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“É preciso descobrir e processar criminalmente quem põe fogo na vegetação”

Vendo o Pantanal mato-grossense e tantas outras regiões do Brasil ardendo em milhares de incêndios infinitos e devastadores, a memória evoca o grande ambientalista que foi o gaúcho José Lutzenberger (1926–2002) que dizia: “O brasileiro é um piromaníaco, vive botando fogo em tudo, por qualquer motivo e até sem motivo”.

Desde 1966 este autor já subiu 107 vezes o morro do Spitzkopf, em Blumenau. Até por volta dos anos 1990, dependendo da época do ano, meu coração se dividia cada vez que eu pisava na altura dos 913,98 metros, (altitude oficial do IBGE), depois de escalaminhada de quase sete quilômetros e deslocamento vertical de mais de 700 metros.

Por um lado, a espetacular visão privilegiada da paisagem formada por montanhas e vales e o ainda exuberante verde de boa parte das florestas que restaram na região, hoje grande parte compondo o Parque Nacional da Serra do Itajaí e, lá longe, ao Norte, no fundo do vale, minúsculos, os prédios no Centro de Blumenau e pequenas partes de diversas outras cidades que podem ser espiadas por frestas do relevo.

Por outro lado, doía na alma avistar, principalmente no inverno, as inúmeras colunas de fumaça a macular de fuligem cinza-azulada o que deveria ser um límpido céu, típico dessa época do ano.

A piromania depravada do brasileiro também grassou por estas plagas até pouco mais de três décadas atrás. O próprio pico do morro Spitzkopf ardeu em chamas entre os dias 05 e 10 de junho de 1995, ironicamente, em plena Semana Nacional do Meio Ambiente. Teria sido um raio? Alguma combustão espontânea? Não. Ao que se sabe, um grupo de jovens achou que seria divertido soltar fogos de artifício do topo do morro, justo num raro período de seca que já durava um mês na região.

Aqueles jovens desceram de lá, numa tardinha de domingo, sem saber das consequências de seu irresponsável e criminoso ato. No amanhecer de segunda-feira, alguém num ponto de ônibus do bairro Progresso avistou os primeiros sinais de fumaça.

O alarma se espalhou e bombeiros, o recém-instalado pelotão da polícia ambiental, voluntários e tantos outros fizeram o que puderam com enorme esforço e sacrifícios, mas, mesmo assim, as chamas foram mais fortes e conseguiram consumir muitos milhares de metros quadrados daquela vegetação chamada de “matinha nebular”, que só existe em topos de morros altos, em nenhum outro lugar mais.

Perto do Spitzkopf, alguns anos antes, um cidadão “inteligente”, tentando se livrar de um ninho de marimbondos numa árvore nos fundos de sua casa, usou uma pequena tocha de fogo na ponta de uma vara de bambu. O topo do morro contíguo à sua residência queimou por três dias e três noites.

Na cidade de Blumenau, vários eram os focos “tradicionais” e anuais de incêndio. Entre estes, podemos citar o topo do Morro do Garcia, conforme o IBGE, mais conhecido como “Morro do Quartel”, por se localizar defronte ao quartel do 23 BI do Exército Brasileiro. O topo desse morro queimava todos os anos.

Outro que teimava em queimar todos os anos era o morro nos fundos da antiga empresa têxtil Sul Fabril. Até o dia em que se divulgou que os responsáveis seriam investigados pela polícia. A partir daí, em poucos anos, como que por encanto, nenhum desses morros voltou a queimar e hoje, sem queimadas, a floresta, felizmente e lentamente, volta a ocupar o seu lugar.

Por que será que a incidência de queimadas diminuiu drasticamente e quase zerou em nossa região? Será que nunca mais caíram raios por aqui? Ou será esta mais uma prova de que quase 100 por cento dos incêndios eram provocados por pessoas? Ganha um delicioso picolé de milho o primeiro que acertar a resposta correta.

Claro que a educação ambiental difundida pela mídia ajudou, mas, terminada a sensação de impunidade, os piromaníacos de nossa região pararam de atear fogo depois que souberam que haveria investigação policial a cada incêndio acontecido. Que esse procedimento seja aplicado o quanto antes em todo o país e veremos diminuir em quase 100 por cento os terríveis incêndios, mesmo aqueles que acontecem em biomas mais secos, completamente diferentes dos aqui.

Descobrir e processar criminalmente quem põe fogo na vegetação, junto com campanhas educativas, é muito mais fácil e quase infinitamente mais barato do que montar gigantescas estruturas, envolvendo milhares de brigadistas, bombeiros e voluntários, equipamentos, viaturas, aviões, helicópteros, barcos, drones, viagens e diárias para essa gente toda que, com bravura, risco e enormes sacrifícios, corre atrás para tentar apagar o fogo, quase sempre ateado por depravados piromaníacos.

Chega de milhões de animais da fauna silvestre mortos e ecossistemas inteiros calcinados. Chega de botar a culpa na vegetação seca e nos raios. Chega de Brasil queimando, chega de impunidade! Campanhas de educação e rigoroso processo criminal para cada metro quadrado queimado e para cada animal da fauna morto por incêndios provocados por eco-depravados. E só começar e, como que por “milagre”, os incêndios vão diminuir 97% a 99% no país, como diminuíram aqui em nossa região.

Meu velho jipe Willys ano 1957 e eu, estacionado no pátio da então ala nova do Colégio Pedro II de Blumenau onde estudei no Segundo Grau, hoje Ensino Médio e depois fui professor. Com este veículo conheci a paisagem urbana, rural, natural e o meio ambiente de uns cem municípios catarinenses, num tempo em que asfalto era coisa rara de se encontrar no Estado. No morro aos fundos, vê-se a ala antiga desse estabelecimento de ensino, que hoje abriga o Colégio Policial Militar de Blumenau. Foto do dia 16/07/1974, 21 dias depois que fiz a barba pela última vez.


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