Empresa blumenauense testa barreira ecológica em ribeirão na Vila Nova
Estrutura tenta impedir que o lixo chegue ao oceano
O ribeirão Jararaca, no bairro Vila Nova, acaba de ganhar uma nova estrutura para proteger suas águas. Uma barreira ecológica foi instalada no fim da rua Benjamin Constant para reter o lixo que chegaria ao oceano.
A iniciativa é de uma empresa que fica a 50m do ribeirão. A loja também já havia instalado um bueiro inteligente na frente do empreendimento para impedir que ele fique entupido. Dessa forma, é possível remover a cestinha e descartar as folhas e o lixo que chegam com as chuvas.
O empresário Tiago dos Santos, sócio da Top Quadros, instalou a estrutura na semana passada. A estrutura é de aço galvanizado e vai apenas um pouco para baixo da água, para não interferir no bioma do ribeirão. O objetivo é apenas conter o material plástico.
“Como a barreira é física, ela segura de tudo. Folhas, galhos, troncos… Por isso exige tanta manutenção. A cada chuva, eu preciso entrar lá e fazer a limpeza, para não obstruir a passagem da água. Por esse motivo, é inviável instalar barreiras na cidade toda”, explica Tiago.
Segundo ele, o ribeirão fluiu naturalmente pela barreira na primeira chuva, sem interromper o fluxo da água. Porém, Tiago enfatiza que o principal objetivo não é apenas reter o lixo, mas sim mostrar para as pessoas o que fica no rio e ninguém vê.
“Eu não gostaria de estar investindo dinheiro da empresa em algo desnecessário, poderia estar passeando com as minhas filhas no tempo que invisto nisso. Mas as pessoas precisam ver o problema para se conscientizarem”, justifica.
No vídeo abaixo é possível observar uma lixeira que fica ao lado do ribeirão. Nela, uma pequena amostra do que deixou de chegar ao oceano é exibida para o público.
A inspiração veio de uma pessoa no Paraná que mantinha atitudes parecidas no rio atrás da casa dele. Tiago teve acesso ao perfil dele nas redes sociais e observou que, apesar de ter poucos recursos, ele havia construído uma barreira com boias para conter materiais flutuantes.
“Foi ali que minha consciência despertou e eu resolvi começar a ser ativista. Acho que falta uma comunicação das pessoas e das empresas para trazer essa humanidade. Muitos não reconhecem a responsabilidade que têm e jogam tudo para o poder público, mas todos podem colaborar”, defende o empresário.
Tiago também enfatiza que não acredita que responsabilizar o poder público por todos os problemas do meio ambiente seja a solução. Para ele, o obstáculo maior é mudar a cultura que faz com que as pessoas não se vejam como culpadas.
“Mesmo se eu e você não jogamos lixo no chão, fazemos parte de uma sociedade democrática. A culpa é de todos nós. O problema da poluição é um problema das pessoas. Eu também tenho duas filhas pequenas, então isso me motiva a fazer a mudança para o futuro delas, dar o exemplo para elas”, conta.
Posição da Defesa Civil
Na opinião do diretor de Geologia, Análise e Riscos Naturais da Secretaria de Defesa do Cidadão de Blumenau, Jean Carlos Naumann, atitudes como essa não deveriam ser necessárias, já que o ideal seria que as pessoas não jogassem o lixo no ribeirão.
“Ao menos três vezes por semana a pessoa tem a oportunidade de descartar o lixo corretamente, mas muitos acabam descartando de forma inadequada. De certa forma, a barreira ajuda”, explica o diretor.
Como a estrutura impede a passagens apenas do lixo que está suspenso, ela retém uma fração do que é jogado no rio. Afinal, muitos dos descartes acabam afundando antes de chegar à estrutura. Entretanto, Naumann acredita que a barreira ecológica não apresenta riscos nas enxurradas de Blumenau.
“Não é provável que haja um represamento porque o comportamento da água impede que isso aconteça. Ela empurra o que estiver no caminho e destrói o lixo. Porém, precisaria analisar a estrutura para garantir que ela seja forte o suficiente para segurar as toneladas de lixo necessárias para esse risco se tornar real”, justifica.
A preocupação de ambos é a mesma: a conscientização da população sobre os impactos das atitudes de cada um. Afinal, com o devido cuidado, ações como essa não seriam necessárias.
“Todos nós precisamos fazer mais. Por nós mesmos e pela nossa cidade”, destaca Tiago.