“Enchente de 1852 de Blumenau: a pá de cal sobre o assunto”
Na semana passada argumentamos que seria impossível que a enchente de 1852 em Blumenau e Vale do Itajaí tivesse chegado à altura oficialmente registrada de 16,3 metros, sendo muito mais provável um nível bem inferior, por volta de 10,3 metros. Seis metros de diferença! Confusão que pode ter sido causada até por, quem sabe, como jocosamente aventamos no artigo anterior, por um mero cocô de mosca sobre um número zero!
Aos argumentos apresentados podemos hoje acrescentar mais um, lembrado pelo amigo jornalista Evandro de Assis, estudioso da vida e obra do Fritz Müller: próprio Fritz Müller, comparou as enchentes de 1852 com a de 1855.
Os irmãos Fritz e August Müller moraram de 1852 a 1854 no Garcia, quando ocorreu a enchente de 1852. Dali mudaram-se para a margem esquerda do rio Itajaí Açu, logo abaixo da sede da Colônia, onde hoje fica o bairro Ponta Aguda.
O naturalista pode, então, comparar as duas enchentes, conforme lembrou Evandro, que nos remeteu o seguinte relato de Fritz Müller: “Minha casa, como a do meu irmão, foi poupada (na enchente de 1855), nossos vizinhos, ao contrário, tiveram que fugir. A água subira 43 palmos acima do nível atual, faltando aproximadamente 5 palmos para atingir a casa. Nas nossas antigas moradias no Garcia, a água entrou pela janela” (grifo do Evandro de Assis).
Ora, se a enchente de 1852 sequer atingiu a moradia no Garcia, enquanto que a enchente de 1855, de 13,3 metros, “entrou pela janela”, não resta dúvida de que aquela enchente foi bem menor que esta e isso confere com a observação do viajante Avé-Lallemant de que a enchente de 1855 foi, de fato, “a maior de todas” até então.
O historiador José Ferreira da Silva, que conhecia a localização exata dos lotes coloniais dos irmãos Müller, deduziu então que a enchente de 1852 teria atingido a cota aproximada dos 10 metros, na incipiente Colônia Blumenau.
Sabendo do criterioso trabalho de “enchentólogos” como o Sr. Jago Lungershausen e de respeitados pesquisadores da Furb capitaneados pela Dra. Beate Frank, os quais jamais cometeriam um erro dessa magnitude, como explicar tamanho disparate?
Repetimos então (desculpem os leitores que leram a coluna da semana passada) que é bem possível que, em algum momento, há mais de 100 anos, num velho relatório da Colônia Blumenau, alguém que tenha anotado 10,3 metros teria deixado escapar um minúsculo risco de tinta de pena de escrever sobre o número zero, fazendo esse zero parecer seis, logo, podendo esse número ser lido como 16,3 metros. Ou teria sido um cocô de mosca justo nesse mesmo lugar?
Fica o registro para as devidas considerações e, em sendo acatado, para a correção oficial do nível da enchente de 1852 para 10 metros, ou, melhor, 10,3metros e deixemos para o cocô de mosca, como brincou o leitor e amigo de Brasília, Herbert Schubart, a responsabilidade de ter “inundado” toda a Colônia Blumenau naquele distante ano do século XIX!
Magnífica vista da baixada do Massiambú obtida da novíssima BR-101 de pista única no morro dos Cavalos, mostrando meandros ativos e lagos formados por meandros abandonados do rio, ambiente importantíssimo para a preservação da natureza.
Acima e à esquerda aparece a ponte da BR sobre o rio. Atualmente obstruída pela floresta nativa que voltou ao lugar, valeria a pena a implantação de mirante que permitisse a vista por cima das árvores.
Em 1975 foi criado o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro que englobou boa parte dessa baixada, mas, estranhamente, não exatamente essa área cheia de espelhos d’água que aparece em primeiro plano. Foto Lauro E. Bacca, em 10/07/1974.