GALERIA – A curiosa produção de arroz vermelho e preto feita em Gaspar que usa marrecos para controle de pragas
Arrozes foram produzidos em Santa Catarina e o casal Gláucia e o suíço Mathieu estudaram por anos antes de iniciar a produção
Um cavalo, ovelhas e dezenas de marrecos-de-pequim. Esses são os animais que bastam para criar uma plantação de arrozes da forma mais natural, saudável e sem uso de agrotóxicos. É assim que a Casa do Arrozal, localizada em Gaspar, tem se destacado entre tantos outros quilômetros de plantações da região.
Após anos de pesquisa, o casal a frente da agricultura familiar, Gláucia Cirilo Feitosa e o suíço Mathieu Putallaz, agora possui produção de arrozes orgânicos de tipos especiais desenvolvidos pela Epagri-SC, dos tipos rubi, um arroz com coloração vermelha, ônix, com coloração preta, e também o tipo Pérola, um arroz selecionado e especial para elaboração de risotos.
Da Suíça ao Brasil
Natural da Suíça, Mathieu morava em Balneário Camboriú antes de se mudar para a região. Lá, ele trabalhava no setor de vendas. Um dia, foi convidado para vir conhecer plantações de um cliente em Gaspar, e foi após a experiência que um novo sonho surgiu.
Após se perder no meio da plantação, o suíço ficou encantado e apaixonado pelas belas paisagens e horizontes que viu no meio dos hectares do arrozal. A vontade de ter uma plantação própria foi tão grande que chegava a ter sonhos enquanto dormia durante a noite, de que estava construindo uma casa e criando uma plantação familiar.
O tempo passou, e o sonho não se apagou. Em uma das idas e vindas da vida, Mathieu e Gláucia se conheceram em uma praia de Balneário Camboriú, e a mulher apresentou a casa onde morava em Gaspar, que ficava em um sítio – local onde o casal segue morando juntos até hoje.
Com o tempo, o casal se formou, e a vontade que era apenas de Mathieu, acabou se tornando de Gláucia também. Juntos, começaram o estudo para botar em prática o arrozal dos sonhos, de forma saudável e ecológica, e também que se diferenciasse e se destacasse quando comparadas a outras plantações vizinhas.
O trabalho iniciou pela residência onde moravam. Por ser uma casinha histórica e centenária, o casal restaurou o espaço para que mantivesse a mesma estrutura, apenas de forma mais cuidada e preservada. Em seguida, pensaram que forma colocariam em prática a plantação, mas de forma que seguisse com os conceitos morais que levavam de preservação da natureza.
Produção familiar e ajuda de animaizinhos
Com a intenção de proteção ao meio ambiente, a produção segue a característica de agricultura familiar. Mas para isso foram necessários muitos anos estudando os grãos que iriam cultivar, com início em testes em um pequeno espaço, e dessa forma, experimentar o que funcionava e o que não iria dar certo.
O cultivo dos arrozes que produzem dura quatro meses, desde a hidratação dos grãos, manejo do solo, plantação, cuidado até chegar o momento do colhimento dos grão e separação para a venda.
Como são produtores de agricultura familiar – o sítio é cuidado apenas por Gláucia e Mathieu – para algumas poucas tarefas, eles contratam ajuda com maquinário, mas apenas na fase de colhimento dos arrozes, todos os outros processos, o casal faz sozinho. A poucas máquinas utilizadas, que também contam com o apoio da Prefeitura de Gaspar, através da Secretaria de Agricultura e Aquicultura, não prejudicam o solo dos hectares do sítio do casal.
Agora, a plantação do casal passa pelo período de entressafra, que é um período de pausa na produção agrícola que ocorre entre as colheitas dos grãos. Segundo Mathieu, a produção dos arrozes dá cerca de 10 mil quilos, juntando os brancos, pretos e vermelhos, mas com a separação das cascas e dos grãos inutilizáveis, a produção resulta em cerca de 6 mil quilos, que são vendidos em Blumenau, Gaspar, região e utilizados em grandes restaurantes. Além dos arrozes, os grãos também viram farinha e vinagre de arroz rubi.
