Gaspar 88 anos, cidade de fé: entenda contribuição das religiões para a formação e desenvolvimento do município

Igrejas católica, luterana e adventista tiveram forte influência na história do município

Historicamente, as igrejas possuem uma significativa participação no que diz respeito à formação e desenvolvimento das cidades. Em Gaspar, os feitos marcantes vão desde o impacto no turismo e realização de ações sociais, até o importante título de ter sido o berço para a primeira igreja adventista do Brasil.

Gaspar comemora nesta sexta-feira, 18, o aniversário de 88 anos de emancipação. Além da relevância e crescimento econômico que vem apresentando, a cidade também é destaque quando o assunto é religiosidade.

De acordo com a professora Leda Maria Baptista, durante a primeira metade do século XX, Gaspar foi considerada o “Celeiro de Vocações Religiosas”. O título se deu devido ao trabalho de dezenas de jovens ordenadas religiosas, que prestaram relevantes serviços educacionais, religiosos e de saúde no local.

Em termos de religião, Gaspar também se sobressai pela quantidade de bispos, padres e freiras filhos da cidade. Dentre eles, estão alguns nomes como os bispos Dom Daniel Hostin, Dom Quirino Schmitz, Dom Carlos Schmitt, Dom Jaime Spengler e Dom Evaristo Spengler.

O cartão postal da cidade

Estrategicamente localizada no Centro da cidade, no alto da colina ou “morro da igreja”, como chamam os gasparenses, a Igreja Matriz São Pedro Apóstolo é o principal cartão postal de Gaspar.

Com arquitetura no estilo gótico e romano, a igreja é o maior monumento histórico do município. Dentre os destaques da matriz está a escadaria, que possui 115 degraus, e o fato de abrigar o único relógio instalado na América que, com uma só máquina, movimenta oito mostradores.

Igreja Matriz São Pedro Apóstolo. Foto: Portal Municipal de Turismo Gaspar.

Maior influência católica do Vale do Itajaí

Segundo Leda, Gaspar é a cidade do Vale do Itajaí com maior influência católica em seus primórdios. As primeiras escolas foram paroquiais e a igreja era um lugar exclusivo de encontros. Havia muito interesse pela ordenação religiosa, por isso, seminários e conventos estavam presentes na maioria das famílias.

A professora também afirma que o impacto das atividades sociais promovidas pela igreja no comércio de roupa, calçados e assessórios foi muito grande, além do impacto nas atividades sociais da cidade.

“As ações promovidas pelos católicos durante um século, de 1850 a 1950, absorveram a vida social, recreativa e cultural de Gaspar. Aconteciam festas populares durante todo ano, além das atividades de canto coral, banda musical, teatro, cinema, esportes e lazer”, explica Leda.

Missa na Igreja Matriz São Pedro Apóstolo de Gaspar. Foto: Redes Sociais.

Inauguração da nova Matriz

No século XIX, a Igreja Matriz São Pedro Apóstolo Paróquia foi inaugurada por iniciativa do padre Alberto Francisco Gattone. O templo foi feito em estrutura de madeira e paredes de barro, em que apenas uma torre principal em estilo neogótico e com sino se destacava.

Em 1940, o morro da Igreja Matriz passou por modificações radicais e o antigo templo foi demolido. O cemitério que existia atrás da igreja foi transferido para o bairro Santa Terezinha, e então, no dia 8 de agosto de 1944 com a presença do Bispo Dom Pio Freitas foi lançada a pedra fundamental da atual matriz.

Na época, o Frei Godofredo Siebe era o pároco. Ele teve grande participação na construção e ajudava no trabalho desde de manhã até à noite. Em 6 de agosto de 1947, foi celebrada a primeira missa na nova igreja, mesmo com as obras ainda inacabadas.

Após a construção da escadaria, finalização dos serviços com o posicionamento de vitrais, pisos, portas e altar, inauguração do relógio e recebimento de benção solene de Dom Inácio Krause, no ano de 1956, a nova Igreja Matriz de São Pedro Apóstolo de Gaspar foi oficialmente inaugurada.

Inauguração da Igreja Matriz de Gaspar e escadaria em 1956. Foto: Arquivo Histórico Documental Leopoldo Jorge Theodoro Schmalz.

Primeira igreja adventista do Brasil

A Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) de Gaspar, localizada na rua Guilherme Belz, no bairro Gaspar Alto, foi a primeira igreja adventista fundada no Brasil. Em seu centenário, devido à grande importância histórica, foi inaugurado um museu ao lado da igreja.

