A boiada nos passará

Boiadas e boiadeiros estão profundamente arraigados na cultura raiz brasileira. Em mais de 423, dos 523 anos de nossa história pós-cabralina, o gado se transportou país afora, por centenas de quilômetros, sobre seus próprios pés, conduzido pela figura marcante do boiadeiro, com ou sem berrante.

Tropas e tropeiros é tema que continua ocupando merecido destaque na tradição poética e musical, mesmo nos dias atuais em que mais de 83 por cento da população brasileira reside em cidades. Que o diga o eterno sucesso O Menino da Porteira, do compositor Teddy Vieira (1922 – 1965), lançado na década de 1950, interpretado por um sem-número de cantores e duplas sertanejas, chegando ao maior sucesso na voz de Sérgio Reis a partir da década de 1970 até hoje.

De centenária presença no cancioneiro popular sertanejo até à passada da boiada na política recente, Brasil e boi, boi e Brasil, são indissociáveis.

Acontece que está na hora do nosso namoro com os bois, melhor dizendo, suas carnes depois deles mortos, chegar ao fim ou, pelo menos, diminuir drasticamente de intensidade.
Sabemos que o consumo de carne é um dos maiores causadores de impactos ambientais, dado o espaço que a criação de animais para o corte ocupa no planeta.

Embora somente dois por cento das calorias que a humanidade ingere provenha da carne vermelha, no entanto, para criar bois e suas companheiras vacas, são utilizadas 60% de todas as preciosas terras agrícolas do planeta. Não contentes com tanto espaço que ocupamos com o gado bovino, ainda continuamos a desmatar para ter mais bois.

“A produção de carne bovina ocupa quinze vezes mais terra por quilo produzido do que a carne de porco ou frango. Não será possível para todas as pessoas no futuro comerem a quantidade de carne que hoje é consumida nas nações mais ricas”, consumo no Brasil incluído, “simplesmente por que não há terra suficiente no planeta para isso”, ensina-nos David Attenborough no seu livro O Planeta Terra, já mencionado aqui nas duas colunas anteriores, cuja leitura recomendo fortemente.

Não haverá solução para o futuro do Planeta se continuarmos a ocupar tanto espaço para pastagens ou para o plantio de soja e outros vegetais utilizados na ração para gado.
“Quem matou o meu menino, foi um boi sem coração”, diz a letra do Teddy Vieira.

Humanos sem coração, criando bois em demasia sem pensar nas consequências, agora ajudam a matar o único planeta que temos para viver.

E o que cada um de nós tem a ver com isso? De minha parte, há mais de 30 anos, diminuí drasticamente meu consumo de carne bovina pensando na saúde pessoal e na saúde do Planeta e no futuro das próximas gerações. David Attenborough reforçou essa minha convicção e agora diminuo esse consumo ainda mais.

Quanto a você, cara leitora, caro leitor, sei que será muito difícil, mas, tente pensar nisso, na próxima vez que der água na boca diante de um suculento churrasco.

Dedicado ao amigo ambientalista Leocarlos Sieves

Bem antes do governo preservar paisagens e florestas importantes em forma de Parques Nacionais e outros tipos de reservas, em alguns casos a Acaprena já estava lá, tentando vencer atoleiros para acessar espetaculares canhadões catarinenses, como o de Fortaleza dos Aparados, via Serra Gaúcha, fronteira com o Sul do Estado.

Foto Lauro Eduardo Bacca, 1980.


Assista agora mesmo!

Sargento Junkes leva o pai e o irmão para o bar da Zenaide para contar histórias de família: