GALERIA – TEDxBlumenau: evento explora encontros que mudaram o mundo

Palestras foram realizadas no Teatro Carlos Gomes neste domingo

Principia Matemática, obra de Isaac Newton, afirma que quando dois corpos entram em contato, ambos têm seu destino alterado para sempre. Inspirados nesse conceito, o TEDxBlumenau 2023 reuniu palestrantes para contar histórias de encontros inspiradores que mudaram a forma como nós vemos o mundo.

Neste domingo, 4, o evento voltou ao berço do primeiro TEDxBlumenau: o Teatro Carlos Gomes. O espaço também foi marcado pela inclusão com intérprete de Libras e áudio descrição, para pessoas com deficiência auditiva e visual. Antes das palestras, instalações das empresas patrocinadoras receberam os participantes:

Cerca de 200 kg de alimentos não perecíveis foram arrecadados para a Casa São Felipe Néri, que atende crianças e adolescentes de Blumenau, a partir dos ingressos solidários. O evento foi aberto por um talk diferente.

A musicista Camila Werling, que integra o Grupo de Flautas Sopratutto do Teatro Carlos Gomes e a Orquestra e a Jazz Band da Furb, apresentou uma obra em flauta sendo acompanhada por viola, vocal, violino, violoncelo, pandeiro, cavaco, bateria, violão e rebolo.

Alice Kienen/O Município Blumenau

Todas as palestras foram transmitidas ao vivo no YouTube do TEDxBlumenau. Os vídeos editados estarão disponíveis para todo o público em poucas semanas. Abaixo, confira um pouco dos talks desta edição.

A tarde de palestras foi aberta pela psicanalista Ana Suy, autora de “A gente mira no amor e acerta na solidão” e de outros 4 livros. O estudo dela sobre a solidão se destaca pelo foco no amor, e não no desamparo.

“Solidão é um luxo, mas confundimos com desamparo e por isso temos medo dela. A maneira como a gente experiência solidão tem a ver com a maneira que a gente experiencia a relação com a gente mesmo. Somos feitos de outras pessoas. A noção da gente mesmo é feito de quem nos constitui”, reflete.

Em seguida, a psicóloga Débora Montibeler falou sobre a solidão de não se encontrar como pessoa negra de pele clara. Especialista em Diversidade e membra da Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial, do Conselho Consultivo da Unoesco-Sost Transcriativa e do Euconecto, ela falou sobre estudos recentes sobre colorismo e construção da identidade parda.

“Vim de uma família miscigenada, mas com mulheres negras fortes e ancestrais integrantes do movimento negro. Pra minha família eu sempre pertenci, mas na adolescência me ofereciam uma lista criativa de formas pra me declarar, mas dificilmente negra. Não era suficientemente clara pra ser branca, nem suficiente escura para ser negra”, desabafou.

Gabriel Romão também falou sobre o encontro com a identidade, mas dessa vez de gênero. O pedagogo se entendeu recentemente como um homem trans e hoje é CO-CEO da TODXS, que busca impactar na transformação da sociedade por meio da educação, diversidade, empatia e principalmente afetividade.

“Desde que nascemos somos colocados em caixas. Quando não nos encaixamos, buscamos novas caixas. Tentei muito me enquadrar como uma mulher lésbica, mas a dor de não me enxergar no espelho foi me consumindo até que tentei tirar minha própria vida. Precisei me despedir da identidade que a sociedade deu pra mim”, conta Gabriel, que atualmente é uma das únicas lideranças trans negras.

Também homens trans, o designer Caio Badu veio mostrar como é necessário aproveitar os choques de realidade da vida para melhorar a sociedade. Atual Head de Design da Ambev Tech, ele representa a primeira liderança trans de nível estratégico em design no Brasil e tem se especializado em prol de estratégias concretas e plurais de diversidade, inclusão e equidade.

“Trazer vagas afirmativas não é suficiente. Precisamos enxergar além da causa da representatividade e enxergar as pessoas. Onde estão as pessoas que não estão no LinkedIn? Como encontrar quem precisa ser encontrado? Esbarros inusitados podem gerar encontros inovadores. Alguns trabalhos aconteceram não pelo meu portfólio, mas por eu jogar futebol”, exemplifica.