Primeira igreja adventista do Brasil, localizada em Gaspar. Foto: Site oficial da IASD de Gaspar.

No local, há objetos e documentos que contam a trajetória dos adventistas até a formação da primeira igreja. Fotografias, cartas, ferramentas utilizadas na construção e livros em alemão compõem o museu, além de lamparinas, utensílios usados em cerimônias de Santa Ceia e um livro de registro de membros, de 1895, quando a congregação ainda se reunia em casas.

O museu abre para visitação com horário marcado. A agenda pode ser feita através do site da IASD.

Museu histórico ao lado da IASD de Gaspar. Foto: Site oficial da IASD de Gaspar.

Chegada do adventismo no país

De acordo com o Arquivo Histórico Documental Leopoldo Jorge Theodoro Schmalz, em 1879, revistas com os primeiros ensinamentos adventistas chegaram a Santa Catarina, através do porto de Itajaí. As cartas foram enviadas a Brusque, para Carlos Dreefke. A encomenda foi aberta no armazém de Davi Hort, que servia como um comércio para a  colônia.

Dreefke, sem saber o porquê do envio, abriu a correspondência, desconfiado. Abrindo o pacote, encontrou revistas adventistas intituladas como “Stimme der Warheit” ou Voz da Verdade. Ele ficou com uma para si e distribuiu as outras para os amigos. Com o tempo, o interesse das pessoas cresceu, então, passaram a pedir por mais literaturas daquele tipo. Assim, a mensagem adventista começou a ser difundida.

Fundação da igreja

No dia 30 de maio de 1895, o pastor estadunidense Frank Henry Westphal chegou em Santa Catarina, sendo o primeiro-ministro adventista enviado para servir na América do Sul.

De acordo com o Arquivo Histórico, no mesmo ano, aconteceram as primeiras cerimônias de batismo às margens do Itajaí Mirim e nas terras altas do Gaspar Alto, onde as famílias Belz, Olm e Thrun já guardavam o dia de sábado, praticavam e divulgavam a religião.

Guilherme Belz foi o primeiro diácono e bibliotecário da Sociedade de Publicações, sendo responsável por receber e distribuir os materiais adventistas, que vinham dos Estados Unidos. Belz também doou um terreno para a construção da igreja e liderou a congregação Adventista no Gaspar Alto.

Então, em 15 de junho de 1895, dez famílias adventistas de Brusque, convertidas no ano anterior, fundaram a primeira igreja adventista no Brasil, em região que atualmente pertence ao município de Gaspar. A inauguração e organização foi feita pelo pastor Westphal.

Igreja de Gaspar Alto e primeiros membros em 1906. Foto: Site oficial da IASD de Gaspar.

Contribuições adventistas na educação

Em poucos anos, no bairro Gaspar Alto, graças a esses religiosos, além da igreja adventista, a comunidade passou a ter uma escola muito bem equipada para o ensino das ciências, que funcionava em regime de internato.

“Esta comunidade estudiosa e com espírito comunitário, atualmente oferece a Gaspar um excelente museu e local digno do trabalho de seus antepassados. A contribuição da sociedade adventista no Vale do Itajaí, Santa Catarina e Brasil é muito expressiva”, evidência a professora Leda Baptista.

Participação social atualmente

De acordo com o pastor Lauro Crescêncio, as principais ações realizadas pela igreja adventista de Gaspar Alto é a assistência social, a coleta de alimentos e roupas para distribuição na comunidade.

Há também um grupo de jovens responsáveis por ações comunitárias e um clube de crianças e adolescentes que se reúnem semanalmente para a realização de práticas esportivas, estudos da natureza e conhecimentos gerais, além do envolvimento com atividades sociais e filantrópicas.

Quando questionado sobre o número de fiéis, o pastor afirma que o crescimento a cada ano gira em torno de 10%. “Considerando o número de habitantes, o crescimento de Gaspar e a distribuição da população, poderíamos ter um número maior”, diz Lauro.

Igreja evangélica mais antiga de Gaspar

Por volta de 1850, os luteranos chegaram a Gaspar, com o Dr. Blumenau. Alguns anos depois, inauguraram a Igreja Evangélica Luterana de Gaspar na rua Frei Solano, situada no bairro Gasparinho, a qual é a igreja evangélica mais antiga do município.

Igreja Evangélica Luterana de Gaspar. Foto: Portal Município de Turismo Gaspar.

