“Ela não para de chorar”, diz advogada de jovem que denunciou PMs de Blumenau por estupro

Uma denúncia por possível intimidação da PM contra a jovem também foi feita

Quase dois meses após a denúncia, seguem as investigações do suposto estupro de uma jovem de 20 anos por policiais militares de Blumenau. A Polícia Civil segue aguardando os laudos periciais do Instituto Geral de Perícias (IGP) para dar sequência nas investigações, enquanto a Justiça Militar também investiga o caso dentro da PM.

A advogada da jovem, Rosane Magaly Martins, afirma que a cliente não consegue mais trabalhar, mal sai de casa e está passando por tratamento psicológico. “Ela entregou o filho para os pais dela, porque tem medo que façam alguma coisa com ele”, conta Rosane.

Ela ainda relata que fez uma denúncia na Justiça Militar – que gerou um outro inquérito -, porque viaturas da polícia começaram a rondar a casa da mulher após o começo das investigações. “Os carros nunca iam naquela região e do nada começaram a ir todo dia. Passavam devagar, ficavam encarando. Ela corria sempre de medo. Ela não para de chorar e até já chegou a pedir pra arquivar tudo, desistir porque tem medo”.

O caso

A jovem tem apenas 20 anos, é moradora de periferia, tem filho para criar sozinha e aluguel para pagar. Trabalhava em uma empresa em Gaspar que do dia pra noite fechou as portas e não informou os funcionários, nem pagou o que era devido. Diante dessa situação, a garota começou a se prostituir.

Na versão da jovem, de acordo com relatos da advogada Rosane Magaly Martins, no dia 19 de novembro de 2018, ela estava na rua quando os dois policiais, ainda fardados, a abordaram. Começaram a conversar e disseram que iriam entrar em férias naquele dia, por isso disseram que iriam deixar a viatura no batalhão e depois retornariam, e a convidaram para beber e comemorar com eles. No início a jovem aceitou, mas após uma conversa com a amiga, ela achou melhor recusar.

Quando os policiais retornaram, já com um carro particular, ela contou que não estava a fim de beber. Eles então ofereceram uma carona pra ela. A jovem teria aceitado, já que se tratavam de policiais militares.

Dentro do carro eles tinham uma garrafa de bebida e deram pra ela beber um pouco. Segundo a advogada, depois disso a vítima pouco se lembra do que aconteceu. “É uma suposição minha. Mas a gente acredita que ela foi dopada. Porque ela perdeu a consciência e só consegue lembrar de flashs, eles de cueca em cima dela em um local no meio do mato”, conta Rosane.

A advogada conta também que depois de tudo o que aconteceu naquela noite, os policiais gravaram um áudio com ela pedindo a afirmação de que foi tudo consensual e que ela quis ir com eles até aquele local desconhecido. Em seguida, a levaram para casa.

Quando ela chegou na residência, ela teve uma convulsão e o irmão que a encontrou. Ele a levou pro hospital e perguntou o que teria acontecido. A jovem, ainda desorientada disse que achava que os policiais tinham feito algo, porque ela não lembrava de quase nada.

“Ela é negra, pobre, moradora de periferia, o que ela ganharia fazendo uma denúncia falsa contra policiais militares?”, finaliza a advogada.

Investigações

A advogada contou que os dois policiais não negam o envolvimento. Eles alegam que contrataram os serviços dela e que tudo foi consensual. Porém, a jovem afirma que tem regras e uma delas é não fazer programa com mais de uma pessoa. “Ela atuava ali perto do Terminal do Aterro porque tem vários motéis, e ela só faz em motel. Além disso, ela sempre cobra antes de entrar no carro”.

O áudio, que teria sido gravado pelos policiais também foi apresentado, a advogada só não sabe se o original, pois o que foi apresentado primeiramente tinha cortes.

Em relação aos depoimentos, a jovem contou como o caso aconteceu ao delegado da Polícia Civil, David Sarraf (depoimento gravado em vídeo), e foi diversas vezes intimada para depor no 10º Batalhão da Polícia Militar. “A menina já não consegue ver viatura da polícia que se esconde em baixo da cama. Imagina ir até o batalhão e encontrar todos os policiais”, desabafou Rosane.

Após solicitação da advogada, o depoimento da garota à Justiça Militar foi realizada na Polícia Militar, localizada na ex-sede da Agência de Desenvolvimento Regional de Blumenau.

O comandante do 10º Batalhão da Polícia Militar de Blumenau, Jefferson Schmidt, informou que, independente de confirmação ou não do crime, a PM não irá se pronunciar sobre o assunto no momento. “Por força de Lei, iremos nos manifestar publicamente quando o mesmo transitar em julgado. Primeiro, para não expor sob qualquer ótica a suposta vítima. Segundo, para não incorrermos em erro, especialmente em afrontar o dispositivo legal”, afirmou Schmidt.

Os dois policiais militares seguem no 10º BPM, onde estão trabalhando internamente.

A Polícia Civil ainda aguarda os laudos das perícias realizadas nos materiais que foram recolhidos no local onde o fato aconteceu. Segundo delegado, apenas após o resultado dos exames que será possível dar segmento ao inquérito.

Colabore com o município
Envie sua sugestão de pauta, informação ou denúncia para Redação colabore-municipio
Artigo anterior
Próximo artigo