Duas histórias que migraram de banco dentro dos ônibus
Reportagem: Natiele Oliveira e Alice Kienen
Rafael Mafra, de 32 anos, é um dos motoristas de ônibus de Blumenau que começou a trabalhar no transporte público ocupando outro banco: o do cobrador. Antigo promotor de vendas em supermercados e farmácias da região, há nove anos ele iniciou a carreira no transporte coletivo da cidade.
Quando atuava como agente de bordo (cobrador), ele visava o cargo de motorista. Movido por este desejo, Rafael buscou a habilitação de categoria D. “O começo foi bem interessante, pois eu vinha de uma área bem diferente. Então tudo era novidade”, lembra.
Para Rafael, a evolução vivenciada com a mudança de cargo foi natural. “Como cobrador, minha rotina era cobrar a passagem e auxiliar os passageiros e o motorista em qualquer situação necessária. Principalmente no desembarque dos passageiros”, observa.
Como motorista, Rafael começou na linha 510, que passa pela Rua Oscar Burger. Hoje, ele atua na mais movimentada de todas, a linha Troncal 10. Para Rafael, dirigir em Blumenau é uma aventura. “Não sabemos o que nos espera. Passamos por algumas (situações) quase todos os dias, evitando acidentes”, observa.
Primeiro e único emprego
Quando ainda trabalhava como cobrador, Rosival Viera da Silva, 42 anos, foi vítima de criminosos enquanto aguardava o ônibus para ir para o trabalho. Na ocasião, ele foi rendido por três homens encapuzados. Além do prejuízo causado pela situação, restou do episódio um trauma. “Qualquer coisa hoje em dia me assusta. Até mesmo um latido ou o miado de um gato”, conta.
A exemplo de Rafael, Rosival foi atrás da habilitação de categoria D porque tinha vontade de mudar de função, saindo do banco de agente de bordo (cobrador) para ocupar a posição de quem conduz os veículos pela cidade. Rosival conta que fez parte, inclusive, de uma época na qual a concessionária do serviço público incentiva esse tipo de promoção.
Mas a trajetória dele foi longa até mudar de função. Ele começou como cobrador aos 15 anos de idade e atuou nesta função por 13 anos. Trabalhar no transporte público de Blumenau foi o primeiro e único emprego dele. Nos últimos 14 anos, Rosival mudou de função e atua como motorista de ônibus na cidade.
Antes da pandemia de Covid-19 mudar a rotina dos trabalhadores do transporte público em Blumenau, Rosival trabalhava no Terminal do Garcia, atuando nas linhas alimentadoras do bairro. Mas, hoje em dia, ele trabalha na mesma linha que Rafael: a movimentada Troncal 10.
No dia a dia da função, Rosival precisa lidar com o trânsito que, segundo ele, é bem complicado na cidade. “Principalmente nos horários de pico. As ruas não suportam o número de carros e os ônibus sofrem bastante com isso. Isso faz parte do show, então toco normal”, ensina.