Uma das diversas funções da patologia é ajudar na prevenção do câncer de colo de útero. Através da análise de uma amostra deste órgão, conhecido como exame citológico ou Papanicolaou, os especialistas conseguem identificar se há alterações nas células do colo do útero.
A coleta da amostra é feita pelo ginecologista e encaminhada para análise do patologista. Por meio da avaliação do conteúdo, o especialista consegue indicar se há a presença de lesões de colo de útero. Além disso, também é possível identificar se existem inflamações, presença de efeitos citopáticos do papilomavírus humano (HPV) ou até outras doenças como a tricomoníase, vaginose bacteriana e candidíase.
De acordo com a médica patologista, Beatriz Moreira Leite, o exame citológico representa a prevenção secundária, pois ele faz o diagnóstico de lesões pré-invasoras e que ainda não tem potencial de se espalhar pelo corpo, pois ficam dentro do epitélio escamoso – a camada que reveste o útero, chamadas de intraepiteliais. A ação primária é a vacina contra o HPV que já consta no calendário vacinal.
“A intenção do exame é detectar lesões que ainda não passaram para as outras camadas mais profundas, que têm vasos sanguíneos e podem espalhar o tumor pelo corpo inteiro”, explica.
Segundo a especialista, o câncer de colo de útero já é controlado em alguns países, como Estados Unidos e alguns países da Europa. A doença tem dois tipos histológicos mais comuns, o carcinoma de células escamosas (mais frequente) e o adenocarcinoma.
Ambos os tipos, na grande maioria dos casos, estão associados à infecção persistente pelo HPV e também é mais frequente em pessoas fumantes. “A evolução da doença ocorre pela infecção persistente, levando a alterações nas células restritas ao epitélio e depois mais tempo para progredir para o câncer invasor”, diz.
Lesões intraepiteliais
A patologista comenta que caso as lesões estejam iniciando, também é possível identificar através do exame. “Às vezes nós pegamos as lesões ditas subclínicas, que é o famoso ASCUS, uma sigla para dizer que existem células atípicas, mas nós desconhecemos a natureza delas, pode ser uma infecção por HPV ou uma cicatrização atípica, que podem ter características semelhantes às lesões intraepiteliais”, explica Beatriz.
De acordo com a patologista, as lesões intraepiteliais podem ser de alto e baixo grau. Nos casos de baixo grau em que são identificadas as lesões, e caso a mulher tenha a intenção de ter filhos, pode ser realizada uma cauterização.
“Já nos casos de lesões de alto grau, geralmente, retira-se um segmento do colo do útero, procedimento chamado conização, devido ao risco de se transformar em um câncer invasor”, explica a patologista Lauren Menna Marcondes.
Infecção pelo HPV
As especialistas apontam que a infecção pelo HPV é muito mais frequente do que se imagina, visto que existem as infecções subclínicas e aquelas que regridem espontaneamente. “De 80% a 90% se curam espontaneamente. Às vezes é detectada uma lesão de baixo grau, que é uma infecção pelo HPV, e depois de três a seis meses você faz outro exame de Papanicolau e não tem mais nada. A lesão regrediu espontaneamente”, aponta a médica Beatriz.
Ela ainda acrescenta que as lesões de alto grau também podem regredir espontaneamente, mas nesses casos é mais frequente a progressão. “Só desenvolve uma infecção persistente 10% a 20% das mulheres que têm a infecção e são elas que têm a possibilidade de ter uma lesão intraepitelial e depois o câncer invasor”, explica.
A médica detalha que também pode ser diagnosticado o tipo de HPV, através de um exame chamado captura híbrida. Os subtipos de alto risco do vírus são considerados oncogênicos e apresentam maior probabilidade de provocar infecções persistentes, além de estarem associados às lesões precursoras.
Já os tipos de HPV de baixo risco fazem uma neoplasia benigna. A especialista exemplifica a condiloma acuminado, muito conhecida como verruga genital, que é uma infecção causada pelo vírus HPV.
Importância do preventivo
De acordo com a patologista, os pesquisadores acreditam que a especificidade do vírus pelo colo do útero deve estar associada aos receptores celulares. No entanto, ela também aponta que pode estar conectado com os níveis hormonais. “Isso pode ocorrer devido à variação hormonal. A mais nova está se adaptando no ciclo menstrual. Já a mais velha está diminuindo a quantidade os hormônios”, aponta a médica Lauren Marcondes.
Mesmo assim, a recomendação das especialistas é que assim que as mulheres iniciam a vida sexual, devem procurar um médico ginecologista para realizar o exame preventivo e enquanto a mulher for ativa sexualmente.
“O mais importante, na minha opinião, é você saber se tem ou não lesões. As mulheres acabam indo todo ano por entenderem a importância disso”, determina a médica Beatriz. Ela ainda explica que até os 24 anos é muito comum a primeira infecção pelo HPV, e também é comum que ela desapareça espontaneamente nessa idade.
Biópsia
Nos casos em que a doença avança e acaba se tornando um câncer, o patologista também é responsável por analisar a biópsia do tecido do órgão para elencar em qual nível ela está, se já se espalhou para outros órgãos, se está restrito ao útero, se será mais ou menos agressivo, contribuindo no prognóstico do paciente.
“Quando nós apontamos até onde ele foi, os colegas cirurgiões e oncologistas também vão saber qual tratamento indicar. Em alguns casos só a cirurgia para retirar já cura e em outros é preciso de radioterapia e quimioterapia. Mas ele só vai tomar a decisão depois da biópsia”, aponta Lauren.
“Mesmo o exame citológico dizendo que existe uma lesão de alto grau, você faz uma biópsia para confirmar se existe realmente a lesão ou não. O Papanicolaou, assim como todo exame citológico, é de compatibilidade. O diagnóstico final é feito no tecido (biópsia), então é necessário pegar um pedaço do tecido para ver se existe a lesão, apesar da grande acurácia da citologia, é recomendado que antes de uma cirurgia para retirada do colo do útero se tenha a confirmação com o tecido, através da biópsia”, explica.
Conforme a médica patologista, Paula de Carvalho, as biópsias são realizadas somente em pacientes que apresentam alterações no exame citológico. “A citologia vai fazer o rastreamento, separar as pessoas que vão passar pela biópsia para confirmar se já tem lesão ou algo mais avançado”.
Nos casos das células atípicas, cuja natureza é desconhecida, também é possível realizar a imunohistoquímica – que é um estudo das células cancerígenas no organismo, para identificar se há lesão ou não.
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