Filho de doméstica e pedreiro, blumenauense precisa de apoio para intercâmbio em Harvard

Estudante de Medicina na USP, Rafael José da Silva precisa de R$ 50 mil para pesquisa nos Estados Unidos

Rafael José da Silva nunca teve condições de estudar em escolas particulares, nem de fazer cursinho pré-vestibular. Aluno de escola pública, o pai é pedreiro. A mãe, empregada doméstica. Os estudos do blumenauense de 19 anos dependeram sempre de duas coisas: do próprio esforço e da perseverança dos pais, que não permitiram que ele trabalhasse.

Aos 17 anos, Rafael foi aprovado no curso de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), um dos mais disputados do Brasil. Completos os dois primeiros anos da graduação, obteve carta de aceite para intercâmbio de pesquisa na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Lá, ele desenvolverá uma pesquisa na área cardiológica. Porém, há mais um obstáculo a ser vencido: os R$ 50 mil para custear viagem e estudos. Por isso, Rafael lançou um financiamento coletivo via internet. Para ajudar, clique aqui.

Rafael estudava 15 horas, além das aulas

Desde criança, Rafael era curioso. Queria saber como o corpo funcionava, por que as pessoas ficam doentes, e como curá-las. Ia para a aula mas sentia que precisava de mais. Ao chegar em casa, envolvia-se em leituras, vídeo aulas, materiais online que o ajudavam a se aprofundar. No final do Ensino Médio, decidiu que queria fazer Medicina.

“Eu gostava de ir atrás das coisas. Tinha muita curiosidade. No entanto, conhecia pessoas que estavam em escolas particulares e que tinham uma base melhor que a minha em diversas matérias. Por isso intensifiquei os estudos em casa”, recorda.

Rafael sempre estudou na Escola de Educação Básica Santos Dumont, no Garcia.

“Como aluno de escola pública, ele foi um herói. Na época do vestibular, dedicou-se muito. Estudava 15 horas por dia, além da aula”, comenta Edilamar Simão, professora de Língua Portuguesa e Literatura.

Nas aulas, o menino era silencioso. Seu amigo mais próximo, Jean Felipe Muniz Medeiros, sempre impressionou-se com a capacidade e determinação do amigo, que conseguiu o que realmente desejava.

“Normalmente ele estava à frente do conteúdo que o professor passava, porque ele tinha que se dedicar tanto à escola quanto ao objetivo de passar na USP”, lembra Jean.

O diretor da escola, Chiin Yock Chang, chegou a levar livros até a casa de Rafael, para que ele pudesse ir além das aulas. Conta que o rapaz tinha um dom de inteligência muito grande, mas que a determinação fez com que conseguisse chegar onde chegou.

“Muitas vezes dei meus livros de Física, Química e Matemática para ele. Tenho certeza de que ele é o que é por mérito próprio” afirma.

“De presente, ele só pedia livros”

Quando criança, Rafael já era fissurado por leitura. “De presente, ele só pedia livros”, conta a mãe, Valdirene Müller da Silva. O interesse pelos estudos crescia junto com o corpo do menino. A partir do primeiro ano do Ensino Médio, passou a fazer pesquisas na internet, entrou em contato com ex-candidatos ao vestibular.

De tantas horas estudando sentado, teve de ser internado por consequência de um cálculo renal. Valdirene e Jonas abriram mão de muita coisa para permitir que Rafael estudasse.

“Meus pais puderam garantir que eu estudasse sem precisar trabalhar. Mesmo eles nunca tendo feito faculdade, meu pai sendo pedreiro e a minha mãe empregada doméstica, eles sempre me incentivaram a estudar, me instigavam a pensar no meu futuro”, reitera.

Em São Paulo, Rafael recebe assistência da universidade com moradia, alimentação, transporte e ganha bolsa para outras despesas. Mas os gastos com a viagem para Harvard se posicionam como uma nova montanha a ser escalada.

O projeto de pesquisa em Harvard

A Universidade de São Paulo possui uma parceria com Harvard. Rafael descobriu a possibilidade e, após superar todas as fases do processo seletivo, foi aprovado para o intercâmbio de um ano.

“É um intercâmbio de um ano, para realizar uma pesquisa científica na área da cardiologia, sobre temas com aterosclerose (desenvolvimento de placas de gorduras nas artérias do corpo) e outras doenças cardiometabólicas, que em conjunto consistem na principal causa de mortalidade no Brasil”, sintetiza.

A meta do financiamento coletivo é conseguir, até o fim do ano, R$ 50 mil. Sobre o futuro, Rafael confessa que passa tempo se perguntando o que vai fazer depois de formado, mas ainda não tem decisões tomadas. Pensa em fazer uma especialização clínica em cardiologia, mas também se interessa pela parte de pesquisa.

Cogita inclusive a ideia de ser professor. Tem muito a ensinar.

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