Medo de ser enterrado vivo faz dono de cemitério de Blumenau criar sepultura com rota de fuga
O Cemitério São José, localizado em Blumenau, tem 100% de suas sepulturas verticais adaptadas com uma rota de fuga. O sistema foi desenvolvido pelo proprietário, Alcione Alvim Da Silva, movido pelo trauma de ser enterrado vivo. Além da estrutura para que a pessoa “escape” caso esteja viva, as sepulturas em questão também permitem que entre ar […]
O Cemitério São José, localizado em Blumenau, tem 100% de suas sepulturas verticais adaptadas com uma rota de fuga. O sistema foi desenvolvido pelo proprietário, Alcione Alvim Da Silva, movido pelo trauma de ser enterrado vivo.
Além da estrutura para que a pessoa “escape” caso esteja viva, as sepulturas em questão também permitem que entre ar no espaço.
“Eu tinha muito medo da morte em função do medo de ser enterrado vivo, claustrofobia. A partir do momento que eu resolvi esse problema, a morte para mim é uma coisa tranquila”, diz Alcione Alvim Da Silva.
Como funciona a rota de fuga
Apesar de o cemitério possuir sepulturas verticais desde 2006, a rota de fuga começou a ser desenvolvida em 2010. Porém, não funcionou como o planejado. Há cerca de dois anos, o projeto deu certo e o sistema foi inaugurado. Alcione afirma que as pessoas buscavam pelas sepulturas com possibilidade de escape antes mesmo de elas existirem no São José.
Sistema de aeração
Dentro da sepultura existe um sistema de aeração com duas canalizações, uma para sugar o ar que está dentro e outra que empurra ar limpo para a gaveta. Ou seja, a pessoa que hipoteticamente estiver viva ali, não morrerá por asfixia.
O cemitério também possui um biofiltro, que é responsável por evitar o espalhamento de odores. Além disso, Alcione diz que o sistema de sucção do ar acelera a decomposição natural do corpo, sendo ecologicamente melhor do que as sepulturas tradicionais.
A sepultura
Antes de colocar o caixão na gaveta, são retirados os parafusos que seguram a tampa. Posteriormente, a sepultura é lacrada com uma cola flexível, que demora muito tempo para secar.
A gaveta também e fechada com uma cobertura fina, de ACM (Material de Alumínio Composto), a qual permite que com a própria tampa do caixão, a pessoa consiga abrir a sepultura. “Ela vai conseguir abrir porque não estará com falta de ar nem com falta de espaço físico”, assegura o proprietário.
Três anos depois
Segundo Alcione, o corpo fica ali por três anos, depois, a gaveta é aberta. Como estão só os restos mortais, é feito o que ele chama de higienização térmica.
“Não é uma cremação, é uma higienização térmica para que esse material seja transformado em cinzas e possa ser guardado eternamente no jazigo que pertence à família”, explica.
Conhecimento
No entanto, o proprietário lembra que para o sistema funcionar, é imprescindível que a pessoa que for enterrada saiba que está em uma gaveta: “ela precisa saber que está ali, porque se for tentar sair para cima, como em uma sepultura tradicional, não vai conseguir, tem que ser pelos pés”.
Trauma de infância
O medo de ser enterrado vivo assombra Alcione desde a infância, quando declara ter presenciado um episódio durante um velório. Outra situação que o marcou foi o caso do ator Sérgio Cardoso, que morreu em 1972 e mais tarde surgiram boatos de que ele teria sido sepultado com vida.
Anos depois, o coveiro descobriu que seu pavor tinha nome, chamava-se catalepsia. A catalepsia é uma condição em que a pessoa fica incapaz de movimentar o corpo, a cabeça, e pode interromper até a fala. Em alguns casos, pode ser confundida com a morte, pois a respiração também é afetada.
Apesar de nunca ter acontecido nenhum caso em que a pessoa sepultada fugiu da gaveta no Cemitério São José, Alcione afirma que já se deparou com a catalepsia outras vezes: “eu comecei a trabalhar aqui como coveiro, eu fiz exumações que eu sei que foi cataplético, que foi sepultado vivo. Eu sei, eu vivi isso”, relata.
Impasse com a medicina
O proprietário do Cemitério São José afirma saber que seu trauma pode ser invalidado por muitas pessoas, principalmente por médicos. Contudo, isso não o impediu de seguir em frente com a sua ideia.
“Eu sou um coveiro, não um médico, qualquer entrevista que você fosse fazer com um médico, ele, agindo com toda a sinceridade e lealdade do mundo, diria que eu estou doido, que é absurda a ideia de que a catalepsia pode ser confundida com morte e um atestado de óbito ser emitido”, confessa Alcione.
Porém, ele admite que as possibilidades de alguém ser enterrado cataplético partem de uma desconfiança. O antigo coveiro alega não duvidar da capacidade profissional dos médicos, tampouco dos avanços da medicina, mas enxerga problemas na execução profissional devido ao sucateamento na saúde pública.
“Dado o avanço da medicina, não deveriam ter filas de espera em hospitais. O sistema público e as políticas públicas provocam um atropelo na área da saúde que impedem uma pessoa simples como eu, desconsiderar a possibilidade de catalepsia”, defende.
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