Gaúcho morando em Florianópolis, o analista Samuca veio acompanhado de Capone, seu cão guia, falar sobre como foi reaprender a andar. Desde os 11 anos ele sabia que perderia a visão eventualmente, mas não esperaria que seria aos 18. Ainda assim, é institrutor de ioga, surfa, acampa, corre maratonas, anda de skate e já foi até atleta patrocinado no circuito gaúcho de mountain bike.

“Desde a juventude eu sinto a dor do capacitismo da nossa sociedade, porque a pessoa que sou é sempre secundária à minha existência. Antes de me verem como pessoa, me veem como cego. Se puder deixar uma mensagem, é que vocês usem a intencionalidade para lembrar das pessoas com deficiência e pensarem como podem contribuir”, aconselhou.

Após a pausa, a jornalista Helena Garrante falou sobre a construção do podcast Jornada da Calma, onde explora semanalmente o tema. Ela também é diretora de redação da Claudia Online, Boa Forma e Bebê.com.br, além de ter uma coluna fixa na seção “A Tal Felicidade”, da VEJA São Paulo.

“Foram mais de 200 conversas investigando a calma e o que muita gente não enxerga é que ela não é sinônimo de lentidão. O caminho para a calma é buscar o que tá acontecendo e como lidar com isso. Às vezes precisamos agir rápido, mas precisamos de calma pra isso”, explica.

Em seguida, o roteirista, videomaker e criador do canal @orathiago, Thiago Guimarães, trouxe uma visão de como permitir que nossos encontros com as redes sociais possam trazer uma troca real, sem se deixar levar pelos algoritmos.

“As redes sociais têm seus próprios vieses políticos e econômicos que influenciam a forma como produzimos conteúdo. Nos tornamos moedas de troca, abrindo mão da nossa saúde mental e da nossa capacidade de atenção. Precisamos jogar esse jogo estrategicamente e entender nosso poder de influência e a hora de driblar a regra”, sugere.

Palestra de Thiago Guimarães. | Foto: Alice Kienen/O Município Blumenau

Em seguida o engenheiro de dados Lucas Pompeu falou sobre a Égua, linguagem de programação totalmente em português criada por ele. O nome vem do regionalismo paraense, que busca mostrar que a plataforma é completamente nacional.

“Todo mundo deveria aprender a programar, pois aprendemos a aprender melhor. Mas quando você busca como aprender a programar, tudo é em inglês. Queria uma linguagem simples, que funcionasse com conexão lenta e todo mundo pudesse aproveitar”, conta.

Alice Kienen/O Município Blumenau

Também no viés da educação, João Paulo Malara, mais conhecido como Jotapê, veio falar sobre a NewSchool, movimento educacional fundado por ele para revolucionar o aprendizado de qualidade para os jovens da periferia. Filho de pais analfabetos, a mãe via na escola um ambiente onde ele pudesse ter sucesso.

“Eu queria terminar o Ensino Médio, mas também precisava trampar pra colocar comida na mesa. Comecei a perceber que o que era visto como sucesso na minha geração era ser jogador de futebol, MC ou criminoso. O último era o caminho mais fácil pra mim e perdi um irmão pra isso. Não queria que outros meninos da quebrada passassem pelo mesmo e decidi levar uma educação menos engessada pra eles”, detalha.

Em seguida, Mayumi Sato veio falar sobre a experiência dela com o Sexlog, a maior rede social de sexo e swing do Brasil, com mais de 18 milhões de pessoas cadastradas. A sócia e diretora realizou pesquisas na última década para compreender os gostos e interesses dos brasileiros e compartilhando suas descobertas.

“Nosso imaginário a respeito da vida sexual do outro tá cheio de fake news e fantasias. As fantasias superestimadas e deturpadas que, na prática, mostram que pornografia é ficção e entretenimento. Apenas em Blumenau, tivemos mais de 35 mil cadastros nos últimos anos. O fetichista é uma pessoa tão complexa e normal quanto nós”, alerta.

Para finalizar com leveza, as amigas Gilda Bandeira e Sonia Bonetti trouxeram a mesa de bar e falaram sobre o Avós da Razão, canal de YouTube onde falam sobre etarismo, espiritualidade, sexo e outros temas considerados tabus para a geração delas.

“Nossa ideia era falar com velhos pra eles saírem da cristaleira assim como gay tem que sair do armário. Tirar ideia velha da cabeça, conviver com os jovens e ver que o mundo mudou. Mas também recebemos muitos jovens interessados que perceberam que ficar velho não é tão ruim”, ressalta Sônia.


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