Construção da igreja luterana

De acordo com informações do fascículo intitulado como “1º Centenário da Comunidade Evangélica de Blumenau”, publicado em 1957, tudo começou no ano de 1908, quando o pastor Walter Mummelthey percebeu a necessidade de realizar cultos em Gaspar, afinal, antigamente os fiéis tinham que vir até Blumenau para assistir à celebração dominical.

Na época, havia apenas 24 famílias protestantes na cidade, em meio à população majoritariamente católica. Portanto, quando Mummelthey expressou o desejo por realizar um culto no município, muitos temiam que seria um fracasso.

Porém, em janeiro de 1908, foi realizado o primeiro culto da comunidade evangélica de Gaspar, na casa da viúva Brandes. O evento reuniu cerca de 80 pessoas, e cinco batismos foram realizados. No mesmo ano se iniciou a construção de uma igreja, no terreno atual, o qual foi doado pelo Dr. Blumenau para a Comunidade Evangélica da cidade.

Todos os moradores evangélicos auxiliaram na construção, muitos deles com dias de serviço, ou na condução do material para o local da obra. Em 7 de agosto de 1910, foi inaugurada a igreja, que recebeu o nome de “Igreja de Cristo” e contou com sino doado pela associação Gustavo Adolfo, da Alemanha.

Templo de 1910 da Igreja Evangélica Luterana de Gaspar. Foto: Arquivo Histórico Documental Leopoldo Jorge Theodoro Schmalz.

Também por iniciativa do pastor Mummelthey, foi criada uma escola evangélica em Gaspar, que foi posteriormente tornada pública e atualmente não se encontra mais em atividade.

Em 1953, a primeira igreja foi demolida para dar lugar à construção de uma maior, resultando no templo atual. A inauguração aconteceu em 5 de junho de 1955.

Templo da Igreja Evangélica Luterana de Gaspar em 1955. Foto: Arquivo Histórico Documental Leopoldo Jorge Theodoro Schmalz.

O trabalho dos luteranos

De acordo com a professora Leda, na cidade, os luteranos dedicaram-se especialmente ao comércio e a serviços especializados em madeira, ferro, couro e beneficiamento da produção agrícola, atafonas, queijarias, cervejaria, alambiques, e engenhos.

Com sua bagagem sociocultural, eles também contribuíram com esportes náuticos, jogos de campo, cancha e mesa, bailes e apresentações musicais com bandas e coro na cidade.

De acordo com o pastor da igreja, João Carlos de Souza, apesar de constituírem uma minoria, os luteranos de Gaspar tiveram participação ativa na formação e no desenvolvimento da cidade através do trabalho.

“Na ética luterana, o trabalho não é visto como castigo, nem somente como uma forma de pagar as contas, mas sim como um serviço ao próximo e à Deus. Essa ética foi vivenciada por gerações de diversas famílias que marcaram a história de Gaspar. Muitas empresas que durante décadas geraram emprego e trouxeram desenvolvimento ao município surgiram por iniciativa de luteranos, por exemplo”, explica o pastor.

Além disso, João também afirma que na doutrina luterana, existe um forte incentivo à participação na vida pública.

“Na teologia luterana, entende-se que a Igreja e o poder público devem ser independentes um do outro: à igreja cabe a pregação do evangelho, e ao poder público a promoção do bem comum. Por isso, luteranos sempre foram incentivados a se engajar na vida pública, não para promoverem por meio dela sua religiosidade, mas sim para servirem ao bem comum”, explica o pastor.

Culto na comunidade de Gaspar Alto. Foto: Arquivo Pessoal.

Contribuições atuais

Atualmente, a paróquia possui aproximadamente 700 membros, em suas duas comunidades. De acordo com o pastor, neste ano de 2022, houve alguns cultos com a presença de mais de 70 pessoas e uma participação efetiva em encontros, como grupo de mulheres, estudos bíblicos, coral e confirmandos.

Crianças aprendendo sobre o batismo. Foto: Arquivo Pessoal.

Dentre as ações sociais da paróquia, está o auxílio na distribuição de alimentos e roupas para as famílias que passaram por dificuldades durante a pandemia, e, recentemente, pelos atingidos das inundações causadas pela chuva.

Além disso, a igreja apoia também instituições como o Centro de Recuperação Novo Rumo. Na clínica de reabilitação, atuam no oferecimento de doações e na realização de atividades semanais com os acolhidos.

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