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Dia do Meio Ambiente: como os incêndios afetam o ecossistema do Parque Nacional da Serra do Itajaí

Além da vegetação, fauna e nascentes são prejudicadas pelo crescente número de queimadas no local

Incêndios que atingem o Parque Nacional da Serra do Itajaí estão mais frequentes e intensos e já destruíram mais de 65 hectares de área verde. O fogo, que é normalmente causado por ação do homem e agravado pela estiagem, prejudica o ecossistema local, afetando fauna, flora e também as nascentes.

O Parque Nacional da Serra do Itajaí foi criado em 2004 e protege aproximadamente 57 mil hectares de florestas, em sua maioria em avançado estágio de regeneração, preservando a maior área contínua de Mata Atlântica do estado. A área envolve nove municípios catarinenses, como Botuverá, Blumenau e Guabiruba.

O biólogo e professor da Furb, Lauro Bacca, destaca que os topos de morro possuem uma vegetação diferenciada dos demais locais.

“Lá em cima, tem uma camada espessa e fofa, que pode passar de meio metro, que tem um tipo de vegetação que é um padrão que se repete em morros distantes um do outro, como o Morro do Barão, Spitzkopf e do Baú”.

Bacca explica que o funcionamento do ecossistema da área se adapta às condições que encontra, já que os topos de morro têm menos nutrientes. A estratégia desse tipo de vegetação é de se aproveitar dos nutrientes a chuva e das folhas que caem. “Elas mal começam a apodrecer e já são envoltas pelas raízes. Com isso, as raízes vão crescendo no meio dessas folhas e galhos que caem para formar a camada espessa”.

Corpo de Bombeiros/Divulgação

A destruição destas áreas também acaba afetando toda um ecossistema específico presente no local.

“Quando bem preservados, além de ter uma vegetação típica, há também uma fauna específica. Algumas destas espécies não ocorrem na encosta, porque não conseguem vencer a concorrência com outras espécies em lugares mais úmidos. Tem todo um aspecto único que infelizmente alguém descuidado ou que não tem consciência”, ressalta Bacca.

O biólogo Adriel Paloschi, por sua vez, ressalta que estes incêndios causados por ação humana prejudicam uma séries de espécies que habitam o local.

“Entre os animais, as principais vítimas fatais são os microrganismos que vivem no solo, além de invertebrados, anfíbios e pequenos répteis. Alguns animais como o tamanduá-mirim e o ouriço-cacheiro, bastante comuns na região, têm o hábito de dormir em árvores e podem ser surpreendidos pelo fogo”, alerta.A camada espessa formada nos topos de morros, desde que preservada, ajuda tanto em momentos de enxurrada quanto de estiagem, além de diminuir a possibilidade de deslizamentos. Mesmo com chuvas muito fortes, a camada não sofre erosão aparente, apenas uma dissipação de nutrientes. Para as áreas menos preservadas, explica Bacca, a estiagem é mais severa e os problemas com enxurradas mais frequentes.

Bacca compara os topos de morro a caixas d’água de uma casa. Antes da queima, tem uma capacidade de mil litros, depois pode cair para uma de 50 litros. Isto porque a vegetação presente nestes locais ajuda a transferir praticamente toda a chuva para as nascentes que ficam mais abaixo. Uma vez destruída, perde muito a capacidade.

Corpo de Bombeiros/Divulgação

Por conta da especificidade destas áreas, a regeneração após a queima pode levar mais de um século, principalmente pela queima de banco de sementes e do empobrecimento do solo, explica Paloschi.

Bacca explica que a vegetação e certa variedade de espécies são capazes de se recuperar, mas bem mais pobre de nutrientes do que originalmente.

“A cobertura florestal, árvores baixas de dois a três metros conseguem se recuperar, mas o solo que formava aquela camada espessa, não. As árvores maiores lá em cima crescem muito devagar, algumas levam mais de um século”, alerta.

Paloschi destaca que não é comum que incêndios na Mata Atlântica aconteçam por causas naturais e que a ação do ser humano é a causa do fogo na maioria dos casos. Além disso, as condições do local acabam alastrando as chamas rapidamente. Maio de 2020 foi o mês com mais incêndios em Santa Catarina nos últimos quatro anos.

“A partir do momento que o fogo é iniciado, o risco de incêndio é grande devido à estiagem, ventos fortes nos topos dos morros e a quantidade de matéria orgânica acumulada no solo, como folhas e galhos”.

Além do dano ecológico e agravamento de estiagens, Bacca destaca que os incêndios colocam várias pessoas em risco e significam um gasto grande do dinheiro público. Um dos fundadores da Associação Catarinense de Preservação da Natureza (Acaprena), ele conta que há anos percebe um negligenciamento por parte do poder público em relação à punição dos causadores, fiscalização e pela criação de uma consciência.

“Enquanto acharmos que o combate algum crime pode ser prioridade sobre o outro, incentivamos o menor a acontecer e ele acaba se tornando maior. Não dá para aceitar esta justificativa das autoridades. Esses estragos ficam por décadas ou até séculos”.