Mas o charme do plantio todo é a utilização de animaizinhos durante o cultivo. Os astros do cultivo são os marrecos-de-pequim, que foram escolhidos a dedo pelo casal, por serem de coloração branca e se destacarem no meio da plantação. Além da beleza, os marrecos têm função extremamente importante no manejo do solo e cuidado da plantação.
Conforme Mathieu, os marrecos começam a cuidar da plantação logo que fazem 35 dias de vida, já aprendendo, conforme os próprios instintos, como estimular o cultivo. Com o tempo, os animaizinhos também ajudam a deixar a plantação limpa e fazem o controle de pragas, já que se nutrem de insectos, moluscos, algas, e outras plantas aquáticas. Dessa forma, fazem controle de toda a produção, de forma natural e sem prejudicar os grãos, ao mesmo tempo que fazem a proteção da plantação.
Com isso, também ganham a alimentação, se mantendo saudáveis, e todo esse processo é fundamental na preparação das próximas safras. Além dos marrecos-de-pequim, o casal tem ovelhinhas e um cavalo, que também ajudam nesse controle das pragas.
Todos os animais ficam soltos pelo sítio, andam por onde querem e são bem cuidados, além de “pararem de trabalhar”, quando quiserem também, já que a intenção do casal é ter um sítio socioambiental e consciente com a natureza.
Por conta desse cuidado todo, o sítio do casal recebeu o Selo de Produtor Orgânico Brasil, cedido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Para receber o selo, foi necessário que o Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica (Sisorg), credenciado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), fizesse auditorias criteriosas sobre o sistema orgânico de produção junto a ensaios de solo e de produto.
O trabalho realizado por Gláucia e Mathieu segue todas as etapas, o que assegurou o selo em seus produtos.
Projetos sociais e sítio como laboratório
Entre os muitos objetivos do casal, o sítio de Mathieu e Gláucia também se transformou em um grande laboratório, já que participam de diversos projetos sociais e incentivos do governo municipal.
A plantação chama tanta atenção nacionalmente, quando internacionalmente, que em 2022, alunos e professores do curso de Agrociência da Universidade de Lincoln da Nova Zelândia, enquanto faziam uma visita no Brasil, deram uma passadinha em Gaspar.
Durante o passeio, os alunos exploraram o espaço e aprenderam mais sobre alimentos/fibras e perspectivas de negócio através de um programa de verão sobre agronegócio.
Além disso, o casal também faz parte do projeto de alimentação saudável com as escolas de Gaspar. Em 2023, estudantes da Escola de Educação Básica Ervino Venturi prestigiam uma experiência diferente. Durante a visitação, os alunos puderam conhecer de perto sobre o papel dos marrecos no processo de produção de arroz e puderam alimentá-los.
Na época da visitação, para a diretora da unidade, Ida Luciani Scottini, a ação promoveu várias experiências e aprendizados aos estudantes. “Com ações como essa, os estudantes aprendem sobre a importância da alimentação saudável, a valorização do trabalho dos agricultores locais e a sensibilização ambiental. Além disso, eles criam uma conexão com a produção de alimentos e com a gastronomia local”, enfatiza.
Além da visitação, na época, os alunos também puderam experimentar o arroz durante o intervalo da aula.
Atualmente, o último projeto que o espaço entrou, foi em parceria com a Univali, no qual os alunos vão cuidar da saúde das ovelhinhas. Dessa forma, o cuidado sai mais barato e ainda ajuda a sociedade, já que os animais continuam saudáveis, enquanto os alunos usam o espaço como laboratório para aprender.
Confira fotos da plantação:
*Informações da Prefeitura de Gaspar foram utilizadas.
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