agregou novas especialidades e em 2011 já tínhamos mais experiência e mais foco para atuar na prevenção e preparação da população”, pondera.

Rua Reinoldo Gutz, na Velha Central, sofreu deslizamento. Foto: Jaime Batista/Blog do Jaime

Apesar do peso de acompanhar as pessoas perdendo o que construíram, a lembrança de não ter enfrentado nenhum óbito alivia o trabalho para Menestrina. Segundo ele, a resiliência da população blumenauense mediante as tragédias é a característica mais importante da cidade.

Filho de enchente

Fernando Stahelin, 37, tinha recém voltado a dormir tranquilamente quando o pesadelo voltou. Ele construiu uma casa logo abaixo do imóvel dos pais na rua Araranguá que quase foi destruída por um deslizamento em 2008. “Fiquei traumatizado. Acordava gritando achando que o muro ia cair de novo”, relembra.

Em 2008, deslizamento destruiu parte da obra. Foto: Arquivo pessoal

Apesar de eles terem feito terraplanagem no terreno, o muro do pai voltou a cair em 2011. Com o risco de perder a casa, Fernando precisou investir em um muro de contenção. “Minha sorte foi que tinha seguro, ou até hoje não teria conseguido construir. Precisei vender o carro para pagar a mão de obra”.

Na grande tragédia, Fernando sofreu uma infecção alimentar grave e não conseguiu chegar no hospital. A rua estava bloqueada e ele ficou aos cuidados da esposa. A família tinha receio de deixar ele dormir, com medo que não acordasse mais.

“No dia seguinte acordei com meu pai me falando que a casa podia cair e tirei forças não sei de onde. Pegamos um machado para cortar uma árvore. Precisamos tirar barro com pá para passar pela nossa rua e comprar comida. Chegamos no mercado de bota e roupas rasgadas depois de uma semana ilhados”, conta.

Fernando construiu muro de contenção para garantir segurança da família. Foto: Arquivo pessoal

A história de Fernando, hoje com 37 anos, nasceu em uma enchente. Em 1984, na pior cheia que a cidade teve nos últimos 100 anos, o pai dele precisou de um barco para levar a esposa grávida ao hospital. Fernando nasceu com o rio acima dos 15 metros.

Praticamente toda população foi afetada

O número de pessoas consideradas afetadas na enchente foi de 302 mil. Em 2010, a população de Blumenau de acordo com o IBGE era de 309 mil habitantes. Destas, 90 mil ficaram desalojadas e 668 desabrigadas. Ainda 138 feridos e 65 enfermos foram registrados pela Defesa Civil.

Desde então, o nível do rio Itajaí-Açu não ultrapassou 10,5 metros. A última enchente registrada em Blumenau foi em 2017, quando a cheia foi de 8,71 metros.

Investimentos em prevenção

Para o secretário da Defesa Civil de Blumenau, a maior preocupação atualmente é a Barragem Norte, localizada no município de José Boiteux. Blumenau é uma das cidades que recebem as águas do Alto Vale e a reativação plena da barragem é vital para que a cidade possa controlar melhor as cheias.

A segunda preocupação é a passagem do trabalho do Ceops, que costumava ser mantido pela Furb, para a Defesa Civil. O sistema existe desde 1980 e está sendo gradativamente assumido pelo poder público desde o início deste ano.

“Nas enchentes de 2017 e 2018 tivemos dificuldades com o sensor da ANA. Recentemente conseguimos reestabelecer réguas que foram levadas pelo rio em 2011. O novo sensor exclusivo da Defesa Civil já está levando informações direto pro aplicativo do AlertaBlu. Assim vários sistemas se complementam”, ressalta Menestrina.

Marcelo Martins/Prefeitura de Blumenau

A Prefeitura de Blumenau também deve instalar uma câmera focada na régua instalada nas proximidades da Ponte Adolfo Konder para que a população possa acompanhar o nível do rio em tempo real.


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